Editorial

Corrida eleitoral faz políticos deixarem de lado o que realmente importa no Brasil

A ambição supera até mesmo a razão, convicções e fidelidades ficam abaixo das conveniências
Corrida eleitoral faz políticos deixarem de lado o que realmente importa no Brasil
Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

O espetáculo exibido na cena política brasileira continua marcado pela baixa qualidade, seja dos protagonistas, seja do próprio enredo. Para quem está no poder ou para os que desejam chegar lá, a preocupação maior os nivela por baixo, fixada exclusivamente no desejo de manter ou conquistar territórios, fazendo assim das corridas eleitorais objetivo único. E daqueles que devem ser alcançados a qualquer custo, pouco ou nada importando meios e modos. Essencialmente, nada muito diferente de desvios que se perderam no tempo, mas agravados e potencializados pela excessiva exposição. Construir alianças nessas condições, imposição de um pluripartidarismo sem nexo, é tarefa que se revela insana, se não longe do alcance entendido como capaz de gerar resultados tão estáveis quanto confiáveis.

Distante também se afigura, dadas as condições apresentadas, o ideal de promoção de um grande e definitivo entendimento, deixadas de lado as ambições para que este espaço possa ser afinal ocupado por algo equivalente àquilo que os cientistas políticos batizaram como “objetivos nacionais permanentes”. Acima de indivíduos, acima de partidos ou de condições meramente voluntariosas. Difícil, sim, mas possível se a arte da política recuperasse alguns de seus fundamentos, identidade e convergência com foco no objetivo maior, simplesmente o bem coletivo integralmente considerado.

Quando em Brasília, a cidade que foi concebida para ser politicamente saudável porque distante dos maus costumes cristalizados no Rio de Janeiro, observa-se a movimentação daqueles que se apresentam como líderes políticos para concluir que a realidade nos impõe algo muitíssimo diferente. Ambição supera até mesmo a razão, convicções e fidelidades não são mais que conveniências, tudo num processo tão intenso que sufoca virtudes que possam ter sobrevivido. Gestão, eficiência, compromisso com resultados ou, antes de tudo, responsabilidade elementar que deveria vir sempre primeiro no espaço público, acabam atropeladas, se não esquecidas e assim postas de lado, secundárias e inúteis.

Com toda a sua crueza, eis a dura realidade por ser enxergada, mas que a maioria silenciosa parece não perceber, desatenta também para a sua gravidade. Porque o triste espetáculo a que todos presenciamos é também, e fatalmente, o principal condicionante do futuro.

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