Decisão sobre fake news de caráter eleitoral é uma vergonha

A política brasileira está enferma e seus males, que perduram faz tempo, foram agravados substancialmente num processo que começou com o uso inadequado do marketing substituindo propósitos e ideias por meras conveniências. Assim, conquistar o eleitor passou a ser um processo não muito diferente da venda de sabonetes, numa investida sustentada pelas pesquisas de opinião que ajudaram a alimentar a conveniência em detrimento da correção. E como se não bastasse, a deterioração em curso foi acelerada pelas novas ferramentas de comunicação de massa com suporte eletrônico, que explicitamente fizeram da mentira, da enganação, o mais valorizado atributo das campanhas eleitorais.

Por óbvio, examinamos a questão na perspectiva do País, do interesse local, mas na essência esse é um processo global e cujos efeitos deletérios podem ser percebidos com extrema facilidade. Resumindo, assistimos, no planeta e nas últimas décadas, nítido processo de involução, comprometendo a política se entendida como expressão de valores que remontam à Grécia no seu período mais exuberante, quando os princípios da vida dita civilizada foram forjados, e com danos consequentes, igualmente perniciosos, à gestão pública. O bastante, claro, para provocar preocupação em escala inédita, tudo entendido como claríssima ameaça aos princípios e valores que balizam, ou deveriam balizar, a vida e o convívio no planeta.

Desse processo, e retornando ao início deste comentário, sobram evidências em nosso País, abalado e dividido em larga medida justamente por conta desse somatório de desvios, despontando em primeiríssimo plano justamente a relativização, ou mais que isso, da verdade ou a comprovação da tese de que uma mentira repetida aos milhões chega a parecer verdade.

Algo medido, sabido e bem conhecido, mas não enfrentado precisamente porque a mentira contém valores que são do mais alto interesse ainda que não exatamente para aqueles que merecem consideração. Outra não pode ser a conclusão diante do anúncio de que o Congresso Nacional acaba de tomar decisão que dificulta a punição para a disseminação de fake news de caráter eleitoral. Para precisos 317 deputados e senadores, simplesmente não existe “crime de comunicação enganosa em massa”.

Vergonha, a mais absoluta vergonha, diante da decisão tomada e horror diante de suas consequências. O risco se encontra numa escala que não há como suportar, para isso sendo bastante observar acontecimentos recentes, diante das inundações no Sul do País e a manipulação de informações a respeito.