Editorial

Déficit público: é preciso tesoura afiada para cortar gastos e atenção a vazamentos para não aumentar o buraco

Simplesmente faltaram, e faltam, bons mecanismos de controle das contas públicas
Déficit público: é preciso tesoura afiada para cortar gastos e atenção a vazamentos para não aumentar o buraco
Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Embora a precisa natureza do completo desarranjo nas contas públicas no País não tenha sido percebida, tanto quanto as implicações desta situação, sobram evidências de que ataque frontal ao problema continua sendo postergado. Ainda que seja elementar o entendimento de que não existe perspectiva de solução duradoura enquanto a torneira das despesas estiver mais aberta que a das receitas, tanto quanto não deva ser aceita como natural a displicência que, como regra, acompanha a gestão desses gastos. Além da tesoura mais afiada para cortar gastos, também recomenda atenção as proporções dos vazamentos que ajudam a cavar mais fundo o buraco do déficit público.

O bolo cresceu exageradamente entre outras razões por conta dos gastos na conta dos benefícios sociais, postos de pé na tentativa de conter desigualdades mais acentuadas, tarefa que produziu resultados, mas igualmente distorções e desvios que não podem ser ignorados. A simples progressão dessas contas, que não guardam proporção com dados tão elementares quanto, por exemplo, o crescimento da população, sugerem desvios. Ou recordam os muitos casos já de conhecimento público em que adequado apadrinhamento político foi critério único para liberação de benefícios.

Simplesmente faltaram, e faltam, bons mecanismos de controle, assim irrigando indevidamente interesses que absolutamente não guardam proximidade com as ações e objetivos pretendidos. Não mais que a mesma displicência percebida naqueles que deveriam ter controlado e contido a farra dos descontos de aposentadorias e pensões no âmbito da previdência social. Um rombo cuja exata dimensão ainda não é conhecida, mas que de uma forma ou de outra será coberto pelo Tesouro. E se não fosse o bastante, chega ao conhecimento público agora, depois de nova ofensiva da Polícia Federal, desvios e fraudes relacionados com o pagamento dos chamados Benefícios de Prestação Continuada (BPC). Mais rombos, novos escândalos para adornar as páginas da imprensa ou reforçar a crença de que a impunidade é o maior convite à repetição de delitos no espaço público.

E se não fosse o bastante para desencadear reações coerentes com a extensão dos danos, ajudando na compreensão também da própria natureza do déficit público e do que poderia ser feito para reduzir suas proporções e gravidade. Eis porque enxergar já será um grande passo à frente.

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