Articuladores fora da cena: é preciso dar lugar aos verdadeiros responsáveis pela tentativa de golpe

Correm em Brasília especulações sobre possível mudança de conduta com relação ao encaminhamento – e julgamento em instância final – dos processos que dizem respeito aos acontecimentos do dia 8 de janeiro de 2023, espécie de epílogo das articulações que pretendiam impedir que a sucessão presidencial prosseguisse conforme os ritos legais. Embora ainda exista quem aponte na direção contrária, nada houve de inocente naqueles fatos, que assim assumiram proporções e gravidade que não há como deixar de perceber. A pretendida anistia não seria mais que convite explícito e sobrevida para aqueles que ainda acreditam que aventuras militares, convencimento à custa de tanques de guerra, possam ser tomados como argumentos aceitáveis diante de eventuais frustrações no campo da política.
Nos acampamentos na frente de quartéis do Exército, em que o convite a mais um golpe militar tentou tomar ares inclusive de movimento que encontraria abrigo na Constituição, ensaiou-se a desordem que, antecedida por atentados mal sucedidos, culminou precisamente com a invasão das sedes dos Três Poderes. Imaginava-se que a balbúrdia assim instalada poderia soar como grave ameaça e se transformar em convite irrecusável para a intervenção, ruptura constitucional e um novo ciclo de trevas. Não seria, absolutamente, não se houvesse conivência dos chefes militares, um golpe sem armas e sem canhões. Eis porque não dá para passar o pano, fazer de conta que não aconteceu nada ou acreditar que de fato os invasores estavam apenas procurando abrigo para suas práticas religiosas.
Não estamos diante de versões convenientes, enviesadas, e sim de fatos muitíssimo bem documentados e comprovados, em que os próprios transgressores produziram provas irrefutáveis além de fartas. Ainda assim, pode existir espaço para reflexão e alguma acomodação. No entendimento cabível de que os arruaceiros que estiveram à frente do quebra-quebra em Brasília, saídos dos acampamentos e das portas de quartéis onde, ressalte-se, encontraram cobertura e apoio, foram sim e em larga medida não mais que massa de manobra, inocentes úteis contaminados e explorados.
Assim, observado, como alguns gostam de dizer, o devido processo legal, caberá a consideração de atenuantes que abrandem suas penas exatamente como se cogita. Mas tudo isso tão somente para reforçar a culpabilidade dos verdadeiros responsáveis pela tentativa de golpe, os articuladores que estavam fora da cena e devem agora responder plena e cabalmente por tudo que fizeram. Ou não mais que uma reação apenas proporcional.
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