Editorial

Eleições municipais e a pauta de costumes: mudar o indivíduo e suas opções e escolhas ou mudar o mundo?

Tirar o foco da realidade ou daquilo que mais interessa não é novidade para quem está disposto a confundir e enganar o eleitor
Eleições municipais e a pauta de costumes: mudar o indivíduo e suas opções e escolhas ou mudar o mundo?
Crédito: Reprodução Adobe Stock

A parcela da extrema direita que se aninha no bolsonarismo aparentemente vai aos poucos absorvendo os golpes sofridos, ao mesmo tempo em que busca novos rumos. Observadores atentos dão conta desses movimentos e antecipam que o, digamos, reagrupamento, tendo em vista as eleições desse ano, será em torno da pauta de costumes. Vale dizer, instrumentalizando as igrejas evangélicas pentecostais ou pelo menos aquelas que rezam pela mesma cartilha. Nada disso é fruto do acaso ou de escolhas que tenham fundamentação legítima, sendo antes uma tática explícita destinada a desviar o foco daquilo que verdadeiramente mais importa.

Questões como o aborto ou a sexualidade são relevantes por óbvio, nunca, porém, deveriam ser o centro das atenções, como se nada de mais importante houvesse. Sobre o aborto, dizem que um feto, independentemente de seu estágio de formação, é uma vida e, como tal sagrada, devendo ser preservada em qualquer circunstância. Em tese uma verdade, embora não tão forte quanto a realidade de milhares de indivíduos que padecem ou falecem porque não têm acesso a alimentos. E não tem porque a ordem socioeconômica ser perversamente desequilibrada e injusta. Não caberia indagar no que pensar primeiro? Mudar o indivíduo e suas opções e escolhas ou mudar o mundo?

São indagações um tanto inconvenientes e, por isso mesmo, postas de lado. Afinal, o que deveria vir primeiro? Evitar esta pergunta crucial propondo outras questões e fazendo-as supostamente centrais seria algo como que uma tática maquiavélica que não tem nada de espontâneo ou verdadeiro, mas que ainda assim vai tomando conta de parte do planeta e não por coincidência na mesma medida em que grupos direitistas, alguns deles assumidamente fascistas, ampliam seus espaços. Confundir e enganar, tirar o foco da realidade ou daquilo que mais interessa não chega a ser novidade para essa gente e cada um dos precedentes existentes são tão conhecidos quanto aterrorizantes.

Alguém minimamente consciente poderia aceitar que o debate proposto, motivo aparente de tanta indignação e inconformismo, seria mais relevante e oportuno que discussões em torno de gastos militares que somaram US$ 2 trilhões no ano passado? Esse valor se melhor destinado bastaria para erradicar a miséria no planeta, mas não parece que o assunto tenha a importância de vida.
Eis a realidade, muito mais que valores individuais, que faz a tal pauta de costumes absolutamente irrelevante. Ou falsa e mentirosa.

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