Editorial

Enterro da farsa

Enterro da farsa
Crédito: Reprodução

Em política existem simpatias e antipatias, opções portanto que estão na essência do processo, sendo bens maiores da própria democracia, esta a escolha para a qual não existem opções aceitáveis. Existem igualmente limites que não podem ser ultrapassados ou tudo aquilo que fira ou possa ferir o estado democrático de direito. São verdades absolutas e a ninguém é reservado o direito de delas se afastar sem que esteja incurso em delito da maior gravidade, sujeito, portanto, às consequências que a Constituição aponta.

No dia 5 de julho de 2022 aconteceu, no Palácio do Planalto em Brasília, reunião sob comando do então presidente da República, presente o mais alto escalão do Executivo, em que tais limites foram claramente ultrapassados. E não podem existir dúvidas a respeito. A reunião foi gravada e seu conteúdo é de conhecimento tornado público. Discutiu-se, clara e objetivamente, uma tentativa de golpe de Estado, o que seria “virar a mesa” já que todos tinham como certo que o resultado da eleição de outubro não lhes seria favorável. Também foi dito que não existiam provas de que o sistema eleitoral, de votação, seria frágil e sujeito a fraudes ou manipulações. Mesmo assim, o próprio presidente da República sugeriu – na verdade determinou – aos presentes que procurassem por todos os meios desacreditar o sistema, com o que esperava criar clima de adesão ao golpe.

Felizmente a ideia não prosperou, mas seu líder não parece desanimar, tanto que convocou para este domingo em São Paulo manifestação em defesa “do Estado de direito e da democracia”. Alguns poucos fanáticos, desprovidos da capacidade de avaliação e julgamento, poderão até aderir. Não há como admitir, contudo, que quem tenha informação e capacidade de avaliação faça o mesmo porque não está em questão simpatias ou antipatias. Por elementar, caberia apenas indagar, isto sim, se mesmo depois da reunião de julho de 2022 o ex-capitão Jair Bolsonaro continuaria tendo credenciais mínimas para falar de estado de direito e democracia. A menos, é claro, que seja um ato de expiação, de confissão e penitência.

O ex-presidente, que teima em se apresentar como vítima ou perseguido, durante todo o seu mandato claramente trabalhou na construção de um golpe e disso já deixava incontáveis indícios mesmo antes de chegar ao Planalto. Mas nem mesmo as mentes mais férteis poderiam imaginar que ele próprio se encarregaria de produzir as provas que agora o condenam, sendo a mais forte de todas justamente a aqui mencionada reunião. A farsa, se é que possa ser chamada de farsa, ruiu, desmanchou e outra não pode ser a conclusão de quem estiver do lado da razão, para além e acima da política.

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