Editorial

A evidente disfuncionalidade do sistema político brasileiro deixa um vazio a preencher

O País ainda carece de uma ampla reforma política
A evidente disfuncionalidade do sistema político brasileiro deixa um vazio a preencher
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

O fim do regime militar instalado em 1964 no país, consequência em primeiro lugar de seu próprio desgaste, resultou na ideia de “abertura lenta e gradual” e culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, então governador de Minas Gerais. Difícil deixar de perceber, numa avaliação objetiva, que tudo não passou de um arranjo de conveniência e de acomodação que talvez encontre seus melhores símbolos na anistia “ampla e irrestrita” e, adiante, na promulgação da Constituição de 1988. E, neste processo, faltaram espaço e disposição para, efetivamente, passar a limpo os acontecimentos e principais personagens de 1964, num processo de depuração que deveria ter sido tomado como pré-requisito para a redemocratização e consolidação de todo o processo.

O que deixou de acontecer certamente impôs à nação brasileira um alto custo, mantido, no cenário político, a prevalência da conveniência sobre valores menos etéreos. E, assim, prosseguimos nas décadas seguintes, entre altos e baixos, remendos também da mais pura conveniência, enquanto a tarefa mais consistente de ampla reforma política, necessidade já identificada quando da redação da nova Constituição, foi sendo adiada, sempre por conta da mais rasteira conveniência, situação que prevalece e ajuda a explicar, que permite entender, o tamanho do vazio político em que o país foi mergulhado. E, assim, caminhamos, a rigor sem avançar, apenas dando voltas em torno de um mesmo ponto.

São observações que ocorrem a propósito da movimentação em Brasília, agora levando ao palco partidos políticos que promovem arranjos para fusão, incorporação ou o que mais for como forma de contornar as cláusulas de barreira que entrarão em vigor no próximo ano, implicando no corte de pelo menos 11 das trinta e poucas siglas que representam o distorcido pluripartidarismo brasileiro. Ou outro fruto podre da “abertura” política, com muito espaço para conveniência e quase nenhum para valores que andam mesmo um tanto esquecidos.

Prevalece o sentido da acomodação, se não da mais rasteira esperteza, deixando perceber que a única preocupação continua sendo manter espaços conquistados, numa corrida em que igualmente transparecem apenas ambições e não os princípios e valores que na política deveriam estar sempre em primeiro plano. O resto, todo o resto, é consequência, cabendo somente esperar que as muitas evidências de que o sistema político brasileiro padece de evidente disfuncionalidade, seja colocada em primeiro plano a urgência de uma reforma que definitivamente não poderá ser de acomodação.

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