Fome é resultado de decisões políticas equivocadas

A concentração da renda, principal fator para as desigualdades globais e evidência de um sistema econômico que, mais que desigual, tornou-se disfuncional, tem na desnutrição um de seus aspectos mais dolorosos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito indicam que, considerados os números de 2023, pelo menos 733 milhões de pessoas, ou pouco mais que 9% da população do planeta, não têm acesso à dieta energética mínima suficiente para uma vida saudável. Algo ainda mais grave diante da informação de que em apenas 3 anos 152 milhões de indivíduos entraram no rol dos famintos em todo o mundo.
A mesma coleção de dados indica que no Brasil, entre 2021 e 2023, 8,4 milhões de indivíduos, ou 3,9% da população, não tiveram acesso à ração mínima diária definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como essencial à sobrevivência em condições adequadas. Nos 2 anos anteriores eram 9 milhões, ou 4,2% da população, os brasileiros famintos. Já situação definida como de “desnutrição grave” alcançava 14,3 milhões de brasileiros, ou 6,6% da população, contra 18,3 milhões (8,5%) entre 2020 e 2022. Do incremento dos programas assistenciais vem a explicação para a melhoria que, entretanto, não bastou para retirar o País do Mapa da Fome definido pela ONU e que abrange países onde mais de 2,5% da população está em condição de subnutrição.
Todos estes dados foram apresentados e discutidos em recente reunião preparatória para o encontro dos 20 países mais ricos do planeta a ser realizado em novembro no Rio de Janeiro. Como anfitrião e na condição de ocupante da presidência rotativa do G20, o Brasil deve aproveitar a ocasião para reforçar a Aliança Global contra a Fome, questão que não pode ser entendida como natural ou mesmo econômica, sendo antes de tudo fruto de decisões políticas equivocadas. Não é também um problema de escassez e sim de distribuição e acesso inadequados conforme indicam estudos já conhecidos.
Nessa direção, cabe recordar também levantamentos indicando apenas a recuperação de alimentos desperdiçados nos processos de colheita, armazenamento, transporte e elaboração final bastaria para assegurar alimentos para todos em todo o planeta. No Brasil, políticas com esse foco, como o aproveitamento de alimentos in natura considerados impróprios para o comércio, mas não para o consumo, prosseguem engavetados, o mesmo acontecendo com possível utilização de alimentos processados em restaurantes, mas não consumidos e compulsoriamente jogados no lixo.
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