Gestão pública no Brasil padece de deformações transformadas em rotina

A gestão pública no País padece de erros e distorções que foram se acumulando ao longo do tempo, afastando a política daquilo que lhe cabe de mais elementar, o bem comum. São deformações transformadas em rotina, tidas como expedientes aceitáveis, próprias do contexto ou, talvez, inerentes aos jogos do poder, não raro explicitadas com naturalidade que igualmente assusta. O que dizer, por exemplo, dos políticos que mercadejam cargos ou recursos, fazendo-o com a naturalidade que não caberia nem menos a delinquentes? São, certamente, maus hábitos que vêm de longe, mas diante dos quais é fundamental que a sociedade não se curve.
Mais recentemente, o assunto, que se confunde com corrupção, mas deve ser percebido como algo bem mais amplo, ganhou o primeiro plano nas discussões e nas manchetes da imprensa, sugerindo mudança de atitude. Bons princípios e, com eles, mudanças pareciam estar no horizonte, o que logo se revelou mais um grande engano. Como já foi dito neste espaço, não eram virtudes e sim ambições que estavam em cena, na condução de todo o processo. Assim, como entender como natural que o Executivo deva, necessariamente, construir sua estabilidade à custa de concessões ao Legislativo que nada, absolutamente nada, tem a ver com bons princípios ou com gestão minimamente assertiva? Não pode ser natural, tampouco aceitável, que tudo se passe, e escancaradamente, distante de qualquer consideração sobre valores éticos, permanecendo o poder, o mando e seus benefícios, como única causa, ponto de interesse exclusivo e explicitado em todos os movimentos. E sem que ninguém se ocupe de indagar o que, exatamente, seria melhor e mais conveniente para o Brasil.
São preocupações que nos ocorrem a propósito de acontecimentos recentes, envolvendo o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, que elevou as tensões em Brasília, contrariado com a demissão de um de seus muitos apadrinhados. Abertamente, e sem qualquer rubor perceptível, tomou o assunto como ofensa pessoal, ameaçando com retaliações que antes de atingir o chefe do Executivo de uma forma ou de outra atingem a todos os brasileiros. Ao mesmo tempo, e em movimento ensaiado, buscou se aproximar do Supremo Tribunal Federal (STF), reafirmando os movimentos nada ortodoxos que se dão nos bastidores dos três poderes.
Como está dito acima, o que mais espanta é que em nenhum momento alguém se lembre de perguntar o que, afinal, mais convém ao Brasil.
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