O custo do imediatismo: mandatos políticos se tornaram barganha para as eleições

As deformações sofridas pela política no País, dentre elas o imediatismo, vêm produzindo efeitos nefastos, deixando no ar a impressão, ou bem mais que isso, de que o senso de direção está perdido. Melhor, mira exclusivamente as eleições, fazendo com que campanhas comecem, de fato, antes mesmo dos próprios mandatos, subvertendo por completo os mais elementares conceitos de gestão e planejamento. O futuro se esgota na perspectiva de mais um mandato e o que deveria ser o resultado previsível do bom desempenho e consequente reconhecimento e aprovação, acaba sendo produto apenas de barganhas que não parecem ter fim ou limite.
Sem rumo ou desviado do desejável e do necessário, o País patina. Ou pode estar afundando, conforme sugere, por exemplo, a continuada deterioração das contas públicas, numa situação de desequilíbrio que está longe do fim. E nada que deva ser confundido com mera falta de sustentação política ou preferências de sabor ideológico. Porque o verdadeiro problema na realidade é sistêmico, independendo da banda que eventualmente detenha o poder. E nada que se resuma, como alguns podem até acreditar, na incapacidade de se construir base de sustentação centrada em convicções e propostas, não mais exclusivamente em interesses permanentemente mutáveis.
São reflexões que nos ocorrem e vão bem além de circunstâncias como a mais recente derrota do atual governo no ambiente parlamentar. É preciso ir além das aparências e dos raciocínios mais simples para chegar ao entendimento de que o desequilíbrio nas contas públicas não é circunstancial e não será apagado com meros ajustes, tampouco com nova corrida aos bolsos dos contribuintes. O imediatismo anulou o planejamento, eis a questão a ser compreendida antes da conclusão de que tudo o mais é consequência e está no plano do previsível.
Continuar tentando meramente tapar buracos não será muito diferente da tarefa de alguém que imagina ser possível enxugar gelo. As contas não fecharão porque prosseguirão fora de controle e assim será enquanto persistir a ingênua convicção de que tudo se resume a chegar ao dia das eleições com, digamos, boa aparência e culpas que possam continuar sendo terceirizadas ao sabor do movimento pendular da política e do poder. Precisamente para que até mesmo mudanças aparentes garantam que tudo continuará como está.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Pode ser o mais conveniente para alguns poucos, mas certamente não será nada convergente com as verdadeiras demandas do Brasil e dos brasileiros, pelo menos daqueles de fato empenhados em melhorar e avançar, em reencontrar os rumos que foram perdidos ou nos foram roubados.
Ouça a rádio de Minas