Editorial

Em uma política rasteira, Carla Zambelli parece esquecer sua condição de foragida

Parlamentar estaria promovendo manobras que apenas desnudam o que existe de pior na cena política brasileira
Em uma política rasteira, Carla Zambelli parece esquecer sua condição de foragida
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A deputada federal Carla Zambelli, condenada e foragida na Itália, teria planos para manter-se à tona na política, mesmo na hipótese muito provável de que venha a perder o mandato e ter confirmada sua inelegibilidade. Para isso, e conforme rumores que circulam nos meios políticos de São Paulo, pretenderia apresentar o nome de sua mãe para concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados, trabalhar para reeleger um irmão como deputado estadual e levar o filho a disputar vaga de vereador na capital paulista. São manobras que apenas desnudam o que existe de pior na cena política brasileira, independentemente do fato de a deputada ter ou não cacife para bancar suas apostas.

Reflexões a respeito, e num sentido bem mais amplo, seriam de extrema oportunidade principalmente porque existiriam outros nomes pretendendo trilhar o mesmo caminho. Nada de novo, nada que não venha sendo feito desde sempre, ajudando a consagrar dinastias de maior ou menor qualidade que chegam ate à terceira ou quarta gerações, ocupando espaços cativos na política. Nome e sobrenome se revelam mais importantes que atributos pessoais, ainda que carreguem, como no caso apontado neste comentário, marcas que não deveriam ser despercebidas. E assim contribuindo para o processo de, digamos, desnutrição, hoje tão forte no espaço político em nosso País.

A proximidade de eleições, como no momento, apenas evidencia a falta de espaços legítimos, de efetiva realização da atividade política tal como deveria ser, até mesmo de quadros para ocupar o espaço que hoje se confunde com um grande vácuo. O oportunismo da controvertida parlamentar, e tanto quanto outras manobras na mesma direção e com igual estofo, definitivamente não deveria ser colocado no plano da normalidade ou mesmo de procedimentos políticos minimamente legitimados, assim aceitos sem maiores considerações.

É preciso reagir, é preciso cobrar mudanças que caminhem para além das aparências e se afastem definitivamente das conveniências. É preciso recordar e entender que a cena política atual foi desenhada no plano das conveniências, dos interesses menores e das ambições desmentidas. Precisamente os mesmos fatores que fizeram adormecer projetos e aspirações de reformas políticas verdadeiramente fundadas no interesse coletivo, na possibilidade de transformações que não devem caducar. Eis precisamente o que nos demonstra a mera possibilidade considerada pela parlamentar que parece esquecer até mesmo sua condição de foragida.

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