Editorial

Pontos a esclarecer

A CPI do INSS surgiu apenas para fazer barulho, mas pode produzir resultados inesperados
Pontos a esclarecer
Foto: Lula Marques / Agência Brasil

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputados, com alegado objetivo de apurar a precisa natureza dos desvios que possibilitaram descontos em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS para alimentar sindicatos e associações de suposta representação da categoria, pode, afinal, lançar alguma luz sobre procedimentos no mínimo um tanto inusitados. Repetindo roteiro tão conhecido quanto desacreditado, a tal CPI surgiu apenas para fazer barulho e assim incomodar a situação, mas poderá, afinal, produzir resultados inesperados. Além de indesejados para muitos políticos que consideram perfeitamente natural e aceitável – e em nome da privacidade! – a imposição de 100 anos de sigilo sobre encontros de senadores e, tudo indica, outras personalidades, com o tal “careca do INSS”, Antônio Carlos Camilo Antunes, preso desde a semana passada e aparente facilitador dos desvios agora conhecidos.

Para quem está bem familiarizado com hábitos e costumes próprios do ambiente político em Brasília, toda a movimentação verificada desde que as denúncias de desvios vieram a público não passa de espuma. E oportunidade para mais um tiroteio entre situação e oposição, troca de acusações e ofensas que, banalizadas, já não produzem efeitos relevantes. Bem ao contrário, podem ao fim e ao cabo ajudar a desviar atenções daquilo que realmente interessa e importa: primeiro, como explicar a existência de sindicatos e associações de fachada, sem nenhum vínculo real com aposentados e pensionistas. Segundo, como explicar a facilidade com que as fraudes foram consumadas, prosseguindo mesmo depois de denunciadas e tudo em volume e velocidade que jamais poderiam passar despercebidos. Terceiro, quais foram afinal os verdadeiros patrocinadores de toda essa inacreditável farra.

Seguir este roteiro, traçar o caminho reto e objetivo de tudo que aconteceu ao longo de anos e sem que tivesse havido preocupação real sequer em apagar as digitais dos autores de múltiplos delitos, pode ser o resultado que não interessa. Fosse diferente e com certeza ninguém estaria discutindo a sério o sigilo sobre a movimentação do tal “Careca”, já apontado como figura central nos acontecimentos, acusado desde o primeiro momento pela Polícia Federal e preso, só agora diante de alegada possibilidade de fuga para o exterior. Parece certo que ele se movimentava com liberdade em gabinetes oficiais e sem qualquer preocupação quanto às preferências ou inclinações políticas de seus ocupantes.

Fato é que a verdade pode estar bem mais perto do que se imagina, restando esclarecer apenas se realmente existe vontade sincera de trazê-la à luz, independentemente das consequências para uns e outros.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas