Por que Lula deveria seguir as lições de Juscelino Kubitschek e voltar a ser “o cara” de Barack Obama

Quando candidato em 1954 o presidente Juscelino Kubitschek ouviu de um de seus principais e mais aguerridos opositores, Carlos Lacerda, que não deveria se candidatar, se candidato não deveria ser eleito e se eleito não deveria tomar posse. O conceito elástico e conveniente de liberdade e democracia, dos quais Lacerda se dizia paladino, permitia tais arroubos. Certo é que JK foi eleito para se transformar, para a maioria dos brasileiros, no maior de todos os políticos, motivo mais que suficiente para sua cassação em 1964. Perseguido e exilado, o político diamantinense sofreu muito e, adiante, com a ditadura sem mais disfarces, participou de articulações com o próprio Lacerda e com João Goulart para criar uma “frente ampla” e enfrentar o regime militar.
Questionado, em especial com relação à aproximação com Lacerda, JK respondia que na política não há espaço para ressentimentos ou mágoas e sim para visão sempre mais ampla. Da frente ampla restaram dúvidas consistentes sobre as mortes, com intervalo de poucos meses, dos seus três líderes, assim como lições que prosseguem bastante atuais. Especialmente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem dizem estar preocupado com os níveis de aceitação e popularidade revelados pelas pesquisas de opinião. Disposto também a mudar, dizem, em movimentos bem afinados e alguns deles até surpreendentes.
Lula, que iniciou seu terceiro mandato prometendo trabalhar pela reconciliação dos brasileiros, bem poderia recolher de JK preciosos ensinamentos. Para esquecer mágoas e até mesmo questões pessoais e dessa forma se colocar naquele que seria o seu devido lugar. Sem aceitar provocações, sem medir seus passos pelo olhar da plateia, menos ainda pela pressão de adversários e mirar, exclusivamente, o cumprimento de sua promessa e o propósito de devolver ao Brasil a possibilidade de sonhar com o futuro.
Se jogar fora a armadura do ressentimento, que dizem estar muito presente nos seus sentimentos, consequentemente, Lula terá feito bem mais que escutar o bom conselho de JK. Terá criado objetivamente condições para recuperar o seu espaço, para voltar a ser aquele que um dia o então presidente Barack Obama disse ser “o cara”. E assim entender também que não precisa e não deve cometer tolices como reservar à sua esposa espaços na cena política e na gestão pública que definitivamente não lhe pertencem e só fazem gerar antipatias.
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