Receita para não dar certo

Não nos parece que seja necessário muito esforço para que qualquer observador atento conclua que o sistema político brasileiro padece de graves disfunções que se reproduzem independentemente de quem ocupe a cadeira principal no governo. Seria este o resultado previsível de uma sucessão de arranjos que foram sendo feitos ao longo do tempo e mais marcantemente a partir da redemocratização. A transição pacífica e indolor, ela própria, se transformou num desses arranjos, bastando para impedir a tão necessária correção de rumos. No lugar disso, e já na redação da nova Constituição, tentou-se acomodar tudo e todos num mesmo balaio, disso resultando entre outras anomalias um pluripartidarismo de conveniência, em que apoios e ou convicções são mercadorias à disposição de quem aceite pagar por elas. Ou, o que tem sido mais comum, não tem outra opção.
Tem sido assim ao longo dos tempos e não é diferente agora. Construir a tal “base”, por ironia sempre instável e precária, significa construir fidelidades que tem preço conhecido e explícito, a começar da distribuição de cargos, especialmente daqueles cujos orçamentos traduzem melhores oportunidades.
Nada, rigorosamente nada, que traduza competência ou comprometimento com o interesse público, sequer com um projeto de governo que possa ser assim entendido. E a preferência por “porteiras fechadas” continua de pé, sem que os beneficiários desse sistema sequer fiquem enrubescidos. Tudo com uma naturalidade com a qual não se pode acostumar ou aceitar. Falar em comprometimento, em eficiência, nessas circunstâncias igualmente soa falso ou um tanto contraditório.
São ponderações que nos ocorrem a propósito de informações que chegam da Polícia Federal dando conta de investigações envolvendo o titular da pasta das Comunicações, Juscelino Filho. Para resumir e não ser repetitivo parece ser suficiente informar que a PF define como “relação criminosa” a ligação do ministro com um empresário maranhense. Sobre o assunto, em Brasília, silêncio absoluto como se nada de anormal ou diferente estivesse acontecendo. Muito diferente do que aconteceu recentemente com o primeiro-ministro português ou, antes, no Brasil, com atitude do então presidente Itamar Franco, que demitiu seu mais próximo amigo e o todo-poderoso ministro da Fazenda. Diante de acusações bem menos graves.
Cabe registrar os fatos, assim como as inevitáveis comparações. Não exatamente pela crença de que a exposição possa provocar mudança, mas pelo menos para contribuir na melhor compreensão da realidade.
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