Editorial

Reflexões necessárias

Reflexões necessárias
Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil

As manifestações de domingo em São Paulo não foram tão impactantes como tentam fazer crer bolsonaristas nem tão desimportantes quanto imaginam seus opositores. Como de costume e próprio dessas ocasiões, os números mais confundem que esclarecem, variando conforme o olhar de cada um. E não importa contar, porque também já se sabe que nessas ocasiões a realidade parece ser o menos importante. Não foi um fiasco, por certo, porém nem de longe algo que autorizasse o protagonista do evento a reclamar anistia, com um mínimo de autoridade para quem participou, planejou ou financiou os tristes acontecimentos de 8 de janeiro do ano passado, baderna que não tem desculpa e muito menos perdão. Deixar as coisas nos seus devidos lugares também significa reconhecer que o bolsonarismo e suas extravagâncias, que não chega a ser nem mesmo expressão de uma direita íntegra, continua bem vivo ainda que coloque no mesmo saco bandeiras de Israel e discursos de bispos de padrões um tanto duvidosos, além de bem distantes do próprio cristianismo.

Um bom resumo das manifestações de domingo estaria limitado à afirmação de que foi mais do mesmo.

Caberia assim indagar como, a um só tempo, revestir de mínima credibilidade a suposta defesa de liberdade e democracia, conforme visto e ouvido em variados tons, e o conteúdo da reunião ministerial de meados do ano passado, por inteiro documentado, e onde foi defendido exatamente o oposto. Nada estranha que os autores da façanha, especialmente seu líder, disso se ocupem mesmo que tenham sido eles próprios pilhados em flagrante pelas provas que contra si produziram. Está claro e disso não restam duvidas que sustentem, como também foi dito domingo, que tudo não passaria de perseguição e, sim, negação da liberdade. Espanta que ainda sejam ouvidos, que ainda exista quem com eles concorde, fazendo-o porque dizem ter apreço à democracia que definitivamente não combina com a proposta “virada de mesa” que aconteceu e sobre a qual não podem existir dúvidas.

São estes os fatos tal como se apresentam objetivamente, por si mesmos um tanto preocupantes. Uma realidade paralela que não pode vir à luz do dia, tanto quanto não deve ser alimentada, fazendo prosperar divisões que impedem o País de confrontar seus verdadeiros problemas e o desafio das transformações que signifiquem alcançar melhores chances de construção de uma nação próspera e socialmente equilibrada, em que todos possam viver melhor, com plena garantia de direitos e efetivo conhecimento de deveres.Valores legítimos, básicos, que por isso mesmo devem permanecer distantes do oportunismo.

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