Editorial

Sem tempo para errar

Sem tempo para errar
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Do muito que já foi dito sobre a situação das contas públicas no País merece registro e reflexão a afirmação de que o Estado brasileiro, sequestrado, não cabe mais no Tesouro Nacional. Verdade elementar que políticos e burocratas em Brasília continuam fingindo ignorar, enquanto uns anunciam que o déficit será zerado muito brevemente e outros enxergam futuros e também próximos superávits.

Excesso de otimismo, sem lugar a dúvida, nos dois casos, pelo menos enquanto o entendimento de que é preciso e urgente cortar despesas, gastar menos e gastar melhor, conforme está dito em comentário publicado neste mesmo espaço.

Pensar no assunto, lembrar tudo que já foi dito a respeito e, sobretudo, afirmações de que o País só poderá conhecer um futuro realmente melhor quando e se as mudanças necessárias forem embaladas pela reforma política e completadas pela reforma do Estado, que precisa ser desmontado e reconstruído, nos ajuda pelo menos a compreender a realidade. Ou quando estamos distantes do ideal. Também absolutamente surpresos quando ouvimos, na semana que terminou, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, defender o que chamou de “reorganização das despesas públicas”, adiantando que o tema vem “amadurecendo” no Legislativo.

Lira, que imaginamos não ser necessário apresentar aos leitores, disse que a reforma administrativa é um tema que vem amadurecendo ao longo dos dias, “com convencimentos e aglutinação de esforços”.

Lembrou também que a concretização daquilo que tem como urgente depende de mais debates para que tome a forma de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que só pode ser aprovada em regime de quórum especial, com pelo menos 308 votos favoráveis em dois turnos. E concluiu: “Nós não temos mais espaço orçamentário para que o Estado banque dificuldades”. Caberia indagar se, nesse rasgo de realismo combinado com sinceridade, o presidente da Câmara compreender que fazer o necessário significa, por exemplo, dar fim à gastança que permeia o serviço público e da qual ele pode encontrar múltiplos exemplos na própria Câmara dos Deputados. Com toda certeza, na discrição de seus próprios proventos ou na cascata consequente cujas águas ele também ajuda a alimentar.

Certo é que não existem mais espaços para manobras, sequer para a ilusão de que tudo pode se acertar com aumento de receitas. Restará então, para Lira e todos nós brasileiros, o entendimento de que ou mudamos a direção ou caímos num buraco sem fundo.

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