O sonho de uma reforma política no Brasil continua sendo adiado

Na perspectiva da História, de fatos concretos e objetivos, a redemocratização do País em 1985 aconteceu por conta do esgotamento da ditadura que desembocou num processo de acomodação ou arranjos de conveniência. Caberia, no sentido de buscar algo como que um retrato da época, ainda que num colorido intencionalmente mais forte, afirmar que foi aplicada a teoria segundo a qual não raro é preciso mudar para deixar tudo como está. De que outra forma, afinal, explicar aos mais jovens que o primeiro presidente da então chamada “Nova República” ocupara o topo da liderança política no regime anterior?
E tudo isso vendido sob o manto da ideia de que seria melhor evitar traumas, que a transição afinal fora concebida para ser lenta e gradual, conforme estabelecido pelo general-presidente que desencadeou o processo. Compreender a realidade por certo ajuda na melhor compreensão do que veio depois, assim como no entendimento do que se passa na atualidade. Ou do grande vácuo que parece ter tomado conta da vida política brasileira, tudo agravado porque também foi deixado de lado o entendimento de que a nova Constituição, promulgada em 1988, seria apenas o ponto de partida, referência para reformas que, adiante, consolidariam todo o processo, consagrando mudanças que nunca aconteceram.
E assim foi simplesmente porque o jogo de conveniências, de interesses menores e individuais, acabou prevalecendo, foi mais forte, obstando assim a reforma política que um dia foi apontada como a “mãe de todas as reformas”. Ficou o vácuo, o grande vazio de lideranças verdadeiras, de conhecedores dos problemas do País, assim capazes de propor caminhos e soluções. Sobrou a política rasteira, de gente vazia ou, ainda pior, guiada exclusivamente pela sua própria ambição.
É neste ambiente que partidos políticos e suas lideranças ensaiam movimentos – e mais uma vez sem qualquer pudor – visando atrair e cooptar o que chamam de “puxadores de votos”. Estrelas de maior ou menor brilho, vindas do mundo artístico, dos esportes ou, agora, do mundo da internet. Donos de fama e atratividade, quase sempre “políticos” de uma única safra, assim renovados a cada nova eleição. Muito convenientes, mas, no que interessa, ou no que deveria interessar, de todo irrelevantes, se não precisamente para alimentar o vácuo citado algumas linhas acima. Para deixar pior o que já não está nada bom, para nos fazer entender que o sonho do entendimento que serviria de base para a concepção e execução de um projeto para o Brasil prossegue sendo adiado.
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