As trapalhadas de Jair Bolsonaro

Definitivamente a capacidade do capitão reformado Jair Messias Bolsonaro de produzir trapalhadas não conhece limites e igualmente não faz jus aos reconhecidos méritos da Academia Militar das Agulhas Negras, onde figura como ex-aluno. Uma trajetória de décadas que passa pelo seu afastamento do Exército e uma reforma precoce, seguindo-se longa, mas inexpressiva passagem pelo Legislativo, onde foi sempre integrante assumido do chamado “baixo clero”. Mas os astros afinal conspiraram a seu favor, numa de toda improvável eleição para a Presidência da República. O ponto mais alto que bem pode ter sido também seu ponto mais baixo.
Não temos espaço e nem a pretensão de reescrever sua biografia, mas, sim, assinalar a passagem mais recente, duas noites ao abrigo da Embaixada da Hungria, em Brasília. Mais um desastre, ou trapalhada, que pode antecipar o desfecho que ele tanto parece temer. Em dezembro de 2021 e para não transmitir o cargo, viajou para os Estados Unidos em condições nebulosas depois de permanecer os dois meses anteriores exilado no Palácio da Alvorada. Há quem entenda que saiu para não estar presente ou ser transformado em alvo na hora do golpe que terminou, felizmente, em mais uma enorme trapalhada. Mais recentemente, com seu passaporte recolhido, passou duas noites na Embaixada da Hungria. Na sua versão apenas inusitada e fora do cardápio diplomático gentileza do dono da casa, de quem se diz amigo e, pior, alinhado politicamente. Para quem não sabe, o atual governo húngaro tem destaque na extrema direita europeia e é tido como assumidamente neonazista.
São bem mais que coincidências incômodas. Figura central em investigações em andamento na Polícia Federal, o mais recente deslize do capitão e ex-presidente pode custar-lhe muito caro. Com os indícios já recolhidos em seu desfavor e com a íntegra, em vídeo, da reunião ministerial em que a possibilidade de um golpe foi abertamente discutida, Bolsonaro tem contra si a verdade. Não é um perseguido, não é um político que possa reclamar, como fez, o benefício do indulto. Bem ao contrário, e conforme juristas renomados já pontuaram, tornou-se fortíssimo candidato à prisão cautelar por conta de sua manifesta intenção de fuga. Ou será que ele, inocente e vítima, teria mesmo tanto a conversar com seu anfitrião-embaixador?
Somos, nessa perspectiva, de fato a caricatura de uma “república de bananas”, conforme o rótulo tão utilizado nos anos 50 do século passado. Só não dá mesmo para entender como e porque, diante de tudo que já veio à luz, ainda possa existir gente boa que acredita no “mito”.
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