Ekopolis X Bancada da Lama

Tilden Santiago*
Nasce em Contagem, em Minas, a Ekopolis, uma Organização Social (OS), cujo foco é a educação popular nas bases da sociedade, coisa que os partidos políticos deveriam fazer e não fazem, porque só sabem correr desesperadamente atrás de poder pelo poder (mais precisamente de cargos e governo) em eleições institucionais.
Os estatutos da OS projetam a Ecologia (EKO) e a Cidadania (Polis), como grandes esferas a serem debatidas, aprofundadas e interiorizadas pelas populações, especialmente pelas classes populares, adestrando as mesmas para a luta ecológica, social e política. A Ekopolis é aberta a cidadãs e cidadãos de todas as classes sociais, que sonham com a “democracia” verdadeira e autêntica.
Sonhada por jovens e idosos que não envelheceram, há uns dois anos, a Ekopolis está nascendo praticamente da lama que contaminou Brumadinho, a alma do rio Paraopeba, Feijão e outros córregos e destruiu corpos e vidas das populações ribeirinhas, de animais e da natureza (o meio ambiente). Ekopolis está organizando palestras e debates para grupos sobre um primeiro tema: a Mineração em Minas e no Brasil e suas consequências na economia, na política e na vida social.
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Nascemos num momento difícil, em que o Brasil volta à antiga Grécia, reproduzindo a tragédia em Brumadinho, a “comédia” em Davos, onde em Fórum Internacional nosso País foi anunciado como modelo de defesa ambiental e a “tragicomédia” na política, no Congresso Nacional em Brasília, com a posse do novo Senado e a da Câmara, sendo a quase totalidade dos novos parlamentares comprometidos com a “Bancada da Lama”. Apenas uma de suas patologias, porque apesar de terem derrotado Renan Calheiros, elegeram um presidente que já votou absolvendo corruptos.
Uma análise exaustiva da problemática ambiental não existe sem relacionar Ecologia e Política. E cumpre fazê-lo com isenção científica, sem quererem pura e simplesmente encontrar bodes expiatórios com objetivos politiqueiros.
Nossa política não está à altura de enfrentar a problemática ecológica, vivi 12 anos na Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Câmara Federal. Fui secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) no governo Itamar. E como embaixador, não perdia seminários do tema em Havana, nos países vizinhos, no Caribe e nos EUA. Esse escriba fala do que vivenciou e continua militante na ecologia e na política com “p” maiúsculo.
Militante peregrino na vida enquanto pisar no Planeta dos homens.
Repito: nossa política não está à altura de enfrentar a problemática ecológica. Os governos, nos últimos 30 anos, não demonstraram sensibilidade nem vontade política de entrar no tema: liberais, conservadores, republicanos, democratas, sociais-democratas, socialistas, ninguém escapa dessa omissão. Afundavam a cabeça na areia para não ver o problema ecológico. E na melhor das hipóteses, abandonavam, minimizando sua gravidade.
Os partidos são as escolas que formam a cabeça dos políticos. Excetuando PV e Rede Sustentabilidade da Marina, nenhum consegue abordar devidamente o problema em foco. O PT que alimentou maiores esperanças na opinião pública, nunca nas convenções nacionais aceitou a nossa contribuição de petistas ecologistas. Apolo Heringer, Marina, Eduardo Jorge, esse escriba, Minc e outros viveram essa decepção. Aliás, porque Lula todo-poderoso preferiu Dilma a Marina para sucedê-lo. E o governo que chega não morre de amores pelo meio ambiente.
Só nos resta esperar que a sociedade não cruze os braços! E que o empresariado brasileiro aprenda, em todos os setores produtivos, elaborar seu projeto ambiental dentro do próprio projeto de desenvolvimento econômico de sua empresa, sabendo dosar o crescimento do lucro com o atendimento às necessidades e o “cuidado” com seus similares e com a Pacha-Mama, a Natureza.
*Jornalista e ex-secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
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