Opinião

Um homem adiante do seu tempo

Um homem adiante do seu tempo

“Cabe ao padre Landell toda a glória da invenção.”
(Registro de jornal sobre a transmissão pioneira de som num aparelho sem fio)

A trajetória percorrida pelo padre Landell Moura em sua peregrinação pela pátria terrena é recheada de referências cintilantes. Há um acervo muito precioso de feitos científicos e de manifestações de exaltação do espírito humano, provindos de seu talento criativo e capacidade empreendedora, com mira na evolução civilizatória. Esse brasileiro genial, já revelamos aqui, foi a primeira pessoa a fotografar a aura humana. Mas a sua participação foi muito além. Suas marcas digitais acham-se impressas na ciência, tecnologia, psicologia, pesquisas de fenômenos transcendentes inexplicáveis à luz do conhecimento consolidado na época em que viveu. É o que mostra farta documentação coletada pelo Núcleo de Pesquisas e Estudos Landell de Moura, pelo Movimento e Memorial batizados com o seu nome, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

Numerosos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores e historiadores, notadamente gaúchos, reforçam a tese. Mesmo assim, à falta de alarde maior de suas portentosas realizações, como seria justo almejar, a história desse notável personagem permanece ainda, para a maioria de seus compatriotas, envolta nas brumas do esquecimento. E um tanto quanto ignorada pelo resto do mundo.


Landell Moura é apontado, por figuras de alta qualificação na área da telecomunicação, como pioneiro nos experimentos que abriram caminho para a transmissão de sons e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas. Há quem admita ter sido ele o primeiro, entre os inventores, a acenar com o surgimento do telefone e do rádio. De seus registros biográficos consta que ele realizou testes muito bem-sucedidos em ambas as modalidades de transmissão a partir de 1893. Enfrentando dificuldades técnicas e financeiras para movimentar as pesquisas, confrontando tenaz resistência e cáustica incredulidade por parte das autoridades, opinião pública e superiores eclesiásticos, o padre-inventor conseguiu mesmo assim conceber aparelhos emissores de sons e sinais.

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Elaborou também inúmeros projetos classificados por gente do ramo como inéditos na projeção de imagens. O fato remete à admissão do caráter precursor de suas intervenções nos fascinantes domínios da televisão e fibras óticas.


A “Wikipédia” fornece a propósito da vida e obra de Landell Moura informações interessantíssimas. Alinhamos abaixo, condensadas, algumas delas. Ele previa a possibilidade da comunicação com inteligências de outros mundos. Defendia a quebra do celibato sacerdotal. Promovia estudos sobre as chamadas manifestações mediúnicas. Valia-se dos instrumentais da psicologia para aprofundar-se na avaliação das reações comportamentais humana. Sustentava a eficácia da homeopatia. Por conta de suas ideias e realizações levantou, em diversos momentos, vociferações iradas de fanáticos fundamentalistas. A intolerância com relação ao seu trabalho chegou a tal ponto que, em certa oportunidade, vândalos destruíram o laboratório em que promovia experimentos em Campinas. Em 1892, antes mesmo de Marconi anunciar êxito nos testes que o consagraram mundialmente, o inventor brasileiro construiu o primeiro transmissor sem fios de mensagens. De acordo com Fornari, seu contemporâneo, autor da primeira biografia do padre, Landell conduziu, entre 1893 e 1894, a primeira transmissão pública de som por meio de ondas hertzianas. O evento aconteceu entre pontos identificados como o Alto da atual avenida Paulista e o Alto do Santana, na capital paulistana, cobrindo distância de 8 quilômetros. Na mesma ocasião, ele ainda testou um transmissor de ondas, um equipamento de telégrafo sem fio e um aparelho telefônico sem fio.

Depoimentos atribuídos a um sem número de personalidades da época, estampados no “Correio do Povo”, resgatados por Hamilton Almeida, colocam suas primeiras demonstrações trazidas a público no período que medeia os anos 1890 e 1896. Os registros das bem-sucedidas ações foram se acumulando. Por volta de 1899 o “Jornal do Commércio” divulgou façanha mundial pioneira de Landell no tocante à transmissão do som sem fio. O texto vindo a seguir é extraído do referido órgão: “Nas diversas experiências executadas recentemente notou o inteligente inventor, que a zona que à mercê das vibrações do éter percorrem o som articulado, se vai alargando à medida que se aproxima do receptor, de modo que, colocando-se vários desses receptores dentro do mesmo campo de recepção, alguns metros separados um dos outros, todos eles recebem ao mesmo tempo com a mesma clareza a palavra transmitida. Deste resultado, que se saiba, não o obteve sábio algum, nem no velho nem no novo mundo. Cabe ao padre Landell toda a glória da invenção. Para tal alcançar não se pense que o infatigável homem de ciência foi de um salto. Há muitos anos que faz experiências e estuda metodicamente, entregando-se inteiramente à construção do triunfo que acaba de conseguir, sujeito por certo às leis da mais esquisita precisão, das quais fez nascer o seu pequeno aparelho transmissor e seu pequeníssimo receptor.”


As fontes em que nos louvamos para compor esta narrativa sobre o fulgurante itinerário do genial brasileiro assinalam que em 3 de junho de 1900 ocorreu a primeira inequívoca e consagradora demonstração pública dos extraordinários inventos atribuídos a Landell Moura.
Os pormenores ficam para a próxima anotação.

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