Parceiros do Futuro

‘Descommoditização’ marca nova era da mineração

Tema foi abordado durante o painel “Perspectivas Econômicas e Geopolíticas para a Mineração”
‘Descommoditização’ marca nova era da mineração
Crédito: Alexandre Guzanshe/Diário do Comércio

Mas a mineração vai além do minério de ferro e da própria Vale. Por isso, o presidente da mineradora, Gustavo Pimenta, também citou o que chamou de “descommoditização” da indústria mundo afora, o que exigirá das empresas a capacidade de oferecer soluções orientadas por cada demanda e destacou a vantagem competitiva da companhia.

“Temos um endowment minerário, principalmente em Carajás (PA), que nos permite crescer de forma orgânica, por meio do desenvolvimento de projetos com baixa intensidade de capital e minério de alto teor. Somos a companhia mais sofisticada em termos de minério de ferro do mundo. Temos 20 pontos de blendagem espalhados pelo mundo, com capacidade de concentração e produção de minérios de baixo, médio ou alto teor”, ressaltou.

O executivo detalhou a jornalistas, durante a Exposibram 2025, que isso ocorrerá por dois ângulos: primeiramente, porque os clientes estão ficando mais sofisticados e os problemas apresentados exigem uma visão diferenciada; e também por um movimento natural da mineração do futuro, com menor pegada ambiental e uma relação mais próxima com a sociedade. “Tudo isso é fundamental para garantir que o negócio siga de forma perene e as empresas continuem crescendo”, disse.

O tema também foi abordado durante o painel “Perspectivas Econômicas e Geopolíticas para a Mineração”, que contou com a participação de executivos de algumas das principais mineradoras com operações em Minas Gerais: Sigma Lithium, Alcoa Brasil, CBMM, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e Anglo American, além da Aura Minerals, com minas no Pará e em Goiás.

O head de Estratégia da CBMM, Eduardo Mencarini, citou que a “descommoditização” é algo que a empresa já vem praticando desde sua fundação e que essa foi a forma de desenvolver o mercado de nióbio. “Essa foi a forma de identificarmos como o nióbio poderia agregar valor nas cadeias subsequentes, seja do próprio aço ou até das indústrias de manufatura, automotiva e construção civil. Isso também implica foco no cliente. Ao longo do tempo, desenvolvemos parcerias com universidades do Brasil e do mundo para o desenvolvimento de produtos. O resultado é que não vendemos minério”, frisou.

Mencarini também citou que a capacidade instalada da CBMM é de 150 mil toneladas de produtos de nióbio, enquanto o consumo global é de 125 mil toneladas. Esses números revelam a preocupação da companhia em investir em capacidade adiantada em relação à demanda, como líder de mercado, para garantir o fornecimento não apenas hoje, mas no longo prazo.

A vice-presidente de Relações Institucionais e Governamentais da Sigma Lithium, Lígia Paula Pires Pinto Sica, por sua vez, falou sobre o papel da mineração no mundo, destacando o desempenho estratégico, que influencia mercado, política e relações internacionais. Segundo ela, neste momento, os países buscam garantir acesso seguro aos minerais estratégicos críticos, especialmente em um contexto de transição energética. E o Brasil se coloca nesse debate, por meio de um posicionamento ofensivo de consolidação e liderança na produção e processamento desses minerais e um movimento defensivo de pensar como ganhar escala, resiliência e se fortalecer diante de tanta incerteza e volatilidade.

“Temos abundância, sabemos processá-los, jurisdição e custos que nos tornam competitivos, legislação ambiental e trabalhista sólidas que os protegem, além da tentativa de nos mantermos com neutralidade política, pelo histórico de diálogo e trocas”, defendeu.

O Chief Operating Officer (COO) Global da Anglo American, Ruben Fernandes, frisou que o grande objetivo da mineração do futuro é as empresas colaborarem mais, deixarem um pouco os egos de lado e cuidarem do planeta como uma só unidade, atuando em prol do bem comum. E lembrou que isso inclui a mineração.

“É preciso desmistificar a história do ESG, assim como a da diversidade e inclusão. A mineração cria valor para a sociedade, e o planeta precisa da mineração. O ESG não é um programa, faz parte da estratégia de negócios. As comunidades precisam existir depois da mineração; por isso, é necessária a criação de valor no longo prazo. A mineração é uma atividade de longo prazo. O governo precisa entender isso, assim como a sociedade, os stakeholders, os acionistas e os líderes. Se conseguirmos coordenar e conciliar esses interesses, teremos uma atividade muito mais ética e sustentável”, opinou.

Fernandes também falou sobre a fusão com a Teck Resources, anunciada em setembro. Segundo ele, a Anglo busca eficiência, robustez financeira e capacidade de investimento para construir um futuro melhor. E que juntas formarão uma das maiores mineradoras do mundo, com culturas e valores muito semelhantes.

Já o CEO da CBA, Luciano Francisco Alves, destacou que a companhia já trabalha com um produto diferenciado, de baixo carbono, mas ainda assim busca constantemente formas melhores de produzi-lo. “Nos comprometemos a reduzir em 40% nossas emissões até 2030, mesmo já tendo emissões muito baixas. Se somos fundamentais para o futuro do mundo, vamos fazer de uma forma a coexistir com as comunidades e com as pessoas”, alertou.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas