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Muito além da polarização: saiba quem decide o futuro político do Brasil

Planejamento de longo prazo e engajamento civil são chaves para o avanço coletivo
Muito além da polarização: saiba quem decide o futuro político do Brasil
Foto: Imagem gerada inteligência artificial (IA)

Num País que, embora não seja polarizado, acredita que seja, nosso papel é pautar, debater e discutir o Brasil, porque os governos passam e a gente fica”. É com esta frase que o cientista político e diretor da empresa de pesquisas Quaest Felipe Nunes encerra sua palestra “Cenários 2026”, que percorre o País às vésperas das eleições presidenciais do próximo ano. Baseada em seu mais novo livro “Brasil no Espelho”, a apresentação aborda o cenário político e social brasileiro, incluindo a polarização, a divisão de opiniões em relação aos governos e o perfil de diferentes gerações de eleitores.

Munido de dados, muitos dados, Nunes começa derrubando uma teoria que há algum tempo já toma conta do País, a polarização. Isso porque dados de uma pesquisa realizada pela Quaest apontam que 16% dos brasileiros se classificam como petistas, 15% como esquerdistas, 31% como independentes, 25% como direitistas e 13% como bolsonaristas.

Arte gráfica sobre a divisão política no Brasil
Imagem gerada por inteligência artificial (IA)

“Ou seja, a direita é maior que o bolsonarismo e o petismo é quase igual à esquerda. Por que então o Brasil está polarizado? Porque nós colocamos o outro nos extremos”, avalia.

Para embasar ainda mais essa defesa, a empresa de pesquisa foi além e apresentou outro levantamento, dividindo o Brasil em segmentos e em sua respectiva representatividade no escopo social atual:

  • Militantes de esquerda (7%)
  • Progressistas (11%)
  • Dependentes do Estado (23%)
  • Liberais sociais (5%)
  • Empreendedores individuais (5%)
  • Conservadores cristãos (27%)
  • Agro (13%)
  • Empresários (6%)
  • Extrema direita (3%)
Arte gráfica sobre os segmentos políticos atuais da sociedade brasileira
Imagem gerada por inteligência artificial (IA)

A partir desses dados, o cientista político explica que “militantes de esquerda”, progressistas e dependentes do Estado compõem hoje a base eleitoral do PT e somam 41%. Em contrapartida, os grupos “conservadores cristãos”, agro, empresários e extrema direita estão alinhados ao projeto antipetista, totalizando 49%. Já os grupos “liberais sociais” e empreendedores individuais somam 10%.

“Aí está a fatia que vai decidir as próximas eleições. Já sabemos o que os extremistas irão fazer, por isso o resultado será definido pelo centro, o que nos indica que a agenda pragmática vai ter grande peso, porque quem vai definir será o liberal social e o empreendedor individual, e não o ideológico”, explica.

O peso da agenda pragmática e o perfil do eleitor mineiro

Nunes detalha especificamente o eleitor mediano mineiro, “ele tem preferências claras. Ele é família, Deus, é individualista e empreendedor. Ele sabe que o Estado tem um papel importante na distribuição da educação e da saúde, mas também que um Estado pesado demais atrapalha o desenvolvimento. Ele quer ver um Estado que não atrapalhe a vida dele. Ele é um pouco mais privatista hoje do que estadista, mas, fundamentalmente, é um eleitor que busca uma diversificação das oportunidades para haver um desenvolvimento sustentável”, resume o cientista político.

O diretor da Quaest também levantou a questão do principal problema do País na visão dos eleitores. Em um ano a principal preocupação passou de economia para violência, como mostra o gráfico a seguir:

Arte gráfica sobre os problemas do Brasil, segundo os brasileiros
Imagem gerada por inteligência artificial (IA)

Neste quesito, Nunes explica que a conjuntura brasileira é positiva para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que a estrutura puxa para o outro lado. “A conjuntura no Brasil é representada, basicamente, pela sensibilidade da inflação dos alimentos, que está controlada, mas como passamos a pensar e a ser como sociedade e os nossos valores, mostram que viramos um povo que acompanha a política, um povo politizado. A economia compete com os valores e, por isso, os valores dos brasileiros serão tão determinantes em 2026 quanto a conjuntura”, detalha.

Diante do cenário, Nunes reforça a inteligência política de Lula e cita sua estratégia de lutar contra a estrutura. Quanto à oposição, ele acredita ser cedo para traçar o perfil do candidato, mas ressalta que a rejeição a Jair Bolsonaro (PL) é tão grande que os prováveis candidatos de direita irão tentar desvincular suas imagens à do ex-presidente. No geral, o desafio será a conquista dos 10% que não estão “presos” a nenhum dos lados.

Questionando o papel da sociedade civil, ele afirma: “É preciso aparecer antes, durante e depois dos processos eleitorais. O que mais perguntamos é onde estavam no momento da governabilidade? Toda entidade tem uma pauta a alinhar com o governo, um projeto de País que almeja. Mas para isso, é preciso política pública e para termos política pública, é preciso se mobilizar, organizar e ter clareza sobre a pauta política que se almeja”.

Planejamento de longo prazo e o papel da sociedade civil

Essa também é uma das abordagens do Parceiros do Futuro, discutir cenários, propor caminhos e engajar a sociedade civil na estruturação de planejamentos de longo prazo que extrapolem governos e preparem o Estado para um desenvolvimento econômico e sustentável que promova um cenário de prosperidade real e avanço coletivo.

O material que embasou o projeto do Diário do Comércio em parceria com a consultoria Spine evidencia a tradição mineira de planejamento. Minas Gerais foi o primeiro Estado brasileiro a estabelecer a obrigatoriedade de os governos elaborarem um plano de desenvolvimento em sua Constituição. No entanto o material esclarece que muitas boas intenções se perderam devido a divergências políticas que levam novos governos a interromper o trabalho de seus antecessores.

“Este trabalho, portanto, tem o objetivo de ouvir os muitos e diversos setores da sociedade civil em Minas Gerais para construir um projeto de desenvolvimento que, legitimado pela sociedade, possa servir de base a uma política de Estado que não seja interrompida pela alternância de governos, mas que venha a fazer com que as especificidades de cada partido que for eleito possam se somar para construir um mesmo objetivo, fazer Minas mais próspera e socialmente justa”, consta no paper de defesa do projeto.

Sobre isso o cientista político opina que o País conseguiu, nos últimos 40 anos, reduzir a desigualdade e a pobreza, aumentar o espaço da mulher no mercado de trabalho, ampliar o acesso à educação e realizar reformas importantes. Ele pondera, no entanto, que o mundo avança em velocidade muito maior, o que impõe desafios enormes. Daí a necessidade, segundo ele, de um envolvimento maior de formadores de opinião e de líderes de fora da política durante os intervalos eleitorais.

“Precisamos de mais ativismo, organização, debate, engajamento, não só nas redes sociais, mas na relação cotidiana e na maneira de discutir o País”, diz.

Nunes lembra que o País tinha, em 2007, 22% de pessoas que não conseguiam se posicionar no espectro político. Hoje apenas 4% não conseguem dizer onde estão. “Essa é uma prova cabal de que nos envolvemos mais, nos informamos mais, discutimos mais e debatemos mais. Mas temos que organizar esse debate para que ele fique produtivo, e não apenas um jogar de ideias nas redes com ódio e intolerância, que é o contrário do que pode construir um País forte, firme e seguro”, completa.

Por fim ele elenca dois fatores determinantes para o futuro do País, a educação integral das novas gerações e a resolução dos problemas estruturais econômicos.

“Sem educação não há a menor possibilidade de se fazer planejamento de longo prazo. Quem não é educado só pensa no hoje, no agora, não consegue olhar para além. E quanto aos problemas básicos econômicos, quem está com fome não consegue pensar o futuro, quem não tem uma casa digna não consegue pensar o futuro. Só pensa o agora. Isso é o que pode fazer o Brasil se tornar um país ainda melhor, porque a gente tem melhorado nos últimos 40 anos, mas ainda temos um caminho longo para acompanhar a evolução e a produtividade que está acontecendo no mundo. E nisso a gente está ficando para trás”, conclui.

Escute, a seguir, uma análise da reportagem gerada com o apoio da inteligência artificial (IA)

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