BNDES deu ‘uma rasteira’ no governo, diz Guedes

Brasília – A área jurídica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aplicou uma “rasteira” no governo para segurar a devolução de recursos ao Tesouro Nacional, afirmou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Em evento pelos 70 anos do BNDES, Guedes disse que o órgão foi ao Tribunal de Contas da União (TCU) para argumentar que teria perdas se mantivesse o ritmo das devoluções porque estaria gastando mais com subsídios. Os recursos são relativos a empréstimos feitos anteriormente pela União para capitalizar o banco público.
“Estão devendo e aplicaram uma rasteira na gente”, disse. “Quando a inflação sobe, o Brasil está subsidiando o BNDES. O jurídico do BNDES teve a coragem de ir ao TCU para convencer o TCU que é o contrário. E o TCU caiu, falaram que se devolver (os recursos) agora impõe uma perda ao banco, é o contrário, vocês estão se beneficiando do subsídio, deveriam estar devolvendo porque o Brasil está em guerra”.
De acordo com o ministro, os repasses do BNDES ao Tesouro já totalizaram R$ 260 bilhões. Ao fazer a declaração, o ministro discordou de um dos participantes, que falou que a devolução teria superado R$ 400 bilhões.
Segundo o boletim de subsídios do Tesouro ao BNDES publicado em maio, as chamadas liquidações antecipadas, com devoluções entre 2015 e 2021 pelo banco de fomento, somaram R$ 472 bilhões.
Procurado, o BNDES informou que até hoje já foram pagos R$ 565,1 bilhões ao Tesouro, sendo R$ 22,7 bilhões em 2022. O saldo remanescente a ser devolvido, segundo o banco, é de R$ 81 bilhões.
“Em janeiro de 2021, o Tribunal de Contas da União determinou a irregularidade dos empréstimos concedidos ao BNDES pela União. Em março de 2021, foi estabelecido entre o Banco e o órgão regulador um cronograma de pagamentos. O BNDES vem seguindo estritamente o acordado”, disse o banco de fomento em nota, sem responder se acionou novamente o TCU ou se pediu mudança no cronograma de pagamentos.
Venda de ativos
No evento, Guedes também voltou a defender a venda de ativos da carteira do BNDES e a criação de fundos com recursos provenientes dessas operações para bancar investimentos públicos e programas sociais.
Segundo ele, “só de falar que vai privatizar a Petrobras” e fazer migração para o novo mercado, o valor da companhia passa de R$ 450 bilhões para R$ 750 bilhões.
O ministro também voltou a dizer que a economia mundial terá dias piores pela frente. Para ele, o Brasil pode ter dinâmica própria e crescer porque tem mais de R$ 800 bilhões em investimentos privados para os próximos anos.
Sem dar detalhes sobre medidas que poderiam ser adotadas, ele disse que se a guerra na Ucrânia escalar “vamos para o sacrifício de novo, todo mundo apertando o cinto”.
Comissão pode cobrar explicação de ministro
Brasília – A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado irá analisar hoje um requerimento de convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que preste informações sobre o anúncio de mais um aumento do preço dos combustíveis.
O pedido foi apresentado pelo senador Alexandre Silveira (PSD-MG), depois que a Petrobras anunciou na sexta-feira reajustes de 5,18% para a gasolina e de 14,26% para o diesel.
A recente escalada dos preços dos combustíveis tem mobilizado o governo e o Congresso, que aprovou na última semana projeto que fixa um teto às alíquotas de ICMS incidentes sobre gás, combustíveis, energia elétrica, transporte coletivo e comunicações.
Guedes já consta como convocado a comparecer, também na terça-feira, à Comissão de Segurança Pública da Câmara, para falar sobre o reajuste prometido pelo presidente Jair Bolsonaro a policiais. (Reuters)
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