Política

Bolsonaro deve pedir a Biden redução das barreiras ao aço brasileiro criadas por Trump

Bolsonaro deve pedir a Biden redução das barreiras ao aço brasileiro criadas por Trump
Brasil exporta em torno de 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado aos Estados Unidos anualmente | Crédito: Divulgação

Los Angeles (EUA) – O presidente Jair Bolsonaro poderá pedir ao presidente Joe Biden uma redução nas barreiras de importação ao aço brasileiro para os EUA, criadas pelo ex-presidente Donald Trump em 2018. Um dos argumentos para isso é que as medidas atuais acabam beneficiando a Rússia. Os dois líderes terão uma reunião bilateral durante a Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles nesta semana e que reúne delegações de 34 países do continente. A conversa deve ocorrer na tarde de hoje.

Como medida protecionista, os EUA criaram uma sobretaxa de 25% ao aço importado, em uma medida chamada de Seção 232. O Brasil, assim como alguns outros países, obteve uma cota de exportação de aço livre desta cobrança, e o pleito agora é que esse limite seja ampliado, extinto ou que o País pague uma alíquota menor, segundo diplomatas brasileiros envolvidos na preparação do encontro.

Um dos produtos mais exportados pelo Brasil são placas de aço semi-acabado, cuja cota atual é de 3,5 milhões de toneladas anuais. A produção dessas placas usa carvão metalúrgico vindo dos EUA. Assim, a ampliação da cota levaria a um aumento de empregos também em estados como a Virgínia, que exporta US$ 400 milhões do material ao Brasil por ano, argumentam negociadores brasileiros.

Diplomatas buscam também apoio de parlamentares democratas para a mudança, que podem ajudar a convencer Biden sobre a alteração. Outro argumento é que a ampliação de exportações brasileiras poderia fazer com que os EUA comprem menos aço da Rússia, que segue como um dos principais fornecedores do material para a indústria americana.

Quando presidente, Trump adotou várias medidas protecionistas para conter importações, sob argumento de que pretendia preservar empregos nos EUA. Biden, há um ano e meio no cargo, ainda mantém várias daquelas medidas em vigor.

Near-shoring

No entanto, após a pandemia e a Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a falar em near-shoring, um movimento de trazer para mais perto indústrias e cadeias de produção espalhadas pelo planeta, em um movimento que pode beneficiar a América Latina. O governo americano espera que isso, além de melhorar a economia da região, também ajude a desestimular a migração de latino-americanos rumo aos EUA.

Na terça, o governo americano anunciou que dez empresas americanas farão investimentos totais de US$ 1,9 bilhão em países da América Central. A lista de novos empreendimentos inclui redes de banda larga fixa e de telefonia móvel, expansão de pagamentos digitais, fábricas de roupas e autopeças e plantações de banana e abacate.

Além do aço, a pauta da conversa entre os dois presidentes pode incluir a recuperação econômica pós-pandemia, insegurança alimentar e a crise climática, mas a lista final de tópicos será definida pelos dois. Sobre a reunião, um representante da Casa Branca disse que é notório que há desentendimentos com o governo brasileiro, mas que a conversa deverá ser sincera e direta, já que os países possuem muitos interesses e preocupações em comum.

Presidente também falará de meio ambiente em reunião

Rio de Janeiro – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que pretende mostrar ao presidente Joe Biden a importância do Brasil para a segurança alimentar do planeta e defenderá o que vem sendo feito pelo país na questão ambiental, em reunião bilateral entre os dois líderes durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles, hoje.

Bolsonaro reiterou que não pretendia ir ao evento “apenas para tirar fotos” com demais chefes de Estado, mas disse que foi convencido a participar após receber convite de um emissário de Biden enviado ao Palácio do Planalto.

“Foi feito um diálogo com o assessor do Joe Biden e foi acertada uma bilateral pelo tempo que se fizer necessário, e vamos mostrar o que é o Brasil”, afirmou Bolsonaro em evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro. “Vamos falar sobre segurança alimentar. O mundo não vive mais sem o Brasil, a não ser passando fome”, adicionou.

Bolsonaro, que embarca ainda nesta quarta-feira para a Cúpula das Américas, revelou também que está disposto a conversar com Biden sobre a visita que fez no começo do ano à Rússia, pouco antes de o presidente russo, Vladimir Putin, invadir a Ucrânia.

“Se ele tiver alguma pergunta sobre a minha ida à Rússia, lógico, o que eu puder falar eu vou falar, o que não puder falar não vou falar. Assim como não tenho off com a imprensa não tenho off com chefe de Estado nenhum fora do Brasil”.

Bolsonaro lembrou que, após a visita à Rússia, 26 navios com fertilizantes aportaram no Brasil, garantindo o plantio da safra no “mínimo até o primeiro trimestre do ano que vem”.

Na reunião com Biden, Bolsonaro disse que também vai defender o esforço do País para a preservação do meio ambiente. Biden já fez críticas públicas à política ambiental brasileira, mediante o aumento do desmatamento da Amazônia durante o governo Bolsonaro.

“Por que os ataques? O que querem com isso? Desgastar o governo ou melhorar a questão concorrencial do que vem do agronegócio?”, afirmou. “Temos orgulho de nosso país e talvez seja o único país do mundo que preserva dois terços de sua área”.

Bolsonaro também disse que espera incluir na pauta do encontro a questão da transição energética, e destacou que o Brasil pode ser no futuro uma “Opep da energia” graças ao potencial do hidrogênio verde.

Ataques

Ainda durante encontro com empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Bolsonaro (PL) voltou a fazer ataques ao Supremo Tribunal Federal e a seus ministros, além de sugerir que pode descumprir decisões da corte. Suas falas foram aplaudidas por alguns dos presentes no evento, que também riram de piadas ofensivas de Bolsonaro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele chamou o adversário de “nove dedos” e disse que Lula tentaria resolver os problemas do País na base da “pinga”.

Assim como no dia anterior, Bolsonaro afirmou que o ministro Edson Fachin (STF) é marxista-leninista e que foi advogado do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sendo mais uma vez aplaudido pelos empresários.

A imprensa não teve acesso ao evento e foi colocada em uma sala separada com uma televisão, para assistir ao discurso. Não foi possível identificar os empresários que apoiaram as falas do presidente. (Reuters e Folhapress)

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