Brics rejeita ameaças de taxação de Trump, afirma Lula

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (10), ao receber visita do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que os países do Brics rejeitam as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 10% a mais países que se alinharem ao bloco emergente e ao que chamou de políticas “antiamericanas” do grupo.
“Não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics”, disse Lula, no Palácio da Alvorada, um dia após a reunião de cúpula no Rio. “Não concordamos quando ontem (segunda-feira) o presidente dos EUA insinuou que vai taxar os países do Brics”, reforçou.
Modi ignorou o assunto em declaração à imprensa. O premiê nacionalista cultiva laços com Trump e negocia um alívio nas tarifas bilaterais de 26% impostas pelo americano à Índia, em 2 de abril. Trump disse que, dentro da pausa de 90 dias para negociações, o governo indiano acenou com um acordo para zerar tarifas.
A Casa Branca vem anunciando desde esta terça-feira novas tarifas a países que não conseguiram entrar em acordo com os EUA, mas não incluiu ainda Brasil e Índia nesse novo pacote.
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Desde o início do governo Trump, Brasil e Índia figuram na lista de reclamações das autoridades de comércio americanas como países que impõem taxas elevadas aos EUA.
Pouco após seu retorno à Casa Branca, Trump também ameaçou antes impor 100% de tarifaço se os Brics criassem uma moeda comercial para substituir o dólar – assunto que o grupo deixou de lado na presidência brasileira.
Lula respondeu novamente à alegação de Trump de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sofre “perseguição” e “caça às bruxas” judicial no Brasil.
“Somos países soberanos, não aceitamos intromissão de quem quer que seja nas nossas decisões soberanas, no jeito que cuidamos do nosso povo. Defendemos o multilateralismo, porque foi o sistema que depois da 2ª Guerra permitiu que o mundo chegasse ao Estado de harmonia que está sendo deformado hoje pelo surgimento do extremismo.”
Conselho de Segurança
O presidente brasileiro defendeu ainda que ambos países pregam a paz e devem ser incluídos na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. “É inaceitável que países do porte da Índia e do Brasil não ocupem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU”, disse.
Lula disse que Índia e Brasil primam pela paz e que os membros do conselho estimulam a guerra.
No plano bilateral, Lula defendeu que países superlativos não podem se distanciar. Ele reclamou do patamar de comércio bilateral – US$ 12 bilhões – e lembrou que há 20 anos tinha o objetivo de chegar a US$ 15 bilhões. “Nosso fluxo comercial não está à altura de nossas economias”, afirmou Lula. “Estamos determinados a acelerar essa meta triplicando esse valor em curto prazo.”
Lula pediu a ampliação do Acordo Comercial entre Mercosul e Índia, reduzindo barreiras tarifárias e não tarifárias, dizendo que ele cobre somente 14% das exportações brasileiras, apesar de recentes aberturas de mercado para o algodão e o frango.
Modi, por sua vez, sugeriu que os governos trabalhem para alcançar a cifra de US$ 20 bilhões em cinco anos, no comércio bilateral.
Os governos assinaram seis acordos, entre eles propriedade intelectual, transformação digital, segurança pública, energia, agricultura. Três deles foram assinados por ministros na presença de Lula e Modi: sobre o combate ao terrorismo internacional e ao crime organizado transnacional; cooperação em energia renovável; e compartilhamento de soluções digitais.
O Brasil tenta vender para a Índia aviões comerciais e militares da Embraer, como o C-390 Millenium, e a companhia já ofereceu inclusive a possibilidade de abrir unidades em solo indiano.
Reportagem distribuída pela Estadão Conteúdo
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