Bruno Engler propõe ampliar o diálogo entre os poderes

Com 26 anos e em seu segundo mandato como deputado estadual, Bruno Engler, candidato pelo PL, acredita que a experiência no Legislativo pode ajudá-lo na gestão da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), especialmente quanto à necessidade de diálogo entre as diferentes esferas de poder.
Para isso, ele garante uma relação institucional saudável tanto com o presidente Lula (PT) quanto com o governador Romeu Zema (Novo) e vereadores da cidade. Porém, admite que a polarização política que assola o País já há alguns anos deverá permanecer também nas eleições municipais e defende que as pessoas votem em candidatos que se aproximem com seus ideais.
No campo das propostas, Engler propõe alterações nos contratos do transporte público da Capital e repete o mote da campanha de Alexandre Kalil em 2014, falando em abrir a caixa preta da BHTrans. Defende uma auditoria nos contratos firmados pelo Executivo municipal, a revisão do plano diretor, incluindo a imediata reversão do coeficiente de construção e mudanças no código de posturas da cidade.
“Falta dinamismo e falta diálogo. […] Independentemente de quem estiver ocupando o Palácio do Planalto, e de quem estiver ocupando também a Cidade Administrativa, BH vai ter um canal de diálogo aberto”, diz.
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Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?
Eu quero ser prefeito de Belo Horizonte porque eu entendo que são três os principais fatores que impedem o avanço da nossa administração. Primeiro: corrupção. Uma cidade que tem um orçamento de quase R$ 20 bilhões não pode prestar o serviço público de má qualidade que Belo Horizonte vem prestando. Chegando na prefeitura, nós vamos fazer um raio-x de todos os contratos, fazer auditoria para entender onde está indo o dinheiro do belo-horizontino e estancar o desperdício para ter dinheiro para o que realmente precisa e é importante. Segundo, a questão da politicagem. A gente vê uma prefeitura usada para pagar faturas políticas, que precisa colocar o amigo de fulano, o indicado de beltrano, o sobrinho de ciclano. Vamos fazer indicações técnicas. Eu não tenho rabo preso com ninguém e vou poder indicar as melhores pessoas para exercerem o serviço público que Belo Horizonte merece. E terceiro, a gente observa hoje a falta de gestores públicos que tenham capacidade de pensar soluções de inovação e tecnologia para a nossa cidade. Eu estou antenado ao que de mais moderno surge no mundo e quero trazer essas soluções para Belo Horizonte.
Você acha que a polarização que atinge o País vai se repetir nas eleições municipais?
Acho que em parte. As pessoas se cansaram daquele político vaselina, que tenta agradar todo mundo e acaba não agradando ninguém. Ou então daquele político camaleão, que muda de opinião conforme as pesquisas qualitativas. Eu sou uma pessoa que tem um lado, todo mundo sabe o que eu defendo. Sou de direita, todo mundo sabe o meu grupo político. E acho que as pessoas querem votar em pessoas que pensam como elas, que defendem os valores que elas acreditam. Por isso, acho que isso interfere sim na eleição municipal.
Como governar em consonância com o governo federal?
A gente precisa ter um relacionamento institucional. Me inspiro muito no governador de São Paulo, o Tarcísio (de Freitas). Ninguém nega que o Tarcísio (de Freitas) é um aliado do presidente Bolsonaro, é uma pessoa de direita, uma pessoa que defende os nossos valores, mas quando ele precisa defender os interesses de São Paulo, levar as demandas do estado, ele se senta com os ministros, com o presidente da República. Em Belo Horizonte não será diferente. Se eu for eleito prefeito, conversarei com o presidente, com os ministros, levarei as demandas de BH sem problema nenhum, porque a gente precisa ter esse relacionamento institucional entre o município e a União. Mas é importante lembrar também que o Lula será o presidente nos dois primeiros anos do meu governo. Não há nenhuma garantia que ele será o presidente nos dois últimos. A gente nem sabe quem será esse presidente. Mas, independentemente de quem estiver ocupando o Palácio do Planalto, e de quem estiver ocupando também a Cidade Administrativa, BH vai ter um canal de diálogo aberto.
Pretende seguir isso também para o diálogo com o Legislativo?
Eu tenho uma vantagem, estou há seis anos vivenciando diariamente o Poder Legislativo. É um pouco diferente o Legislativo estadual do Legislativo municipal, mas acaba que a dinâmica é semelhante. A gente sabe quais são as principais demandas dos parlamentares. Os parlamentares gostam de ser ouvidos, gostam de participar do projeto de construção da cidade, gostam de ser atendidos pelos secretários, pelo chefe do poder Executivo. Então, a gente quer construir uma relação muito sólida com a Câmara dos Vereadores, até porque as mudanças profundas que a gente quer promover em BH passam pela Câmara.
Essas mudanças passam pela mobilidade? Qual a sua proposta para solucionar os principais problemas que Belo Horizonte enfrenta hoje no trânsito?
Belo Horizonte é a capital mundial do sinal vermelho. O nosso sistema de gestão de trânsito é antigo e ultrapassado e a gente vai modernizá-lo através da inteligência artificial. Sempre trago o exemplo de São Caetano do Sul, que, hoje, eu creio que é uma das cidades mais avançadas nesse modelo. Eles fizeram uma parceria com o Google, com o Waze, e implementaram o sistema Waze for Cities. Eles colocaram câmeras que monitoram o trânsito em tempo real na cidade. A prefeitura manda informações para o Waze, que, por sua vez, manda informações para a prefeitura. E a partir daí, a inteligência artificial calcula e define a gestão semafórica. Qual sinal precisa abrir e qual precisa fechar para que o trânsito flua de maneira mais ordeira e organizada. Hoje, lamentavelmente, é aquela coisa ultrapassada de 40 segundos abre, 40 segundos fecha, não há sincronia nenhuma. Parece que é só você sair de um sinal que você já se depara com outro.
Qual sua proposta para melhorar o transporte público da Capital?
E outro desafio muito grande também é a questão do transporte público. É preciso um prefeito que tenha coragem de enfrentar essas empresas de ônibus e defender os interesses do cidadão. Quando eu falo que a gente vai fazer um raio-x da prefeitura, auditar todos os contratos, passa também pela questão do transporte público. Eu vou fazer o que o (Alexandre) Kalil prometeu e não teve coragem de fazer, que é abrir a caixa preta da BHtrans e entender esses contratos. E se tiver alguma irregularidade, a gente não tem receio algum de suspender ou até mesmo rescindir. Se tiver tudo regular, em nome da segurança jurídica, tem que ser mantido, mas a gente já vai pensar um novo modelo para 2028. É importante lembrar que o atual contrato das empresas de ônibus aqui de Belo Horizonte é uma herança do governo do PT. Foi feito em 2008, no apagar das luzes do governo Fernando Pimentel e dura até 2028. Então, o próximo prefeito vai ter a oportunidade de redesenhar o transporte público aqui da Capital e a gente vai fazer isso pensando nos interesses do cidadão.
O que propriamente precisaria ser revisto neste contrato?
O novo contrato ainda está para ser desenhado, mas a gente precisa, primeiro, exigir um preço justo, exigir um número de viagens que atenda a demanda da população e fiscalizar para que aquilo que foi pactuado seja cumprido. Isso passa também pela questão da inteligência artificial. Você consegue, com tecnologia, monitorar em tempo real para ver se, de fato, os ônibus estão rodando no número que foi combinado, estão passando no horário que foi combinado e, se não estiver sendo cumprido, você pode e deve aplicar multas. E aqui na Capital as empresas ficam recorrendo e não pagam as multas. Isso precisa estar previsto no contrato, ainda mais agora que as empresas recebem subsídio. Não havendo pagamento da multa, que se corte o subsídio. Mas precisa haver fiscalização e punição para o serviço de má qualidade.
Como solução temos metrô, Rodoanel, modernização do Anel, novos corredores de BRT. O que você pretende priorizar?
Alguns pontos não será a prefeitura que vai resolver, mas vão resolver o problema do belo-horizontino. Primeiro a questão do metrô. Tem muita gente que não acredita mais no metrô. O metrô parece o Papai Noel aqui de Belo Horizonte. Em ano eleitoral as pessoas voltam a falar nele. Mas eu quero tranquilizar as pessoas, pois o metrô deixou de ser uma promessa e vai sair do papel. Acompanhei esse processo, conversei com os atores responsáveis. O governo Jair Bolsonaro já destinou a verba de R$ 2,8 bilhões para o metrô de BH, que foram complementados com R$ 400 milhões do governo do Estado e foi feito um processo de concessão. Esses R$ 3,2 bilhões já estão na conta da empresa responsável, a Metrô BH. Cabe ao próximo prefeito cobrar dessa empresa o cumprimento do cronograma, porque o que está previsto em contrato é a conclusão dessas obras até 2027 e o funcionamento até 2029. A gente vai sanar uma demanda de décadas, vai finalmente ter a ligação do Barreiro com a linha 1 do metrô, que vai ser uma solução importante de mobilidade. O Rodoanel, acho que falta coragem política atualmente na prefeitura para se posicionar. O Rodoanel não passa um quilômetro em Belo Horizonte, mas ele resolve o problema de Belo Horizonte. E hoje a gente tem a prefeitura de Contagem se opondo, a prefeitura de Betim se opondo e a prefeitura de Belo Horizonte omissa, sem se posicionar.
Como resolver esse impasse?
O prefeito de Belo Horizonte tem que tomar para si esse protagonismo e tem que defender a construção do Rodoanel. E caso você tenha problema com alguma cidade da região metropolitana, então que apresentem uma solução, que apresentem um novo trajeto. Porque é muito fácil dizer que está ruim, que não vai aceitar, mas precisamos do novo Rodoanel, porque o Anel Rodoviário não comporta mais a demanda e a gente vê tragédia, acidente, e tudo o que for feito será paliativo. É preciso, sim, intervenções pontuais, fazer alargamento de gargalos, e isso passa pelo diálogo com o governo federal, porque precisaremos estar junto ao Dnit buscando investimentos. Mas o Anel Rodoviário já foi tomado por Belo Horizonte. Tem bairro de um lado, bairro do outro, ele, na prática, já é uma avenida. O que a gente precisa é tirar o transporte de cargas e rodoviário dessa via, passando para esse Rodoanel. A partir de 1º de janeiro de 2025, o prefeito Bruno Engler, se eleito for, será favorável à construção do novo Rodoanel porque é uma solução para Belo Horizonte.
Temos uma região metropolitana muito extensa. Como Belo Horizonte pode protagonizar uma maior integração entre as cidades?
Belo Horizonte não lidera hoje mais a região metropolitana e precisamos ter uma construção conjunta com todos os prefeitos e o governo de Minas. A Prefeitura de Belo Horizonte jamais pode ficar omissa em qualquer processo. Mas falta liderança. O prefeito de Belo Horizonte tem a obrigação de se reunir com os prefeitos da região metropolitana, de tratar os problemas dessa região, de liderar e juntar esses prefeitos para ir até o governador buscar soluções conjuntas, porque muitas das questões da região metropolitana afetam o belo-horizontino. A própria questão do ônibus metropolitano, a gestão do governo do Estado, mas você precisa tratar para ter uma solução. Muitos falam da integração da tarifa com a região metropolitana, mas isso só se faz mediante muito diálogo. Não é coisa simples de se prometer. Você precisa conversar com todo mundo e ver o contrato de cada cidade. Mas para isso, é preciso iniciativa.
Nos últimos anos, Belo Horizonte perdeu grande parte da sua população, inclusive investimentos para cidades da região metropolitana. Alguns atribuem ao plano diretor, outros atribuem aos incentivos aos investidores. A que você atribui? É possível reverter?
Eu acredito, sim, que é possível reverter, até por isso que eu quero ser prefeito de Belo Horizonte. Hoje falta incentivo, tem muita burocracia e a gente tem um plano diretor que expulsou o setor da construção civil. O que acontece? Antigamente, antes do Kalil entrar, a gente tinha o direito de construir que variava entre 1.2 e 2.7. No último plano diretor, eles reduziram o coeficiente de construção de 1 para 1, para a cidade inteira. Isso não é planejamento urbano. Planejamento urbano é quando você olha a especificidade de cada região e elabora um planejamento de crescimento de acordo com cada especificidade. Você fazer um coeficiente de construção de 1 para 1 na cidade inteira é a ganância de um prefeito que queria ganhar com outorga onerosa. Só que deu um tiro no pé, porque os empreendimentos saíram de Belo Horizonte e foram para Contagem, para Nova Lima, Santa Luzia. Isso não é achismo. Eu converso com pessoas, com empresários que me relatam que tinham empresas aqui em Belo Horizonte, que geravam 300, 400 empregos diretos e que foram para Nova Lima, ou que foram para outras cidades da região metropolitana. Então, a gente tem o compromisso de rever o plano diretor. A gente vai, no mínimo, reverter o coeficiente de construção, mas a nossa ideia é ampliar para voltar a trazer o setor da construção civil, que gera emprego, gera renda, movimenta a economia da cidade, cria oportunidade de moradia. E a gente quer também desburocratizar. Porque hoje a gente tem um código de posturas que engessa completamente a atividade comercial na cidade. O comerciante tem direito a uma placa. Ou ele coloca uma placa na perpendicular, que o cidadão que está andando na rua vai ver a placa, olha para a fachada da loja e é uma loja sem nome. Ou ele coloca o nome na fachada, que é o mais comum, e torce para a pessoa andar na rua olhando para o lado. Que se andar reto, inclusive vai tropeçar e cair no chão, porque as nossas calçadas estão uma lástima. É preciso flexibilizar, facilitar o trabalho das pessoas que estão gerando emprego, renda e oportunidade. Digo mais, a gente tem um centro da cidade tão escuro, que as pessoas têm medo de frequentar à noite. Por que não a liberação de anúncios luminosos? Se você libera anúncio luminoso, o próprio setor privado complementa a iluminação pública. Por que restringir? Hoje a gente tem uma prefeitura que, infelizmente, é uma bola de ferro para o empreendedor belo-horizontino. E é isso que a gente quer mudar.
Como desburocratizar?
Isso passa pela revisão do código de posturas, passa pela diminuição das amarras para os comerciantes, para que eles tenham mais liberdade de trabalhar, passa por você fazer uma prefeitura mais eficiente, que consiga liberar os alvarás de funcionamento mais rápido. Isso é uma pauta minha. Eu quero, inclusive, trazer para Belo Horizonte a lei de liberdade econômica, que ainda não foi feita no município. Na Assembleia Legislativa fui o autor da lei que classificou as atividades de baixo risco no Estado para que elas pudessem funcionar de maneira mais célere. É um compromisso que eu tenho também com o empreendedor, com o comerciante belo-horizontino. Passa pela questão do plano diretor para a gente voltar a ter o setor da construção civil pujante. E daí a importância de um bom relacionamento com o Legislativo, porque tudo isso depende da Câmara dos Vereadores. Obviamente que a gente tem um norte, a gente que vai mandar a revisão do código de posturas, no novo projeto do plano diretor, mas isso precisa ser aprovado na Câmara, então a gente precisa ter um diálogo para fazer as mudanças que Belo Horizonte precisa.
A economia de Belo Horizonte gira em torno principalmente de comércio, serviços e turismo. Como incentivar esses setores e até mesmo diversificar a economia da cidade?
A gente até tem uma indústria importante ali no Vale do Jatobá, que precisa ser protegida, mas não é a força motriz da nossa economia. E a questão é desburocratizar, incentivar a prática de eventos, facilitar a liberação de um alvará de funcionamento, valorizar o que Belo Horizonte já tem. A Lagoa da Pampulha é um cartão-postal maravilhoso, mas parece que ninguém quer resolver o problema, porque nos últimos 20 anos, a gente gastou quase R$ 1,5 bilhão na limpeza da lagoa e nada foi resolvido. O que a gente observa é um sistema político que não quer resolver o problema, porque vê ali uma fonte inesgotável de dinheiro público. Mais recentemente, a gente teve o último capítulo dessa novela, que foi a renovação do contrato de limpeza com uma empresa que já está limpando a lagoa há nove anos e não dá resultado. A lagoa continua suja e a contratação foi feita sem licitação, contra a manifestação do Ministério Público e mais R$ 22 milhões do nosso dinheiro está sendo investido neste contrato sem um processo licitatório. A gente precisa trabalhar para recuperar a Lagoa da Pampulha, trabalhar para valorizar e divulgar o nosso parque municipal. Quando Arão Reis desenhou Belo Horizonte, o parque municipal era para ser o coração da cidade, a área de lazer de Belo Horizonte. Ele já foi dividido em três e mesmo assim continua sendo um parque maravilhoso, um ambiente bacana para as famílias frequentarem. Muita gente já frequenta, mas a gente pode atrair ainda mais pessoas. A gente pode e deve cuidar e divulgar o Parque das Mangabeiras. O Parque das Mangabeiras é o segundo maior parque urbano do Brasil. A gente precisa que as pessoas conheçam o parque, que venham, visitem o ambiente onde você consegue ter um contato com a natureza. Belo Horizonte tem um potencial enorme. Se a gente for falar das potencialidades da cidade, a gente olha para a gastronomia, a gente tem a melhor comida do Brasil, quem sabe o mundo. Precisamos fomentar isso, trazer as pessoas para conhecer o Comida di Boteco, os nossos bares, nossos restaurantes. Uma coisa que me entristece hoje é que Belo Horizonte virou, no turismo, uma cidade de passagem. As pessoas pousam em Confins para ir para Inhotim, não passam em Belo Horizonte. Vão para região dos Inconfidentes, visitam as nossas cidades históricas, Ouro Preto e Mariana e não param para conhecer a Capital. Eu acho que falta essa divulgação e falta valorizar os potenciais que a gente já tem.
Esse incentivo você acha que passa pela divulgação ou é preciso algum incentivo econômico para a cultura, a gastronomia, o turismo?
Eu acho que passa pela divulgação e passa pelo cuidado. A questão da gastronomia, do turismo, passa por um diálogo. A gente tem um diálogo muito bom com o pessoal da Abrasel. Entender quais são as demandas, como a gente pode fomentar mais eventos como o Comida di Buteco, que é um sucesso absoluto. Passa pelo cuidado. A lagoa, não adianta divulgá-la agora, é preciso limpá-la para voltar a atrair turistas. Passa pela manutenção dos espaços públicos, mas passa também pela divulgação. Muitas pessoas não sabem o rico patrimônio que a gente tem em Belo Horizonte e uma vez isso divulgado pode gerar interesse em conhecer a nossa cidade.
Belo Horizonte tem se posicionado cada vez mais como uma das principais cidades realizadoras de Carnaval no Brasil. Se Bruno Engler for eleito prefeito teremos Carnaval?
Com certeza teremos Carnaval. Qualquer um que se candidata ao Poder Executivo, precisa entender que existem as suas preferências pessoais e existem as demandas da cidade. Eu, Bruno Engler, enquanto cidadão, não sou um frequentador de Carnaval, não é uma coisa da minha personalidade, mas eu entendo que gera receita, investimento, movimenta a economia da cidade, então a gente quer sim manter e inclusive aprimorar o nosso Carnaval. Uma das coisas que a gente quer fazer é aumentar o investimento privado. Esse ano foi uma queda vertiginosa do investimento privado, teve problema de prestação de contas de carnavais anteriores e a prefeitura precisou colocar muito dinheiro público e pedir ajuda ainda ao governo do Estado para poder realizar o Carnaval. Evidente que se a gente não conseguir arrecadar tudo junto ao setor privado, precisa ter investimento público, pela magnitude da festa. Mas a gente quer manter o Carnaval de Belo Horizonte. A cidade já entrou no mapa do Carnaval. A gente quer manter a festa com milhões de pessoas, movimentando a economia da nossa cidade. Jogar o máximo possível de investimento para a iniciativa privada, mas aquilo que não for possível o poder público pode e deve suprir.
Os setores de comércio, serviços, o próprio Carnaval, são basicamente compostos por pequenos empreendedores. O que você propõe para incentivar essa categoria?
Mais uma vez, é preciso focar na desburocratização. Acho que a gente precisa ter uma fiscalização, mas uma fiscalização racional. A prefeitura não pode querer ser adversária de quem empreende. A gente tem esse compromisso. É algo que vamos fazer, chegando na prefeitura: revisão do Código de Posturas, para que eles tenham uma flexibilidade maior. E um compromisso que eu faço, sem titubear, é o seguinte, quando eu for prefeito, nós não vamos aumentar imposto algum. E vamos trabalhar para reduzir os impostos. Eu não vou fazer aqui nenhuma promessa vazia de qual imposto, qual taxa, porque é preciso entender a realidade financeira da prefeitura, o que a gente pode cortar de gasto, onde precisa de investimento, para saber onde é possível fazer corte de impostos. Mas o que eu posso me comprometer é não aumentar imposto algum e desburocratizar ao máximo para que as pessoas tenham liberdade para empreender. Existe um ditado que é aquele, “muito ajuda quem não atrapalha”. Hoje a prefeitura ajuda pouco e atrapalha muito. É preciso mudar essa realidade.
Você é a favor ou contra a mineração na Serra do Curral?
A gente não pode colocar no mesmo balaio irregularidades, quem está infringindo a lei e quem está trabalhando conforme o que a lei prevê. Evidente que qualquer tipo de iniciativa minerária que for proposta, que vai gerar barulho, poeira, transtorno para o belo-horizontino, jamais será aprovado. Do lado de cá da Serra, do nosso cartão-postal, nunca vai ter mineração. Mas a mineração nas costas da Serra do Curral já existe há muito tempo. São atividades que funcionam de maneira regular, que têm todas as licenças ambientais, que não apresentam risco nem para o meio ambiente, nem para o Belo Horizonte. Então, não tem por que a gente ser oposição por oposição. Isso é bravata de período eleitoral. O que a gente vai ter é uma fiscalização ferrenha e não vai ter nada de irregular na nossa serra.
Quais são suas propostas para a educação?
Para a educação a gente tem duas prioridades absolutas. Primeiro, zerar a fila da educação infantil. Hoje a gente tem cerca de 1.600 crianças esperando vaga. Para isso, vamos ampliar a rede parceira. Hoje a prefeitura já tem uma rede parceira de creches, de escolas particulares e a gente quer fazer mais processos licitatórios para que escolas particulares possam se inscrever e a prefeitura possa realmente estar pagando a mensalidade de crianças, de famílias de baixa renda, para zerar essa fila da educação infantil. E outra prioridade absoluta é o retorno do ensino integral. A gente entende que o que o Kalil fez foi uma covardia. Ele se elegeu em 2016 prometendo mais vagas na educação infantil. E o que fez? Acabou com o ensino integral, ficou metade das vagas de manhã, metade das vagas da tarde, assim que ele dobrou as vagas. Isso é uma falta de respeito com o pai, com a mãe que precisam trabalhar o dia todo e precisam de um lugar onde eles sabem que o filho vai estar bem cuidado, bem-educado, seguro, para poderem trabalhar com tranquilidade.
Você acredita no modelo cívico-militar?
Acredito, porque funciona. E está, inclusive, no nosso plano de governo. É importante até ressaltar que escola cívico-militar não é pauta ideológica. Escola cívico-militar é uma ferramenta de melhoria da educação. A gente não tem nenhuma ainda a nível municipal, no meu governo vamos fazer, mas a gente já tem aqui em Belo Horizonte escola cívico-militar do modelo estadual, que já está dando resultado. Quer um exemplo mais antigo, ainda mais duradouro? Olha para os Colégios Tiradentes. Todos têm fila. Os pais querem, e querem muito, vaga no Colégio Tiradentes. Por quê? Porque é um modelo que funciona. Cria-se um ambiente de hierarquia, de disciplina, que propicia o aprendizado. Eu acredito, sim, no modelo da escola cívico-militar, não por uma questão ideológica, mas pelos resultados que a gente observa. É um modelo que funciona e a gente quer trazer para melhorar a educação dos jovens belo-horizontinos. Até porque a gente observa, nos últimos anos, os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) apontam que nos anos iniciais, mesmo com aumento de investimento, você não teve melhora e nos anos finais, houve queda de meio ponto. Alguma coisa precisa mudar e a gente acredita que o modelo cívico-militar é uma ferramenta importante para isso.
Por falar em Ideb, a gente está caindo no ranking. Como reverter isso?
A gente sabe que o modelo cívico-militar não é algo que a gente consegue fazer em todas as escolas de Belo Horizonte. Por isso, a gente vai fazer primeiro um projeto-piloto e depois vai expandindo o número de unidades. Mas a gente entende que mesmo estando no século XXI, a metodologia escolar é do século XIX. Acho que a gente pode e deve investir em soluções de inovação para a sala de aula, que gerem um interesse maior para os nossos jovens. Isso é claro que não se faz da noite para o dia, é um investimento que precisa ser feito, mas quanto mais você puder trazer tecnologia para dentro da sala de aula, você gera mais interesse, você gera mais engajamento e você propicia mais aprendizado. Aquele método antigo não gera mais o interesse dos alunos. Ele é bom, é eficiente, tem o seu lugar, mas eu acho que falta um pouco de modernidade no ensino em Belo Horizonte.
Você falou em projeto-piloto e de não instalar isso em todas as escolas. Como seria isso? Seria facultativo? Seria em toda a rede municipal?
Primeiro, a gente vai ver através de estudos qual escola teria uma maior necessidade do modelo cívico-militar. Toda escola de modelo cívico-militar, quando era o programa do presidente Bolsonaro, que o atual presidente acabou, você fazia um plebiscito, por assim dizer, com a comunidade escolar, para ver se quer ou não aderir ao modelo. Todas às vezes que isso foi feito, a comunidade escolar aderiu. Foi assim a nível estadual e é assim em todo o Brasil. Tinha sido no governo anterior. Então a gente vai indagar a comunidade escolar e eu tenho certeza que vai ser aprovado e a gente vai começar por uma escola. Essa escola eu tenho certeza que vai dar resultado, porque todas que implementaram esse modelo deram resultado, e a partir daí a gente vai ampliar esse número de escolas. O máximo que a gente puder fazer, com certeza, será benefício para os alunos.
Você citou a tecnologia para resolver diversos problemas da cidade: mobilidade, saúde e educação e Belo Horizonte tem uma vocação para empresas de base tecnológica. Como incentivá-las e atrair outros negócios desse segmento?
Isso também está no nosso plano de governo. A gente quer, além da desburocratização, pensar em incentivos fiscais para startups, para empresas de tecnologia, para que se instalem aqui em Belo Horizonte. Porque BH tem essa vocação, mas a gente tem perdido essas empresas para as cidades da região metropolitana e às vezes para outros centros, outras praças, como São Paulo. A gente quer reter e atrair essas pessoas aqui em Belo Horizonte. Isso passa realmente por você ter um ambiente de incentivo fiscal, com menos burocracia para que as pessoas queiram estar aqui em Belo Horizonte. E é importante para a nossa cidade, porque nossa economia ainda depende muito de comércio e serviços, temos uma indústria pequena. A indústria da tecnologia não demanda o mesmo espaço, a mesma infraestrutura que as outras indústrias, mas ela gera riqueza na mesma medida, em muitos casos até maior. Então, é uma prioridade nossa fomentar esse setor.
Como reduzir as filas na saúde?
O problema da saúde em Belo Horizonte não é nem falta de investimento, é falta de gestão. BH investe mais de R$ 6 bilhões em saúde, é a capital que mais investe em saúde por habitante. É mais de R$ 2 mil por mês por habitante. Só que o cidadão não percebe essa qualidade no serviço. Não percebe esse investimento num bom serviço de saúde, porque falta gestão. Belo Horizonte hoje está no analógico, no papel. Eles tentaram fazer aí o Sistema Integrado de Gestão Hospitalar, não deu certo. A gente precisa fazer um sistema que funcione integrado, digitalizado, que tenha todas as unidades de saúde do município se comunicando. Aí você tem a informação do horário que o paciente chegou, do estado em que ele chegou, até para poder remanejar o paciente para onde tem a vaga e conseguir atender com mais agilidade. Hoje falta um atendimento em telemedicina, a gente já tem, mas é muito pequeno. A gente quer ampliar esse atendimento porque desafoga a rede de saúde. Muita gente pode ser atendida sem nem sair de casa. Às vezes o que o cidadão está precisando, ele está com uma síndrome gripal, não consegue ir para o trabalho, é de um atestado. Então ele não precisa ir até a UBS. O médico consegue aferir pelo telefone a distância e já manda o atestado no celular do cidadão. Às vezes o que o cidadão está precisando é de uma receita, da mesma maneira, o médico vai avaliar através do celular, vai passar os seus sintomas e ele já consegue receber a receita no próprio celular. Falta isso, falta esse dinamismo, porque essa pessoa que deixa de sair de casa, além de ser mais confortável para ela, você desafoga as unidades de saúde. Para além disso, eu entendo que a gente precisa focar mais na prevenção, porque o dinheiro investido na prevenção não é gasto, é investimento. Além de ser mais benéfico para a saúde do cidadão, é um gasto menor. Na cidade de São Lourenço, eles têm o programa Viver Bem com diabetes. A própria prefeitura fornece os monitores de diabetes e vai acompanhando o status dos pacientes para evitar uma complicação, evitar uma internação, porque é uma doença crônica que precisa ser acompanhada. Outro exemplo, que também está no nosso plano de governo, é a questão do acompanhamento pré-natal. Têm exames que hoje a prefeitura não fornece e que a gente vai fornecer de pré-eclâmpsia e eclâmpsia. É um exame de acompanhamento pré-natal que você consegue identificar de maneira precoce uma complicação na gravidez. Nisso, você resguarda não só a saúde da mãe e a saúde do bebê, que é o mais importante, obviamente, mas você também gera uma economia ao evitar uma internação. Então, por mais que não seja um exame barato, é financeiramente mais interessante. E é mais interessante, do ponto de vista da saúde do cidadão, você ter esse aparato preventivo.
Essa gestão também seria a solução para organizar o volume de pacientes que vêm do interior?
A organização de pacientes que vêm no interior passa por muito diálogo com as outras prefeituras e com o governo do Estado. Mas não adianta a gente querer negar, pois Belo Horizonte é a capital de todos os mineiros. Somos cidade-polo em saúde e a gente precisa acolher as pessoas que chegam aqui precisando. Mas isso tem que ser feito de maneira organizada, precisa realmente dessas pontes, desses diálogos. E aí eu falo da falta do protagonismo, porque a gente recebe muita gente de distâncias maiores do interior, mas recebe também pessoas da região metropolitana. A prefeitura precisa construir essas pontes com as prefeituras do entorno, com o governo do Estado, até para fazer parcerias que tragam mais investimentos. Você fazer relatórios e falar, “ô, senhor governador, a gente atende muita gente fora de BH. Então a gente precisa de recursos do Estado para atendimento de saúde”. Falta esse dinamismo, esse diálogo hoje. O que a gente não pode fazer em hipótese alguma é negar atendimento. A gente precisa ter esses dados para poder mapear essa situação, para poder levar a conta para o governo do Estado, ou para o governo federal, ou construir pontes com outras prefeituras.
Como você pretende trabalhar a segurança pública da cidade e reduzir o número de pessoas em situação de rua?
Eu costumo dizer que antes de você começar a resolver a questão das pessoas em situação de rua, você precisa entender o problema. Hoje, os números oficiais da prefeitura dizem que a gente tem pouco mais de 5 mil moradores de rua em Belo Horizonte. Isso é rir da cara do cidadão. Só na região central a gente tem bem mais do que isso. Então, se a prefeitura sequer sabe quantos moradores de rua têm na cidade, como ela vai resolver o problema? Vamos fazer um mapeamento amplo e compreensivo dos moradores de rua. Queremos entender quantos são e onde eles estão. A partir daí, precisamos conversar com essas pessoas para entender por que cada uma delas foi parar na rua. Porque cada pessoa tem uma história. Tem gente que está ali por vício e é preciso buscar uma internação, um tratamento. Tem gente que está por problema emocional, às vezes perdeu um ente querido, separou da esposa, ficou desgostoso com a vida e é preciso um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico para a pessoa retomar o ânimo do convívio normal em sociedade. Tem gente que precisa de um emprego; se tiver uma fonte de renda, consegue alugar um quarto, consegue arrumar um teto e sair dessa situação. Aí é preciso buscar uma requalificação profissional, um reposicionamento no mercado de trabalho. Hoje, não existe esse diálogo, não existe essa escuta. Ninguém nunca indagou por que aquelas pessoas estão ali, como elas vão sair?
Quanto ao meio ambiente, qual sua maior preocupação?
Nossa maior preocupação é a situação das chuvas. Já estamos há mais de quatro meses sem chuva e a nossa preocupação é quando a chuva vier, com qual intensidade ela virá. A gente precisa ampliar o investimento em infraestrutura de chuva. Hoje a prefeitura já tem investido em bacias de contenção, os piscinões e isso precisa ser mantido e finalizado. Muitos deles ainda estão em construção, mas a gente tem buscado outras soluções também, mais modernas e tecnológicas, que aumentem a infiltração do solo. Porque um dos grandes problemas que gera enchente aqui na Capital é que Belo Horizonte tinha muitos rios, até hoje tem, só que eles estão cobertos por avenidas. E esses rios são bacias hidrográficas. Antes, chovia e infiltrava nos terrenos e a quantidade de água que ia para a bacia hidrográfica era menor e em menor velocidade. Hoje, com a urbanização, a água corre em grande quantidade de maneira muito rápida para a bacia hidrográfica e fica um volume maior do que a capacidade de vazão dessas bacias. Para além das bacias, também estamos conversando com engenheiros para ver formas de aumentar essa infiltração da água no solo e chegue menos água em menor velocidade na bacia e a gente consiga diminuir o problema de enchentes.
Belo Horizonte ainda enfrenta déficit na arrecadação. Como otimizar o orçamento?
A gente pode e deve aumentar a arrecadação, mas existe também um problema de gestão. Belo Horizonte pela primeira vez em muito tempo apresentou um orçamento deficitário. Mas é ano eleitoral, o prefeito precisa gastar para tentar se reeleger. Estamos com gastos na ordem de R$ 19,8 bilhões e previsão de receita de R$ 19,6 bilhões. BH está R$ 200 milhões no vermelho. A gente precisa melhorar a gestão desse recurso, estancar o ralo da corrupção e cortar o supérfluo para dar prioridade àquilo que é essencial, como saúde, educação, mobilidade e segurança. Para além disso, acredito em aumento de arrecadação, mas não através de aumento de imposto. Não aumentaria imposto algum. Eu entendo que a gente aumenta a arrecadação a partir do momento que a gente gera mais receita. Quando a gente destrava a atividade comercial através da revisão do Código de Posturas, o comerciante vai ter uma liberdade, uma condição melhor de vender o seu produto, ganhar mais dinheiro, contratar mais gente, fazer a economia girar e também de pagar mais imposto e assim, aumentar a arrecadação da prefeitura. Se destravar o setor da construção civil, destrava a economia de Belo Horizonte, recolhe mais ISS, novos IPTUs e ITBIs. A gente não precisa de mais imposto, a gente precisa gerar mais receita para aumentar a arrecadação.
Qual é o Belo Horizonte que o Bruno Engler quer para o futuro, sendo eleito ou não?
Primeiro eu quero uma Belo Horizonte segura. Quero que as pessoas tenham tranquilidade de andar nas ruas. Eu não quero mais ver a realidade triste de as pessoas terem medo de andar na nossa cidade à noite. Quero uma Belo Horizonte que fomente o crescimento, que seja parceira, que seja amiga. daqueles que geram emprego e renda e oportunidade na nossa Capital. Hoje a gente tem uma prefeitura que é adversária, quase que inimiga dos empreendedores. Eu quero uma Belo Horizonte que, de fato, cresça e avance junto com a modernidade que ela precisa e merece.
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