Carlos Viana troca o PSD pelo MDB para disputar o governo de Minas no próximo ano

Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o senador Carlos Viana, que acabou de trocar o Partido Social Democrático (PSD) pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), confirmou que a mudança ocorreu com o objetivo de concorrer ao governo de Minas Gerais nas eleições de 2022. Atual vice-líder do governo Bolsonaro e cotado para ser líder em 2022, o senador vê diversos desafios a serem superados caso seja eleito para governar Minas.
Entre os desafios considerados urgentes, Viana destaca como prioridade resolver o déficit orçamentário do Estado, que, segundo ele, não vem sendo trabalhado com a seriedade necessária.
Viana também acredita que é importante construir um planejamento e metas para o futuro do Estado, o que não tem sido feito. O plano inclui, por exemplo, a melhoria do sistema educacional, a capacitação e a formação de mão de obra jovem. Além disso, é considerada essencial a criação de políticas públicas para diversificar a economia e fortalecer os potenciais do Estado, como o turismo e a gastronomia, por exemplo.
Considerado um dos principais interlocutores de projetos importantes para Minas Gerais junto ao governo federal, Viana teve participação efetiva na criação do edital da concessão BR-381, na destinação de R$ 2,8 bilhões para o metrô de Belo Horizonte e na aprovação do Marco Legal das Ferrovias, marco este que trará, somente para o Estado, cerca de R$ 50 bilhões em investimentos.
O que motivou a troca de partido?
O que motivou, principalmente, foi a decisão de colocar o meu nome para o governo do Estado. Desde o início do semestre eu venho conversando com o Kassab sobre o desejo, mas eu percebi que o partido estava muito alinhado com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Meu espaço ficou muito curto e eles pediram para esperar até março. Mas, até lá, todo o cenário estaria decidido e afetaria a minha decisão. Deixei claro que poderia sair do partido. O MDB conversou comigo e me propuseram, pelo MDB em Minas, ter candidatura própria. Saio do PSD com a certeza de dever cumprido. Ajudei muito o partido em Minas. Agora é uma caminhada nova.
Com a mudança de partido, continuará como vice-líder do governo Bolsonaro? Está cotado para ser líder do governo?
Quando eu decidi sair do PSD, conversei com o presidente Jair Bolsonaro e coloquei meu cargo à disposição, mas ele me manteve. Expliquei os motivos que me levaram a sair do PSD. Naturalmente, o partido poderia optar por algum outro tipo de palanque em Minas. Ficou muito claro para o presidente. Em Minas, o partido do presidente é o PL, que está afinado com o governador Romeu Zema. Ao que parece, o Palácio do Planalto espera apoio do governador, há um compromisso entre eles. A questão de me tornar líder está, realmente, no ar. O governo já foi consultado sobre a possibilidade, mas é um assunto que será decidido no final de janeiro e início de fevereiro. Mas a possibilidade existe.
A intenção é realmente disputar o governo do Estado?
Sim. A intenção do MDB é lançar candidatura própria. O partido precisa ter a representação à altura que tem. Hoje é o partido com o maior número de prefeitos em Minas, temos o maior número de mulheres eleitas. Uma candidatura própria ao governo também aumenta a possibilidade de uma chapa de deputados federais mais forte, o que é uma coisa muito importante hoje. Eleger o maior número de deputados traz forças para o Estado.
Como pré-candidato ao governo de Minas Gerais, qual o principal desafio deve ser enfrentado em uma possível gestão estadual?
O principal desafio é enfrentarmos com transparência a questão do déficit orçamentário de Minas Gerais. O déficit hoje é maior que o deixado pelo ex-governador Fernando Pimentel. O Estado não encarou o problema com a seriedade necessária e pode piorar. Entramos em período de reeleição, e o atual governador está fazendo exatamente o que disse que não faria. Está nomeando servidores, politicamente, para todas as secretarias e entregando obras – para os prefeitos – que não serão executadas porque não há dinheiro para execução. São promessas de obras sendo feitas, mas que dificilmente o Estado terá como executar. Aos deputados estaduais, na tentativa de encontrar apoio, além de cargos que estão sendo entregues nas secretarias, está prometendo obras sem ter dinheiro para isso. Tudo que se prometeu para controlar o déficit não está sendo feito. O próximo governo terá este primeiro e grande desafio, encarar o déficit.
Como avalia a proposta de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF)?
Este é outro desafio. Acredito que junto com a ALMG e o funcionalismo teremos que buscar uma saída. Como foi elaborado, o regime de recuperação fiscal prejudica muito o funcionalismo, injustamente. É preciso um equilíbrio. Os servidores estão sem aumento há quatro anos e não podem ser culpados por um déficit que é muito maior que apenas a questão da folha de pagamento. É um assunto que tem que ser tratado com muita conversa entre o funcionalismo, sindicatos e todos os envolvidos para encontrarmos uma solução. Temos, sobre o Estado, uma espada que é a liminar que está com o ministro Barroso. Se cair, são pelo menos R$ 33 bilhões a serem pagos. São três anos de folha de pagamento dos servidores. Se cair, vai ser o caos. É preciso resolver para trabalhar com estabilidade.
O que projeta para o futuro do Estado em relação à geração de renda, na diversificação das atividades econômicas?
Precisamos pensar as metas para o Estado. Nós precisamos retomar a meta da educação, melhorar as médias dos exames dos alunos, reduzir a evasão, investir na formação de mão de obra dos adolescentes já no ensino médio. Isto é tão importante quanto à questão do déficit. Minha visão é que um País só se desenvolve se ele tiver pessoas que acumulem conhecimento. A informação é a grande riqueza do mundo moderno. Os empregos estão acabando, mas o trabalho não. Para isso, as pessoas precisam ter informação e formação para gerar a própria riqueza e o próprio trabalho. Valorizamos tanto as startups quanto os apps porque geram riquezas por meio de um conhecimento novo. O Estado precisa dar condições e ter políticas públicas para dar chance e fazer com que os jovens cresçam pelo próprio conhecimento. A melhor maneira de distribuir riquezas e gerar oportunidades de conhecimento. Precisamos pensar em Minas daqui a 15 anos ou 20 anos, quando não tivermos mais a mineração como principal fonte de renda. O que será do Estado? Precisamos pensar em políticas para pensar o Estado, turismo, empreendedorismo, gastronomia, serviços. Tudo tem que ser pensado. Precisamos para o futuro.
O senhor foi um dos principais interlocutores de projetos importantes para Minas, como o da concessão do metrô da Capital e da BR-381. Quais outros projetos devem ganhar a atenção em 2022?
Nós conseguimos, em 2021, dois passos muito importantes também: a criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6) e a ampliação dos municípios mineiros na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), são vitórias e avanços políticos enormes. Existem dois outros projetos, previstos para agora no primeiro semestre, que estou trabalhando de perto. O primeiro é a concessão da BR-381 com pré-data marcada para o leilão em 7 de fevereiro. Já o leilão para concessão do metrô, estamos trabalhando a possibilidade de ser realizado em março. A possibilidade existe, estamos correndo para cumprir os prazos. A concessão da BR-381 é o início de um novo tempo, compromisso assumido pelo governo federal e por mim.
A ampliação do Metrô de Belo Horizonte realmente vai sair?
Já temos R$ 2,8 bilhões garantidos pelo governo federal e R$ 400 milhões do governo estadual. Por um ano, o governo de Minas não quis falar em metrô, quando conseguimos os recursos federais, eles vieram com a proposta dos R$ 400 milhões. Com estes recursos, pelo menos, a operação fica mais moderna e vem a linha dois Barreiro. Tenho muita tranquilidade de que entregaremos um metrô renovado e uma linha dois até o Barreiro. Agora, a ampliação que queremos, eu defendo um plano de ampliação estratégica até Ribeirão das Neves. Esse terá que ser negociado, como estou defendendo. Minha proposta está lá, não sei se o governo federal vai aceitar. Defendo que agora, na concessão do metrô, que a gente estabeleça o projeto de ampliação com prazos.
Como senador, o senhor teve participação ativa na aprovação do novo Marco Legal das Ferrovias. Como Minas Gerais será beneficiado?
O novo Marco das Ferrovias trará investimentos em torno de R$ 50 bilhões somente para Minas Gerais. No País, serão R$ 120 bilhões em aportes. Acredito que em cinco anos teremos, no Estado, o modal ferroviário entre os principais em mobilidade para escoamento da produção no Brasil. Além disso, nós já temos quatro pedidos de investimentos em ferrovias em Minas, fora os ramais internos que vão surgir.
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