Política

Cid é envolvido em tentativa de golpe

Documentos encontrados em celular de ex-assessor de Bolsonaro indicam plano para decretar Estado de Sítio
Cid é envolvido em tentativa de golpe
Crédito: Carlos Moura / STF

Brasília – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou na sexta-feira (16) o sigilo do relatório da Polícia Federal com análise do conteúdo encontrado no celular do Exército tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

As mensagens recuperadas no aparelho de Cid mostram diálogos em que interlocutores, oficiais da força, debatiam o uso das Forças Armadas contra o resultado das eleições vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Parte do material foi revelada pela revista Veja.

Uma das pessoas que trocaram diálogos com o ex-auxiliar de Bolsonaro foi o coronel Jean Lawand Junior, recentemente designado para representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington. A nomeação foi cancelada na sexta-feira (16) pelo comando do Exército.

“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele (Bolsonaro) dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército brasileiro se esses caras não cumprir a ordem do comandante supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um general, que não recebeu, que não aceitou a ordem do comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer”, disse Lawand em um dos áudios, segundo transcrição da PF.

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No celular do ex-assessor de Bolsonaro, há ainda material com a tese do advogado e professor emérito da Universidade Mackenzie Ives Gandra Martins, segundo a qual o artigo 142 da Constituição permitiria uma intervenção das Forças Armadas em caso de conflito entre os Três Poderes.

Segundo a PF, os estudos de Ives Gandra “serviram de fundamento para a confecção de uma minuta de decretação de Estado de Sítio e Garantia da Lei e da Ordem – GLO, identificada no aplicativo WhatsApp de Mauro Cid”,

O delegado Fabio Shor, responsável pelo caso, afirma que o material encontrado no celular de Cid aponta para a tentativa “materialização no mundo real dos objetivos” antes defendidos nas redes pela associação criminosa investigada no inquérito das milícias digitais.

Nesse inquérito são investigados Cid, Jair Bolsonaro, Anderson Torres e outros bolsonaristas envolvidos em eventos antidemocráticos como a live de 29 de julho de 2021 em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, no vazamento do inquérito sigiloso do ataque hacker ao TSE e na organização do 7 de setembro de 2021 e 2022.

“A milícia digital reverberou e amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando aos seus seguidores “resistirem” na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares”, diz a PF.

Marcos do Val

O ministro Alexandre de Moraes, autorizou que a Polícia Federal tome depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no âmbito das investigações que miram o senador Marcos do Val (Podemos-ES). O senador foi alvo de busca e apreensão na última quinta-feira (15).

A operação contra Do Val foi autorizada por Moraes. O ministro ainda ordenou ainda o bloqueio de redes sociais do senador.

Moraes determinou a abertura de investigação contra o senador em fevereiro para apurar suspeita da prática dos crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação.

A apuração contra Do Val foi aberta após ele fazer uma transmissão ao vivo pelas redes sociais na qual afirmou que a revista Veja publicaria uma reportagem mostrando que Bolsonaro tentou coagi-lo a “dar um golpe de Estado junto com ele”.

Horas depois, o senador recuou da acusação direta e disse que Bolsonaro “só ouviu” o plano do ex-deputado federal Daniel Silveira e afirmou que iria pensar a respeito.

Moraes ao pedir a investigação disse que Do Val, ao ser ouvido como testemunha pela Polícia Federal a respeito do caso, apresentou “uma quarta versão dos fatos por ele divulgados, todas entre si antagônicas, de modo que se verifica a pertinência e necessidade de diligências para o seu completo esclarecimento”. (Marcelo Rocha, Fabio Serapião e Ranier Bragon/Folhapress)

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