Ciro Gomes acompanha o PDT e apoia Lula
Brasília – Quarto colocado nas eleições de 2022, Ciro Gomes anunciou ontem apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL), em decisão que acompanha a do PDT e que ocorreu após a campanha do petista endossar três propostas do pedetista.
O pronunciamento de cerca de 3 minutos foi divulgado pouco depois de o partido formalizar o apoio a Lula, após reunião da Executiva realizada de forma virtual e presencial, na sede do partido, em Brasília.
“Frente às circunstâncias, é a última saída”, disse Ciro. Ele afirmou lamentar que a “trilha democrática tenha afunilado a tal ponto que resta aos brasileiros uma opção, a meu ver, insatisfatória.”
“Não acredito que a democracia esteja em risco nesse embate eleitoral, mas sim no seu absoluto fracasso na nossa democracia de construir um ambiente de oportunidades que enfrente a mais massiva crise social e econômica que humilha a esmagadora maioria do nosso povo”.
Ciro criticou a “campanha violenta” da qual foi vítima, mas afirmou que não vai se ausentar da luta pelo Brasil. “Sempre me posicionei e me posicionarei na defesa do País contra projetos de poder que levaram o nosso povo a essa situação grave e ameaçadora.”
Ele disse ainda esperar que a decisão ajude a oxigenar, mesmo que temporariamente, a democracia. “Mas se não houver a busca efetiva de novos ares, de novos instrumentos, estaremos a mercê de um respirador artificial frágil e precário, limitadíssimo no tempo e no espaço.”
No vídeo, Ciro ressaltou que não pleiteia e não vai aceitar cargos em um “eventual futuro governo”. “Ao povo brasileiro me dirijo: fiquem certos que, como sempre fiz, vou fiscalizar, acompanhar e denunciar qualquer desvio do governo que assumirá em janeiro”, disse.
Mais cedo, o presidente do PDT, Carlos Lupi, havia dito que Ciro concordava com a decisão do partido. “O Ciro não viajará, ficará aqui no Brasil e já declarou o apoio ao partido”, ressaltou.
Propostas
O PDT decidiu apoiar o PT após Lupi conversar com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na última segunda-feira e sugerir a ela a incorporação de três propostas de Ciro: o programa que prevê zerar dívidas do SPC, o plano de renda mínima e um projeto de educação em tempo integral.
“Tomamos uma decisão unânime, sem um voto contrário, e eu repeti isso três vezes porque se tivesse voto contrário poderia registrar em ata, está gravado, a decisão de apoiar o mais próximo da gente, que é a candidatura do Lula”, afirmou Lupi nesta terça. O presidente do PDT deve ir a São Paulo ainda nesta terça para se reunir com Lula.
Durante a campanha, Ciro fez uma série de ataques a Lula, principalmente após a pressão do PT pelo voto útil. Lupi contemporizou e lembrou das divergências entre o ex-governador Leonel Brizola e Lula.
Perguntado como Ciro faria para apoiar o petista depois de todas as declarações dadas durante a campanha, Lupi brincou e disse que a eleição já teve até “padre de quadrilha junina na campanha”.
“O processo político às vezes se acirra de uma maneira, e eu vivenciei disso do Brizola com o Lula, lá em 1989. É uma coisa muito forte, mas isso não impediu o Brizola de estar com o Lula na campanha.
Lupi afirmou que derrotar Bolsonaro é prioridade absoluta do partido. “Derrotar Bolsonaro é uma causa nacional, uma causa da pátria, uma causa dos democratas. Essa decisão é de apoio ao presidente Lula porque ele representa uma aproximação maior com nosso ideário. Não é o nosso ideário, não é o que a gente lutou para ser, mas é o mais próximo, e principalmente um não muito grande ao Bolsonaro e o que ele representa”, ressaltou o presidente do PDT. (Danielle Brant e Julia Chaib)
Simone Tebet fica ao lado do candidato petista
Brasília – A sinalização enviada pela senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada na eleição presidencial, de que pretende declarar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu uma disputa dentro do MDB entre alas próximas e refratárias ao petista.
Como Simone Tebet já informou aos aliados que sua decisão é irreversível, emedebistas que são adversários do PT em suas regiões passaram a pressionar para que o apoio ocorra de forma contida e em caráter pessoal – para evitar que o gesto seja lido como uma aliança nacional com os petistas.
Por outro lado, um grupo formado por políticos do MDB no Nordeste e pelo governador reeleito do Pará, Helder Barbalho, atuam para que o partido declare apoio a Lula. “Eu defendo que o MDB se posicione. O MDB não tem o direto de ficar omisso numa eleição nesse patamar. Ficar neutro nesse caso é se omitir”, afirmou Helder.
“Um partido da história do MDB, que tem valores como tem o MDB, que tem no nome Movimento Democrático Brasileiro, deve ser protagonista nessa eleição”, disse. Embora não diga de forma aberta que gostaria de ver o MDB endossando Lula, ele diz que não ficaria satisfeito caso o partido apoie o presidente Jair Bolsonaro (PL).
A tendência hoje no MDB é liberar os filiados para que endossem quem preferirem. À Folha de S.Paulo o presidente nacional do partido, deputado Baleia Rossi (SP), disse que gostaria de realizar uma reunião com correligionários sobre o assunto. Enquanto isso, ele tem consultado individualmente lideranças da sigla.
A ala bolsonarista do MDB diz que, se Simone confirmar a posição de apoio a Lula na corrida presidencial, a senadora deverá se desgastar com o partido.
“Não acredito que ela (Simone) vá fazer isso. Se ela declarar voto em Lula, ela vai sozinha, sem o apoio do partido», disse o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), que comanda a bancada ruralista no Congresso.
“Se a Simone for com o Lula, ela vai perder apoio dentro do partido, que agora vê a Simone como um excelente quadro pelo desempenho dela na eleição”, afirmou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que também é do setor ruralista da sigla.
Aliados de Bolsonaro tentam ainda emplacar o apoio formal do MDB à reeleição do presidente, mas, diante da força da ala lulista no Nordeste, eles acreditam que a legenda deverá mesmo ficar neutra no segundo turno.
Para senadores próximos, Simone declarou que não há chance de se alinhar a Bolsonaro. Ela assumiu uma posição de enfrentamento ao governo na CPI da Pandemia e tem criticado o uso de emendas parlamentares para ampliar o apoio de Bolsonaro no Congresso. (Renato Machado, Julia Chaib e Thiago Resende/Folhapress)
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