Política

Conflitos em Pacaraima afastam refugiados venezuelanos do Brasil

São Paulo – Ontem, era incomum o cenário na tenda da Operação Acolhida, em Pacaraima, na fronteira entre Roraima e a Venezuela. Em vez das costumeiras filas de refugiados, que até pouco chegavam a dar voltas do lado de fora do equipamento do Exército, responsável por receber e fazer triagem dos imigrantes, havia diversos bancos de espera vazios.

Segundo agentes do local, o fluxo de chegada de venezuelanos caiu de forma brusca desde o último sábado (18), quando um grupo de moradores de Pacaraima destruiu objetos e incendiou barracas de refugiados. Se antes, cerca de 1,2 mil pessoas cruzavam a fronteira, ontem não passavam de 300.

“Queimaram todos os meus documentos, só me sobrou a roupa do corpo”, diz o engenheiro de sistemas Raul León, de 36 anos, um dos venezuelanos atacados no sábado. Havia cruzado a fronteira na véspera. “A triagem demorou mais de um dia”, conta.

Desempregado, León saiu da Venezuela para fugir da falta de comida e de remédios. “Já passei três dias sem comer”, diz. “Sei operar redes de comunicação, câmeras de segurança. Recomendaram-me trabalhar em Manaus, mas não sei quando vou conseguir ir”.

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Medo – Após as agressões de sábado, León pensou em voltar. “Senti medo, mas depois as coisas foram se acalmando”, relata. “Os brasileiros pensaram que foram venezuelanos que agrediram o comerciante. Entendo. Mas nenhuma violência se justifica”.

Ao lado da mulher e de cinco filhos, a mais nova de dois anos e o mais velho de 12, o comerciante Gregorio Bello, de 37 anos, estava com a passagem comprada para o Brasil quando recebeu a notícia do incêndio no acampamento. “Não podia devolver, então pensei: ‘vamos, em nome de Deus’”.

O desejo, segundo conta, é chegar a Boa Vista e matricular as crianças na escola. “Até o momento, os brasileiros me atenderam muito bem”, diz. “Espero que dê tudo certo”.

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