Congresso reage a conflito na Ucrânia

Brasília – Parlamentares e órgãos colegiados do Congresso Nacional reagiram ontem às notícias de invasão de tropas russas na Ucrânia e condenaram a ação, cobrando dos envolvidos uma saída pela diplomacia e pelo diálogo.
Enquanto uns aproveitaram para “encorajar” o Brasil a atuar no âmbito diplomático, outros cobraram do governo brasileiro condene a invasão.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou em nota que acompanha com “crescente preocupação o agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia”. O senador lembrou do potencial de impactos político, econômico e social “difíceis mesmo de imaginar” da atual crise.
“Consoante a política externa brasileira, que historicamente tem-se orientado pela busca da paz e pela solução negociada dos conflitos internacionais, como presidente do Congresso Nacional e, em nome de meus pares, reafirmamos a necessidade de um diálogo amplo, pacífico e democrático com vistas a uma rápida solução negociada que contemple os legítimos interesses das partes envolvidas”, afirmou.
Na mesma linha, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), publicou no Twitter, apontando para a necessidade de “paz, entendimento e que as duas nações busquem os caminhos diplomáticos”.
“O mundo já enfrenta o luto de milhões de perdas da pandemia de Covid-19. À medida que voltamos à normalidade, assistimos uma escalada sem precedentes entre Rússia e Ucrânia”, postou o deputado.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que o colegiado repudia de forma “veemente” a ação militar contra a Ucrânia.
“Os bombardeios russos contra a Ucrânia, país soberano que conquistou sua Independência em 1991, violam as regras e normas internacionais e deve ser fortemente condenado pelas instâncias multilaterais e os governos democráticos”, afirmou em nota o presidente do colegiado.
Já o vice-presidente da mesma comissão da Câmara, deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), defendeu que o Brasil condene de forma veemente a ação militar da Rússia. Bueno lembrou da visita recente do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, quando a crise no leste da Ucrânia já se desenhava e classificou-a de “no mínimo, uma irresponsabilidade”.
“O Brasil não pode fazer vista grossa para megalomania do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ele invadiu um país soberano e está colocando em risco toda estabilidade mundial”, disse o vice-presidente da CRE, ressaltando que a soberania e a autodeterminação dos povos é princípio basilar de nossa democracia.
Por meio das redes sociais, outros parlamentares também se manifestaram contrários à invasão e favoráveis a uma solução negociada.
O vice-líder do governo no Senado Carlos Viana (MDB-MG) disse, usou publicação em seu Twitter para defender a soberania.
“O ataque não provocado da Rússia aos ucranianos mostra o quanto é necessário uma nação que tenha controle do próprio território, capacidade de defesa e diplomacia ativa”, afirmou Viana.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata do MDB à Presidência, afirmou, também na rede social, que os impactos no conflito no leste da Ucrânia já podem ser percebidos nos demais países, bolsas de valores e alta do preço do petróleo, com consequências negativas, como inflação e fome, para o Brasil. A parlamentar também cobrou ação do Itamaraty e do governo federal no âmbito diplomático e de auxílio aos brasileiros que se encontram na região.
“O Itamaraty precisa prestar assistência imediata aos brasileiros, garantir sua segurança e tirá-los da área de conflito”, publicou.
“E o governo federal precisa deixar claro que nosso respeito é à soberania e aos princípios de não intervenção territorial e que estaremos lutando por uma solução de paz, através do diálogo e da diplomacia. Que Deus tenha misericórdia… As consequências da guerra invisível da fome e da miséria podem ser mais sangrentas”, postou Tebet.
O senador Jaques Wagner (PT-BA) afirmou no Twitter que “é deplorável que a diplomacia perca para a beligerância. A ninguém interessam as guerras, que só resultam em destruição, fome e mortes. O diálogo é sempre o melhor caminho pra solução de conflitos. Nunca é demais lembrar: toda guerra se sabe como começa e não se sabe como termina”.
Itamaraty: não há condições para resgate
Brasília – O Brasil não tem condições de realizar no momento uma operação de resgate de brasileiros na Ucrânia devido ao fechamento do espaço aéreo, mas um plano de retirada do território ucraniano será colocado em prática assim que houver condições, disse ontem o secretário de Comunicação e Cultura do Itamaraty, embaixador Leonardo Gorgulho.
Não há definições, ainda, sobre como ou quando esse processo de retirada de brasileiros por meio terrestre ocorrerá. Segundo o secretário, também haverá a possibilidade de incluir argentinos, chilenos, uruguaios e paraguaios na operação, a pedido desses países.
“A embaixada do Brasil ou a de qualquer outro país não tem condições de fazer operações de resgate”, disse o embaixador, recomendando que brasileiros que estão em Odessa sigam para a Moldávia, enquanto aqueles que se encontram em Lviv procurem se deslocar para a Polônia.
A recomendação geral é que os brasileiros na região leste da Ucrânia, mais próxima à fronteira com a Rússia, movam-se para o oeste, seja por transportes locais ou meios próprios. Aqueles sem condições de deslocamento por meio próprio devem chegar a Kiev e entrar em contato imediatamente com a embaixada.
Para os que já se encontram em Kiev, a recomendação é que respeitem o toque de recolher e busquem abrigo em locais distantes de instalações militares, infraestruturas de energia ou de comunicações.
“Não há momento definido sobre quando essa evacuação poderá ocorrer por via terrestre”, disse Gorgulho em uma entrevista no Palácio do Planalto, em Brasília.
“São pré-requisitos fundamentais uma avaliação sobre a segurança no trajeto, a disponibilidade de meios e a possibilidade de que os brasileiros beneficiários desloquem-se ao ponto de encontro”, explicou. “Assim que estejam dadas as condições, respeitados os três eixos que mencionei, será feita a evacuação.”
Segundo o secretário, estima-se que 500 brasileiros encontrem-se na Ucrânia. Desses, 160 já se cadastraram junto à embaixada, de forma a receberem informações atualizadas sobre as recomendações e planos de retirada. Gorgulho lembrou da necessidade que os cidadãos no país façam esse cadastro.
Mais cedo, jogadores de futebol brasileiros que atuam na Ucrânia e suas famílias pediram ajuda pelas redes sociais para conseguirem sair do país. Em um vídeo, o grupo de cerca de 20 pessoas, entre jogadores, suas esposas e filhos, pede ajuda para ter informações e conseguir deixar a Ucrânia.
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