Política

Duda Salabert fala em BH como ‘cidade educadora’ e maior salário para professores entre as capitais

Confira a entrevista com a primeira deputada federal trans do Estado, que agora é candidata à Prefeitura de Belo Horizonte
Duda Salabert fala em BH como ‘cidade educadora’ e maior salário para professores entre as capitais
Primeira deputada federal trans da história de Minas Gerais, Duda Salabert (PDT) é candidata à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) nas eleições de 2024. Foto: Diário do Comércio / Isa Cunha

Duda Salabert (PDT) é a primeira deputada federal trans da história de Minas Gerais, eleita, em 2022, com mais de 208 mil votos. Também foi vereadora de Belo Horizonte – a primeira trans da história da Casa, e agora quer fazer história novamente, assumindo o posto máximo do Executivo da Capital.

Meio ambiente, saúde, educação e segurança pública estão entre as prioridades de seu plano de governo, que contempla, ainda, uma campanha lixo zero. Segundo ela, a primeira candidatura à prefeitura na história da América Latina que não usa papel. Em entrevista ao Diário do Comércio, a candidata denunciou que três máfias esvaziam os cofres públicos de Belo Horizonte: da Lagoa da Pampulha, do transporte público e do lixo. E que pretende combatê-las com fiscalização.

“A primeira forma de enfrentar essas mafias é não ter ‘rabo preso’ com elas. Eu não tenho nenhuma grande madrinha ou padrinho político atrás de mim, não tenho nenhum acordo escuso. […] Não vou lotear a prefeitura para essa máfia ter força. Vou tratar a política como tem que ser, com lisura, transparência e participação popular”.

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Por que você quer ser prefeita de Belo Horizonte?

Quero ser prefeita para que Belo Horizonte se transforme de fato em uma cidade educadora, pague o maior salário entre as capitais para professores, porque é impossível transformar a sociedade, senão por meio da educação, valorizando os  professores. Há um dado assustador que mostra que, em 2050, vai faltar professor no mercado, porque os jovens já não querem mais ser professor, porque é uma profissão desprestigiada, desvalorizada e ultimamente perseguida. Queremos que Belo Horizonte seja uma capital que valorize os professores e tenha a melhor educação pública do Brasil, mas para isso acontecer, para oferecer uma educação pública de qualidade, um transporte de qualidade, uma saúde de qualidade, e voltar a ser uma cidade jardim, precisaremos enfrentar as três grandes máfias que impedem o crescimento socioeconômico de Belo Horizonte.

Quais seriam estas máfias?

A máfia da Lagoa da Pampulha, que lucra com a lagoa suja; a máfia do transporte público, que lucra ao entregar para a cidade um transporte de péssima qualidade e caro; e também a máfia do lixo, que lucra com a cidade suja. Lucra ao fazer com que não tenhamos coleta seletiva avançando na cidade e, pior, lucra impedindo que possamos dar melhor estrutura para os catadores e catadoras de material reciclável.

As primeiras pesquisas apontavam em uma possibilidade de não termos um candidato à esquerda no segundo turno. Já a mais recente mostrou você em segundo lugar. A que você atribui esse avanço e o que a esquerda pode ter feito de errado nos últimos anos para esse resultado?

As pesquisas sérias publicadas nos últimos dois anos nos colocam em segundo ou em terceiro lugar. Elas sempre nos mostravam como uma viabilidade eleitoral. Esse fôlego é resultado de uma trajetória política que temos construído em Belo Horizonte. Eu também dei aula nessa Capital por mais de 20 anos, sou professora de literatura, inclusive eu digo sempre, eu posso estar na política, mas sou professora. Até porque eu reconheço que o papel de um professor ou de uma professora é muito mais relevante do que o de um político. O político cria e fiscaliza leis, mas o professor cria consciências. E o que muda o mundo, de fato, não são novas leis, mas novas consciências que se constroem em sala de aula. Cito sempre o verso do Gabriel Pensador que diz, ‘muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo é na mudança da mente’. Isso se constrói em sala de aula. E essa minha trajetória educacional também passa por projetos sociais e políticos, eu tenho mais de 20 leis aprovadas em Belo Horizonte. Fui vereadora por 24 meses e tenho 23 leis aprovadas. Eu aprovava quase uma lei por mês, recorde de aprovação na Câmara Municipal, mas também uma trajetória coletiva construída com vários movimentos que lutam por uma cidade melhor. Essas construções coletivas nos colocam, como a primeira vez nos últimos 20 anos, a chance da esquerda estar no segundo turno. E sobre o que a esquerda fez de errado, na verdade, nós não podemos separar o que acontece no municipal de um debate global. Vivemos hoje, infelizmente, a maior crise econômica da história do capitalismo. E quando há uma crise econômica tamanha, há um terreno fértil para a cessão de governos totalitários, autocráticos e da ultradireita, que é um fenômeno global, que temos que rechaçar. Já dizia o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que eu sou grande admiradora, ‘a cadela do fascismo está sempre no cio’, e esse cio se dá em momentos de crise econômica como nós estamos passando. Então, o problema é muito mais global de uma economia sistêmica em crise, do que necessariamente de questões pontuais ligadas à cidade.

Um dos grandes gargalos da capital mineira diz respeito à mobilidade urbana e você faz grandes críticas aos subsídios ao transporte público. O problema da Capital e da região metropolitana tem solução?

Dei aula por 20 anos de literatura e quando vamos analisar um poema na literatura, a gente diz que o mais importante não é o que se diz, mas como se diz. E no caso do subsídio, eu não tenho problema algum com o subsídio, mas sim em como o subsídio é tratado em Belo Horizonte. Acredito que o subsídio é importante para o transporte público e sou, inclusive, entusiasta e defensora em Brasília da criação do SUM, o Sistema Único de Mobilidade Urbana. Assim como existe o SUS para a saúde, faríamos algo parecido com a mobilidade urbana, em que o governo federal, com estados e municípios, não só pensaria de forma holística o transporte, mas também pensaria subsídios, já que muitos municípios têm um sistema de transporte colapsando, justamente por falta de recursos para poder sustentar o transporte. Então, eu sou favorável ao subsídio e acho que é um caminho que a gente tem que seguir. O problema é que em Belo Horizonte nós temos a chamada máfia do transporte público. A cidade vai arrecadar, neste ano, cerca de R$ 2 bilhões em IPTU, desses, vamos destinar R$ 1 bilhão para a máfia do transporte público. Metade do que a gente gera e arrecada no município está indo para o bolso dos grandes empresários de ônibus para entregar um transporte de péssima qualidade, caro, e fazendo de BH o segundo pior trânsito do Brasil e dos 50 piores do mundo. Se déssemos R$ 1 bilhão de subsídio, como está dando, mas o transporte tivesse indo muito bem, rodando ônibus de madrugada, já que somos a capital dos bares e restaurantes, em que os garçons pudessem voltar para casa, os copeiros e copeiras também, se tivesse ônibus confortável, elétrico, excelente, mas dar R$ 1 bilhão para isso? Não servia nem de graça. Acredito que temos que investigar esse cenário, entender como essa máfia que se configurou. O subsídio é o caminho, mas o subsídio em que a participação popular, as diretrizes e os programas que já foram consolidados em conferências municipais ligadas à mobilidade urbana fossem traduzidos em política pública para melhorar o trânsito de BH.

Você tem falado na sua campanha de três grandes máfias. Como combatê-las?

Da mesma forma que a gente combateu e combate diariamente a máfia da mineração em Minas Gerais. Na Serra do Curral, com diversas mineradoras ilegais e criminosas, nós enfrentamos essa máfia e não deixamos minerar na Serra do Curral, em parceria com vários movimentos que lutam em defesa de questões socioambientais. E a primeira forma de enfrentar essas máfias é não ter rabo preso com elas. Eu não tenho nenhuma grande madrinha ou padrinho político atrás de mim, não tenho nenhum acordo escuso, o PDT sai com chapa pura, uma chapa formada por professores. Não estamos igual ao Mauro Tramonte, que está loteando a prefeitura. Parte vai para o Zema, parte vai para o Kalil, parte vai para a Igreja Universal, vendendo a prefeitura antes da eleição, como a atual gestão do prefeito Fuad Noman também fez. Para você ter ideia, nós tivemos cinco secretários de educação na atual gestão. Ou seja, a cada dois meses, ele troca de secretário de educação. Por quê? Porque a secretaria de educação é do partido X, a secretaria de Comunicação é da Rede, a secretaria de Meio Ambiente é do PV. Eu não tenho um cargo da prefeitura, porque eu não negocio cargo. A gente discute política. A primeira forma de fazer é não lotear a prefeitura para essa máfia ter força. Tratar a política como tem que fazer, com lisura, transparência e participação popular.

Duda Salabert
Foto: Reprodução / Diário do Comércio

Seu plano de governo traz uma parte bastante extensa sobre o clima. Como tratar esse tema e como conscientizar a população sobre a importância dele?

A nossa candidatura é uma candidatura climática. Fomos os únicos, no primeiro debate, a discutir a questão climática. Nosso programa de governo tem uma atenção especial para a crise climática, inclusive, é o primeiro e único até então programa apresentado em Belo Horizonte, na história do Brasil, em que todas as propostas estão alinhadas e explicitadas com os chamados ODS, os Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, e além disso, uma questão prática. A gente não só diz, mas pratica também. Fazemos uma campanha lixo zero. É a primeira candidatura à prefeitura na história da América Latina que não usa papel: santinho, panfleto, adesivo, bandeira, nada. Uma campanha lixo zero, porque segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a quantidade de lixo eleitoral gerada na campanha de 2016 daria para produzir 40 milhões de livros. Então, eu preferi fazer uma campanha limpa, sem imprimir, sem nada. E achei curioso, porque parte dos jornalistas achavam que a nossa campanha era uma campanha sem fôlego, sem peso político. Mas isso, porque as pessoas estão acostumadas com aquelas carreatas, com 30 carros buzinando, 50 homens balançando a bandeira, o político dando tchau, aquele jingle horrível, poluição sonora, pessoas empurrando. E não temos nada disso. Na campanha, eu ando com mais duas, três pessoas, conversando com a cidade, sem sujar nada. Carreata é breguíssimo. Nós estamos pensando o agora e o futuro. É isso que a gente quer. Respeito ao meio ambiente e não são só palavras ao vento, mas prática no dia a dia.

Outro ponto relativo ao meio ambiente, que não dá para conversar com Duda Salabert sem abordar, é mineração na Serra do Curral. Se eleita, o que vai mudar?

Vai mudar tudo, porque como deputada federal, eu estou tendo que ir todos os dias na Serra do Curral de madrugada fiscalizar, porque não tem um carro da Guarda Municipal, uma viatura da Polícia Militar para fiscalizar. Eu não pude ir à Virada Cultural pedir voto, porque fui na Serra do Curral, onde estava tendo mineração ilegal. Ou seja, tem que ter fiscalização. Denunciei a mineração ilegal que estava acontecendo ali, ligamos para a polícia, a polícia demorou horas para chegar. Mas nós garantimos a fiscalização e não vão minerar um centímetro da Serra do Curral. E isso não é um debate estritamente ambiental, é um debate econômico. A mineração representa hoje, em média, 4% do PIB de Minas Gerais, 2% dos impostos arrecadados e 1,3% dos empregos diretos. Ou seja, no contexto de crise climática, em que Minas Gerais minera-se e destrói nossos aquíferos, há que se pensar em outro modelo econômico. E queremos colocar Belo Horizonte como polo para rediscutir essa virada econômica para o Estado, em que a mineração não tem que ser a principal fonte de destruição dos nossos biomas, mas ser a defesa deles, buscando outros meios de o Estado crescer.

Nos últimos anos, Belo Horizonte perdeu parte da sua população e dos investimentos privados para as cidades do entorno, especialmente Nova Lima. Existe alguma forma desse movimento ser positivo para Belo Horizonte? Se não, como revertê-lo?

Primeiro, essa ida e crescimento para outros municípios ao redor, conurbados a BH, se deve a diversos fatores. Dentre eles a burocracia. Há que se rever o código de posturas do município. Vem um comerciante que quer instalar um bar, um comércio, um restaurante e não pode fazer nada. O comerciante não pode colocar uma música ao vivo, não pode colocar uma cadeira, uma mesa na rua, que vem a prefeitura multar. Então, rever o código de postura para que materializemos no dia a dia o fato de sermos a capital mundial dos bares e restaurantes. O aluguel de Belo Horizonte também teve um dos maiores aumentos em relação a outras capitais do Brasil. Isso se deve a diversos fatores, dentre eles o fato que temos em Belo Horizonte inúmeros imóveis abandonados. Um dado assustador: para cada pessoa em situação de rua em Belo Horizonte, há 20 vezes mais imóveis abandonados ou vazios. A solução é pegar esses imóveis vazios que estão a serviço da especulação imobiliária e transformá-los no chamado retrofit, que é um nome bonito para moradias populares, para que a gente possa repensar a política habitacional do município, e inclusive voltar a construir o município, porque nos últimos 10 anos, houve um corte de cerca de 60% do valor destinado à política de moradia em Belo Horizonte. A gente vai chamar as construtoras, refazer esse fundo, esse orçamento para termos construção de moradias populares e superar esse déficit, permitindo que Belo Horizonte volte a ser uma cidade atrativa até no ponto de vista do aluguel.

Você falou sobre desburocratizar. Como desburocratizar e, pensando na cidade dos bares e restaurantes, como incentivar os pequenos negócios?

Não inventamos nada que está no nosso plano de governo. Pegamos experiências nacionais e internacionais do que há de melhor e queremos trazer para Belo Horizonte. Sobral, no interior do Ceará, depois que o PDT assumiu a gestão, em poucos anos se tornou a cidade com a melhor educação pública do Brasil, mostrando que é uma questão de gestão e nem sempre de recurso, porque uma cidade pobre como ela atingiu esse patamar. E, especificamente sobre bares e restaurantes, vamos trazer experiências que tem em Buenos Aires, por exemplo, chamadas de bares notáveis, ou em Lisboa, com comércio e com história. Vamos unir os dois e trazer para Belo Horizonte. Vamos criar um programa chamado Bares e Comércios com História para que comércios e bares que tenham tradição em Belo Horizonte e que passam de geração para geração, que fazem parte da nossa história, tenham incentivos fiscais e até isenção. Sabe aquele bar que não pode mudar de lugar? Porque se mudar de lugar, perde a sua essência? O Bolão. Todo mundo conhece o Bolão, quem nunca comeu espaguete no Bolão de madrugada? Se o Bolão sair ali do Santa Tereza é um traço da nossa identidade cultural que se perde. Se a pastelaria da Galeria Ouvidor fechar é outro traço da nossa cultura que se perde. Então, isenções fiscais para esses locais, e mais do que isso, vamos chamar a UFMG, por meio do curso de arquitetura, urbanismo para fazer parcerias e reformar esses espaços mantendo a tradição, a mineridade. A Lagoinha é um espaço que tem sua relevância, sua tradição, sua vocação. Os comércios que vendem objetos antigos, chamados antiquários. A gente vai ter a isenção fiscal para esses locais. Para o pequeno comerciante, vamos rever o código de posturas e aqueles comércios que são tradição, a gente potencializar. E vamos investir no turismo gastronômico de BH, internacionalizando nosso turismo e nossa gastronomia. Temos que fazer com que o mundo inteiro conheça o espaguete do Bolão, o nosso pastel da Galeria Ouvidor. Se eu for prefeita, vai ter filas de estrangeiros para comer a empada de jiló do Mercado Central, para conhecer o nosso Catuçaí, que é nosso patrimônio. Eu fui para a Bélgica, convidada pelo Parlamento Europeu para palestrar sobre educação e vi lá filas de estrangeiros para comer o chocolate belga. Ok, é gostoso, mas nós temos aqui coisa melhor.

E você acha que isso também contribuiria para o aquecimento da economia da cidade, uma vez que Belo Horizonte não tem uma vocação industrial?

Sem dúvida. A gente acredita que Belo Horizonte precisa de um novo modelo econômico. E eu digo isso não só pela crise que tem fechado vários bares, restaurantes e comércios. Na rua Itapecerica, por exemplo, temos mais de 40 portas de comércio fechadas. Não podemos tratar isso como normal. 60% dos bairros e restaurantes de BH em janeiro desse ano fecharam no vermelho. Como é que pode a capital mundial dos bares e restaurantes ter 60% dos seus estabelecimentos fechados no vermelho e a prefeitura só multando e burocratizando? Parece que tem um pouco de sadismo, de ter prazer em multar o pequeno comerciante. Acreditamos que a economia criativa é o caminho para buscar um novo modelo econômico. Temos cerca de 10 mil bares que geram 60 mil empregos diretos em BH. Esse é o caminho que a gente acredita para a cidade. E por que isso é importante? Porque o modelo antigo nos colocou na crise que estamos hoje. Qual crise? BH hoje é uma das capitais com maior desigualdade socioeconômica do Brasil. Nós temos bairros onde a qualidade de vida se assemelha à Noruega. Mas temos bairros que a qualidade de vida se assemelha aos locais mais pobres do mundo. Para você ter ideia, hoje, 20% da população de BH sobrevive com até meio salário mínimo. Ou seja, a cada 5 pessoas de BH, uma sobrevive com até meio salário mínimo; 12% das famílias de BH estão em um grau de insegurança alimentar grave, que significa criança passando fome. E pior, no Aglomerado da Serra, segundo pesquisa da UFMG, 30% das pessoas estão em um grau de insegurança alimentar severa. Então, temos que pensar em outro modelo econômico para o município. E esse modelo econômico, se eu for eleita, vai ser focado em bares, restaurantes, setor de serviços, que é quem gera emprego, renda e faz a economia girar.

E a integração com a região metropolitana? Como fazer isso pensando, inclusive, numa relação saudável com o governo do Estado?

Sendo eleita vamos, junto com os prefeitos da região metropolitana, consolidar BH como um polo importante, estrategicamente, do ponto de vista econômico, político. E aqui nós temos uma liderança para trazer de Brasília melhorias para o nosso município. Os problemas não são problemas locais, são problemas metropolitanos. Cada vez mais o debate é metropolitano. Estive hoje no Risoleta Neves, que é um hospital importantíssimo para Belo Horizonte, mas 40% dos atendimentos de lá vêm da região metropolitana. Então, há o que se fazer, por exemplo, no campo da saúde: um novo plano metropolitano ou intermunicipal pensando a saúde, porque alguns atendimentos de alta complexidade ficam em Belo Horizonte, mas não faz sentido aumentarmos a alta complexidade em alguns municípios se os atendimentos vêm para BH. É preciso pensar metropolitanamente, junto com o governador do Estado, que vai nos ajudar nesse sentido, um projeto para a saúde, para a educação, para a moradia e, sobretudo, para o trânsito da região metropolitana. No do Risoleta Neves, por exemplo, muitos médicos não querem trabalhar lá por causa do trânsito, porque atravessa toda a região metropolitana e dificulta o acesso. Também vamos discutir sobre meio ambiente, a Lagoa da Pampulha. Não tem como eu discutir a Lagoa da Pampulha sem conversar com a prefeita de Contagem. O problema é que tivemos gestores anteriores que olhavam só para o seu umbigo, olhavam só para o município. O município sozinho não tem força para resolver os problemas estruturais, como a mobilidade urbana. E o governador, tenho certeza, que vai apoiar esse diálogo, porque é um diálogo feito para questões que não são ideológicas, não são partidárias. São questões boas para qualquer cidadão.

E como professora, o que priorizar na educação?

Eu disse, se eu for eleita prefeita, no primeiro dia de mandato, vou protocolar um projeto de lei para que Belo Horizonte pague o maior salário para professores entre as capitais.

É possível?

Totalmente possível, no ponto de vista orçamentário. Belo Horizonte, repito, tem um verso do Manuel de Barros, nosso poeta amazônico, que diz, ‘repetir, repetir, repetir até ficar diferente’. Repito: esse ano, segundo o próprio Diário do Comércio, Belo Horizonte vai arrecadar de IPTU cerca de R$ 2 bilhões, mas vamos enviar R$ 1 bilhão para a máfia do transporte público. Então, dinheiro tem. Metade dos nossos impostos está indo para a máfia do transporte público para entregar um transporte de péssima qualidade. Somos a quarta capital mais rica do Brasil. Temos muito dinheiro, mas esse dinheiro é mal repassado, alocado. Nós já temos o estudo de impacto orçamentário para Belo Horizonte para pagar o maior salário do Brasil entre as capitais. Isso vai ter um investimento. A prefeitura dá R$ 1 bilhão para o transporte público ser ruim, caro e não rodar de madrugada. R$ 200 milhões para pagar o maior salário do Brasil não é nada. Se eu pegar esse R$ 1 bilhão que a prefeitura deu esse ano para esse transporte público nojento, podre, feio que nós temos, e alocasse esse dinheiro na educação municipal, no salário de professores, iria ter um reajuste de 82% no salário de professor. Então, o professor, a grosso modo, começa a carreira no município com um salário de cerca de R$ 3 mil. O salário iria para R$ 5.500 para 22 horas de trabalho. O professor municipal ia receber mais do que o professor da UFMG. É possível fazer isso com saúde fiscal. Agora, o que não pode é dar dinheiro para a “busão”, do jeito que é feito, ou para a máfia do lixo, porque aí foge o dinheiro. E mesmo assim teve superávit, a prefeitura teve superávit, poderia fazer esse repasse para os professores. Eu como vereadora, todo ano votava porque sobrava dinheiro na educação, sobrava dinheiro na educação, e aí a gente tinha que votar para onde que esse dinheiro ia. Então tem muito dinheiro.

E para a saúde, você acha que a solução, ou pelo menos o caminho, passaria por essa maior integração?

A saúde passa com maior integração na região metropolitana, já que Belo Horizonte é um polo nesse sentido. Mas além dessa questão, há de se ter investimento. Não tem saúde de qualidade sem profissional valorizado. Hoje os médicos optam para a iniciativa privada porque não é atrativo trabalhar no município, porque pagam salário baixo. Tem salário de médico pediatra, por exemplo, que o salário em Contagem é muito maior. Outro exemplo, olha que assustador, 50% das UPAs de BH não têm ortopedista e não têm cirurgião, porque paga-se mal. Vamos rever a carreira, rever os contratos para pagar salários melhores e atrair essas pessoas. Tem dinheiro, Belo Horizonte é a quarta cidade mais rica do Brasil e estamos dando por ano R$ 1 bilhão para empresário de ônibus tomar champanhe. Se eu pegasse esse R$ 1 bilhão e colocasse no Risoleta Neves, por exemplo… Aliás, R$ 1 bilhão não. A prefeitura gastou em comunicação, em 2023, cerca de R$ 20 milhões. Neste ano, que é eleitoral, aumentou para R$ 27 milhões. Se eu pegar esses R$ 7 milhões a mais e alocasse no Risoleta Neves, já aumentaria cerca de 20% do repasse que a prefeitura já faz. Educação e saúde não é prioridade para o prefeito Fuad Noman. É impossível uma capital tenha 50% das UPAs sem cirurgião. E a educação, Belo Horizonte está caindo o ranking do Ideb.

Outro ponto essencial é a segurança pública, que passa um pouco também pelo tratamento das pessoas em situação de rua. Como resolver isso?

Belo Horizonte entrou no ranking das 50 cidades mais perigosas do planeta. Isso é assustador. Estive em Venda Nova, conversando com os comerciantes, perguntei qual que é o maior problema e todos responderam segurança pública. É porque a atual gestão colocou a Guarda Municipal para multar o cidadão e não para proteger o cidadão. O papel de multar é de outra alçada, não tem que ser da Guarda. A Guarda tem que proteger. E proteger significa melhor estrutura, melhor equipamento e não só colete e viatura, mas a saúde mental. A Guarda Municipal fez minha escolta no passado, quando sofri ameaças de grupos neonazistas e eles me diziam que a quantidade de guardas que estão cometendo autoextermínios, suicídio, adoecendo e aposentando é assustadora, porque não têm estrutura, recebem um salário baixo e adoeceram. Vamos mapear as regiões de maior vulnerabilidade socioeconômica e fazer o que acontece em Fortaleza, numa política de esporte chamado Rede Cuca. Vamos trazer para BH e colocar poliesportivos nas áreas de maior vulnerabilidade social. Não existe em Belo Horizonte um poliesportivo público para a juventude. Vamos criar e ter piscina olímpica, para formar atleta, pontos de acesso à cultura, produção de cultura, esporte e lazer. Se eu for prefeita, vamos assegurar o direito à moradia, à escola e tempo integral, à vaga na creche, ao lazer, cultura e esporte. E aí a gente diminui esse cenário de violência.

Na sua opinião, não seria necessário trabalhar para aumentar a arrecadação do município? Seria mais uma questão de reorganizar a distribuição?

Hoje é uma questão mais de reorganizar. O município de Belo Horizonte é um município rico. Somos a quarta cidade mais rica do Brasil. Dinheiro tem, mas também tem o segundo pior trânsito do Brasil, um dos 50 piores do mundo. Também está entre as 50 cidades mais violentas e tem 33 mil pessoas na fila para cirurgia eletiva. Não tem pediatra, não tem ortopedista, anestesista nem cirurgião. Uma cidade que não recicla nem 1% do lixo. Uma cidade que está caindo no Ideb, que não paga o piso salarial para professores. Para onde está indo esse dinheiro? Precisamos redistribuir e alocar. Nossa prioridade será: educação, saúde, transporte público e moradia. E mais: se eu for eleita prefeita, vamos ter um trabalho especial com os catadores e catadoras de material reciclável, que desempenham um papel importantíssimo na cidade. Temos que fortalecer as cooperativas de material reciclável, porque muitos dos catadores estão em situação de rua. E eles cooperados e organizados conseguem ter renda e melhorar sua situação.

Você passou pela Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte. Como vai ser o seu relacionamento com o Legislativo?

Vai ser igual ou melhor do que quando eu fui vereadora. Eu fiquei vereadora por 24 meses e aprovei quase uma lei por mês. A maioria aprovada por unanimidade. Unindo esquerda, direita, extrema esquerda e extrema direita. Como foi aprovado o meu projeto na Câmara Federal, que obriga as escolas do País a distribuírem e oferecerem água potável para os seus alunos. Porque mais de um milhão de estudantes no Brasil não têm acesso à água potável nas escolas. Só em Minas Gerais, mais de 100 escolas não têm e em BH, duas não têm e agora vai ser obrigatório. Fui eleita para discutir temas caros para a sociedade, como saúde, educação e moradia. E o vereador que for contrário a isso, ele está contrário à cidade. Vou chamar os vereadores de espectros ideológicos diferentes e vamos discutir os temas caros para a cidade. Como faremos para ter mais pediatra em Belo Horizonte? Como faremos para o Ideb crescer? Como faremos para Belo Horizonte voltar a ser uma cidade jardim? No ano passado, foi a capital que mais aqueceu no Brasil. Porque no ano passado também, o prefeito cortou em média 20 árvores por dia em BH. Nunca se cortou tantas árvores em Belo Horizonte. O orçamento de Belo Horizonte não tem um centavo para plantio de árvore. 

Qual é a Belo Horizonte do futuro que a Duda, eleita ou não eleita, deseja ver?

A cidade que eu sonho e quero é uma cidade pensada para as crianças, porque uma cidade boa para crianças, é uma cidade boa para todo mundo. É uma cidade boa para a pessoa com deficiência, com mobilidade reduzida, para idosos. Uma cidade jardim, arborizada, que tem a sua política climática atualizada, seus rios e córregos limpos, a Lagoa da Pampulha despoluída. A nossa cachoeira do ribeirão do Onça pronta para nadar, pescar e brincar. A cidade da brincadeira, do lazer, do entretenimento, da cultura, dos bares, dos restaurantes. Essa é cidade que eu sonho. Isso é um projeto de longa data, mas em termos práticos, no primeiro dia de mandato eu já disse: um projeto de lei para que paguemos o maior salário para professores entre as capitais e eu vou medir a qualidade da água da Pampulha. Dois anos depois, vamos medir novamente e se não tiver melhorado, eu renuncio.

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