Eleições em BH: nacionalização de campanhas pode definir segundo turno

O eleitorado de Belo Horizonte voltará às urnas no próximo dia 27 para definir o futuro administrativo da cidade. Com números acirrados no primeiro turno das eleições, a disputa entre os candidatos Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD) promete ser decidida a partir da força de alianças políticas, incluindo nacionais.
Em curva de ascensão desde as últimas pesquisas, os dois candidatos seguem demonstrando fôlego para capturar novos votos. De acordo com o cientista político e presidente do Instituto Cultiva, Rudá Ricci, não há dúvida de que o atual prefeito chegou ao segundo turno graças ao voto útil e que o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro demonstra força política a partir do apoio de figuras populares, especialmente no cenário municipal e estadual.
Em relação a Fuad, Ricci considera que, após a conquista do voto útil, a prioridade deve passar pelo apoio físico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conquistar parte do eleitorado, principalmente de Duda Salabert (PDT) e Rogério Correa (PT), além do público incógnito de Gabriel Azevedo (MDB) e Mauro Tramonte (Republicanos).
“A chance de Fuad é o apoio explícito de Lula e é de interesse do presidente uma aproximação com o PSD, liderado por Gilberto Kassab. Com isso, ele ganha uma pequena elevação no percentual de votos, mas nada que o coloque como franco favorito”, destaca Ricci.
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A imprevisibilidade, mesmo com fortes alianças, é resultado de uma tendência para votação expressiva da população belo-horizontina em Bruno Engler. Segundo o cientista político, a projeção é que o candidato continue radicalizando no discurso, com fortes ponderações quanto à capacidade de governança do atual prefeito. “A radicalização pode ser considerada um problema e, ao mesmo tempo, um triunfo e deve se inspirar mais em Bolsonaro do que em Pablo Marçal, de São Paulo”, avalia.
Ao analisar os motivos da receptividade de Belo Horizonte ao discurso alinhado à política de direita, Ricci comenta que a cidade passa por um processo de transição – muito mais acentuado que em São Paulo – do perfil ideológico do eleitorado. “Em São Paulo, a esquerda vem perdendo votos muito em razão de uma cultura anti-institucionalista, já em Belo Horizonte observamos uma mudança de postura progressista para uma lógica do sucesso individual”, analisa.
Diferente da maior cidade do Brasil, o cientista pondera que a esquerda na capital mineira é vista como antiquada ou tradicional: um discurso que tende a ser mais acentuado nas análises com recorte para o sexo masculino e religião evangélica. Enquanto isso, ele afirma que a direita segue o caminho oposto: é vista como esperança para eventuais mudanças em contextos que desagradam a população.
Até a publicação desta reportagem, nenhum candidato derrotado nas urnas evidenciou apoio explícito à Bruno Engler ou a Fuad Noman. Nas redes sociais, Duda Salabert, quinta colocada na disputa, destacou que o momento agora passa por vencer a “ultradireita” no segundo turno. Os demais candidatos agradeceram os votos recebidos, sem mencionar preferências.
No Legislativo municipal, 5 entre 7 mais votados são mulheres
Uma novidade histórica em Belo Horizonte surpreendeu positivamente o eleitorado após as eleições no último domingo (6): cinco entre os sete candidatos mais votados para vereador são mulheres. Professora Marli (PP), Iza Lourença (Psol), Fernanda Altoé e Marcela Trópia (Novo), além de Flávia Borja (DC) acumularam juntas 8,14% do total de votos válidos, sendo escolhidas por 98,2 mil pessoas.
Para Rudá Ricci, o destaque vai para a construção de lideranças femininas à frente do Novo, o que indica que há uma vertente moderada da direita se realinhando na cidade. “Acredito que estas eleições trazem novos fatores e a divisão entre uma direita radical predominantemente masculina e uma direita mais governista feminina ao estilo Marine Le Pen (política francesa) esteja entre uma das novidades”, acrescenta.
Apesar do avanço no volume de votos, o topo da lista de mais votados segue representado por uma figura masculina, especificamente em Pablo Almeida (PL), que conquistou 39,9 mil votos (3,31% dos votos válidos). O candidato eleito foi apoiado pelo deputado federal Nikolas Ferreira que, segundo o cientista político, sai destas eleições disputando a liderança da política de direita com Romeu Zema, saindo-se melhor que o governador.
Entidades mineiras esperam respeito e debate de ideias no segundo turno
Para o segundo turno, entidades que representam setores como comércio, serviços e agricultura destacaram a expectativa de que o período seja pautado pelo debate de ideias e de propostas para o benefício da cidade e moradores.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, aponta que o setor de comércio e serviços se reuniu com os candidatos Fuad Noman e Bruno Engler e ambos mostraram-se dispostos a dialogar. “Dentro das possibilidades, eles asseguraram acolher as sugestões apresentadas no Caderno de Propostas elaborado pela CDL/BH e entregue a todos os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte”, afirma.
Com relação aos vereadores eleitos nestas eleições, a entidade espera que todos estejam comprometidos com pautas importantes para a cidade, especialmente com foco no desenvolvimento econômico. Entre as ações requeridas, Souza e Silva menciona a criação de uma Frente Parlamentar em defesa do comércio, serviços e empreendedorismo.
A democracia, a liberdade e a livre concorrência estão entre as considerações destacadas pelo presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACminas), José Anchieta da Silva. “Estamos apenas encerrando o primeiro turno, mas não abrimos mão da construção de um Brasil livre, altivo e democrata”, pontua.
Para o setor de agronegócio em Minas Gerais, a expectativa é de uma abertura maior para a participação do produtor rural diretamente nas feiras livres. “Esperamos um prefeito parceiro de todos os empreendedores em nosso município, especialmente do produtor rural que aqui traz seus produtos para comercialização”, ressalta o presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio de Salvo.
A entidade acrescenta que deseja que o Executivo Municipal amplie parceiras em eventos do Sistema Faemg Senar, como a Semana Internacional do Café e Festival do Queijo Minas Artesanal de Leite Cru. Além disso, é desejada uma contínua desburocratização dos serviços públicos, um diálogo aberto com a entidade e, principalmente, seriedade no trato com o dinheiro público.
Já para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), a melhoria do centro da cidade e a revitalização dos centros comerciais da Savassi, Pampulha e Barro Preto estão entre as principais demandas para o próximo prefeito. “Enfatizamos que é fundamental a criação da Secretaria Municipal de Comércio e Serviços pela expressão econômica que esse setor tem na vida da cidade, representando mais de 70% do PIB da capital”, reforça o presidente da entidade, Nadim Donato.
Além da revitalização, a entidade ressalta a importância da prioridade em áreas como segurança, educação pública e qualificação de mão de obra. “Realçamos a importância de criarmos as condições para um ambiente econômico que fortaleça o empreendedorismo com avanço tecnológico e transformação digital que leve à redução da burocracia e que promova o crescimento sustentável com bem-estar social”, conclui Donato.
Procurada pela reportagem, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) declarou que só comentará após o segundo turno das eleições.
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