Política

Elon Musk sobe o tom e chama Moraes de ‘ditador do Brasil’

Além de repercussões na rede social, caso Musk reagrupa bolsonarismo
Elon Musk sobe o tom e chama Moraes de ‘ditador do Brasil’
Crédito: REUTERS/Jonathan Ernst

São Paulo – O empresário Elon Musk, dono da rede social X, voltou a criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em postagens nesta segunda-feira (8) e o chamou de ditador.
Musk tem reclamado das decisões do Supremo que tiraram do ar perfis na rede social X (antigo Twitter) e chegou a afirmar que vai derrubar as restrições impostas pelo Judiciário do país.

“Como @alexandre se tornou o ditador do Brasil? Ele tem Lula em uma coleira”, escreveu o empresário, na rede social, junto com um emoji de risada.

Mais cedo, ele também tinha republicado declaração crítica a Moraes do deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS). “A lei vale para todos, inclusive @alexandre. Ele deveria ser julgado por seus crimes”, acrescentou Musk, comentando a fala do parlamentar.

Também disse que Moraes tirou “Lula da prisão” e influenciou na eleição, ecoando discurso de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e que por isso o atual mandatário não se opõe ao magistrado.

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Ainda em seu perfil na rede social, Musk disse que, se o governo brasileiro romper contrato com a sua empresa, a Starlink, vai providenciar “internet gratuita para escolas” no país.

Em outra publicação, o empresário também ironizou o ministro: “[Cena: @Alexandre e @ElonMusk em psicanálise] Eu digo: ‘Diga, Alexandre, a desinformação está na sala conosco agora?”

No domingo (7), Moraes determinou a inclusão de Musk como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.

Naquele dia, o empresário havia dito que o magistrado deveria renunciar ou sofrer impeachment. Um dia antes, um perfil oficial da plataforma havia declarado que bloqueou “determinadas contas populares no Brasil”, e Musk retuitou mensagem em que disse que “estamos levantando todas as restrições” e que “princípios importam mais que o lucro”.

Na decisão de domingo, Moraes escreveu em letras maiúsculas: “As redes sociais não são terra sem lei! As redes sociais não são terra de ninguém!”

A ofensiva do dono da rede social levou integrantes do governo Lula e magistrados a virem a público criticar a atuação das plataformas. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, disse que “decisões judiciais podem ser objetos de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado”.

“O inconformismo contra a prevalência da democracia continua a se manifestar na instrumentalização criminosa das redes sociais”, afirmou.

Caso Musk reagrupa bolsonarismo

O embate entre o empresário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), e o ministro do STF Alexandre de Moraes deu fôlego ao bolsonarismo e levou a esquerda e a base governista a reativarem a defesa de regulação das redes contra o avanço da extrema direita.

A discussão em torno de questões como direito à liberdade de expressão e cumprimento de medidas judiciais também aglutinou apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). Políticos e militantes ligados ao ex-presidente usaram o episódio para endossar o discurso de censura seletiva e perseguição à direita.

A mobilização ocorre às vésperas de um novo ato chamado por Bolsonaro e que deve reunir simpatizantes dele no próximo dia 21 no Rio de Janeiro. Após Musk dizer que as ações de Moraes contra a disseminação de fake news e discursos de ódio violam a legislação brasileira, o empresário foi elevado ao papel de herói – o próprio Bolsonaro chamou o bilionário de “mito da nossa liberdade”.

A reação do campo oposto passou por reforçar o apoio a Moraes e resgatar a pressão pela aprovação do PL das Fake News, que estabelece obrigações e punições para as plataformas digitais e está parado no Congresso Nacional. Ministros do governo Lula (PT) cobraram a responsabilização das empresas.

Na prática, o confronto de Musk com o STF aprofunda a disputa em torno de conceitos que se tornaram centrais na narrativa bolsonarista, como liberdade e politização do Judiciário, ao mesmo tempo que reacende alertas em torno de pilares democráticos e capacidade de reação no ambiente virtual.

Para a antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita, que reúne pesquisadores e acadêmicos, a atitude de Musk e a apropriação do caso servem ao bolsonarismo num momento em que Bolsonaro está “relativamente enfraquecido”. Ele é alvo da Justiça em diferentes frentes, mas conserva apoio eleitoral.

“Esses eventos unificam uma agenda que de certa forma estava desmobilizada e podem contribuir para reagrupar determinadas bases da propaganda de extrema direita, porque acabam por validar a teoria de que vivemos numa ditadura do Judiciário e que o STF toma ações arbitrárias”, diz.

A ofensiva de Musk atiçou um segmento que enfrenta hoje uma pulverização de pautas e, segundo a pesquisadora, se distanciou da unidade vista durante o governo do ex-presidente (2019-2022). O empresário, na visão de Kalil, age para insuflar e reproduzir teses da direita mundial.

O cientista político Juliano Medeiros, que até 2023 era o presidente nacional do PSOL, diz que o dono do X se insurgiu contra Moraes porque “perdeu dinheiro no Brasil” com as restrições que vêm sendo impostas. “A narrativa de censura não cola. Aqui não é terra sem lei”, afirma. (Joelmir Tavares)

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