Mauro Tramonte propõe estímulo ao turismo gastronômico em Belo Horizonte

Candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo Republicanos, Mauro Tramonte lidera as pesquisas pela disputa ao cargo máximo da capital mineira. É jornalista e apresentador de televisão. Está em seu segundo mandato como deputado estadual. Em 2018, foi eleito com mais de meio milhão de votos, conquistando, à época, o posto de mais votado do Estado.
Antes mesmo do início oficial da campanha eleitoral, conseguiu reunir o apoio de dois opostos na política mineira: governador Romeu Zema (Novo) e o ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido), que inclusive foram rivais na disputa pelo governo do Estado em 2022. O feito divide opiniões de eleitores, especialistas e dos próprios concorrentes. Mas para Tramonte, se justifica pela convergência de ideias com o ex-prefeito e pela aprovação de suas propostas por parte do governador.
Nesta entrevista ao Diário do Comércio, o candidato, que é presidente da Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) desde 2023, falou reiteradamente sobre seus planos para o setor na capital mineira. Enfatizou a necessidade de atrair mais eventos para a cidade, de a administração municipal ter um centro de convenções próprio e de manter uma maior interlocução com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). Falou dos benefícios que podem ser gerados em cadeia, alavancando as atividades de comércio e serviços da Capital.
“A Belotur, presume-se, deveria procurar eventos para todo lado para trazer para cá. Eu não vejo ninguém fazendo isso. O máximo que vejo é um calendário de festa junina e de Carnaval. As festas acabaram. […] eu quero fazer essa cidade crescer novamente, trazer alegria, fazer uma BH Viva”.
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Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?
Porque eu estou preparado. Eu estudei Belo Horizonte com as pessoas mais técnicas possíveis, com ex-secretários da saúde, educação, segurança, mobilidade. Eu estudo e vivencio Belo Horizonte há muito tempo. Em 16 anos de programa de televisão, eu vivencio isso presencialmente. Estou cansado de ver o povo sofrer em postos de saúde, ficar 8, 10, 12 horas esperando atendimento. Estou cansado de ver o povo sofrendo nesse trânsito maluco, que a gente demora uma hora, uma hora e meia para andar 5, 6 quilômetros. Estou cansado de ver esse povo sofrer também dentro de ônibus, porque a gente não aguenta mais esse problema de ônibus atrasado e lotado. Por isso que eu quero ser prefeito, porque eu tenho muitas soluções e propostas para resolver muitos desses problemas.
Alguns veem o apoio de Alexandre Kalil e Romeu Zema como o ponto alto da sua campanha e outros como o ponto crítico. Como você avalia?
Geralmente quem fala isso é porque já procurou um ou outro, porque a maioria dos candidatos que se apresentaram procurou o apoio do Alexandre Kalil ou do governador Zema. Por que trouxemos o Alexandre Kalil? O Alexandre Kalil saiu da prefeitura com mais de 70% de aprovação. Hoje a prefeitura está com mais ou menos 30% de aprovação. O Alexandre Kalil colocou internet em todas as vilas e favelas, construiu 55 postos e centros de saúde. Ele é uma pessoa que pensa como eu, nas pessoas mais humildes, nas pessoas que realmente necessitam e não têm voz em lugar nenhum. E por que trouxemos e buscamos apoio do governador Zema? Porque nós precisamos que a Prefeitura de Belo Horizonte faça convênios e tenha mais proximidade com o Estado para aproveitar as inúmeras oportunidades que o governo dá em benefício ao povo. São inúmeros contextos em que a prefeitura poderia estar junto do Estado e não está. Por que a gente conseguiu trazer Kalil e, ao mesmo tempo, o governo do Estado? Porque nós mostramos nossas propostas e nosso plano de governo e os interessou. Alexandre Kalil tem interesse que Belo Horizonte volte a ser o que era e o governo do Estado falou que quer cuidar de Belo Horizonte. E lembrando que quase todos os candidatos ou procuraram o Alexandre Kalil, ou procuraram o governo do Estado, e na hora que fizemos, fomos criticados. Mas não tem problema, a gente tem que pensar no povo.
A Luísa Barreto, sua vice, foi candidata nas últimas eleições. Como foi esse processo de negociação?
Quando fizemos os acordos, trouxemos o acordo político, e ela era uma opção, era pré-candidata. Mas depois achou-se melhor, pela experiência que ela tem, por tudo que ela conhece de setor administrativo, que fosse nossa vice. E é uma pessoa que vai agregar muito. Claro que a decisão vai ser do prefeito, do Mauro Tramonte, mas ela vai agregar.
Um dos principais gargalos hoje da cidade é o trânsito e a mobilidade. Isso inclui as vias, os modais e o transporte público. Como você pretende solucionar isso? Começando pela questão dos ônibus?
Primeiro temos que resolver o problema dos ônibus. A nossa proposta é exigir que o contrato seja cumprido. Hoje, estima-se que eles deixam de fazer mais de 500 viagens por dia. Por isso que você vê ônibus lotado e que demora a passar. Temos que cobrar isso das empresas. Como? Vai ‘lascar’ multa nesse povo? Primeiro vamos ver o contrato. Por que tantas multas são feitas, 70, 80 mil multas e não são recolhidas? Por quê? Vai ser o seguinte: vai cumprir o contrato? Se eu preciso de 100 viagens por dia para determinada linha, não pode ter 90, tem que ter 100, porque senão vamos para a Justiça e cobrar. Você que faz um contrato com qualquer pessoa, se você não vai pagar o aluguel, o que vai acontecer? Eles vão acionar você na Justiça. É isso que a prefeitura tem que fazer. Agora, quem pegar futuramente a prefeitura, já pega com a incumbência de refazer esse contrato. E já tem que começar em 2025. Assumiu, começa a trabalhar esse contrato, porque em 2027 tem que estar pronto, porque em 2028 vence o contrato. E não vai ter prorrogação, vai vencer e nós vamos fazer com que um contrato novo seja feito. Para isso, precisamos de uma equipe muito técnica, muito boa, e também uma equipe jurídica para fechar um contrato em que a obrigação da concessionária vai ser dar para o cidadão o que ele está pagando: a quarta passagem mais cara do Brasil, mas para um transporte de qualidade. Eu quero que Belo Horizonte tenha um transporte bom, de qualidade, que ônibus não quebre, que não fica parado em tudo quanto é lugar, que não demora para chegar, quando chega, chega lotado.
Além da questão dos ônibus, quais outras soluções você planeja implementar para melhorar o trânsito e a mobilidade em Belo Horizonte?
Conversei com uma senhora, ela falou que tem que levar duas mudas de roupa. Sai de casa com a roupa velha, quando chega ao trabalho, troca para trabalhar. Se você fizer uma conta simples, um cidadão que vai do serviço para casa e para a casa do serviço, leva uma hora e meia para ir e uma hora e meia para voltar. Três horas por dia. Ela perde, em um ano, um mês dentro do ônibus. É muita coisa, é um absurdo isso. E nós temos que pensar na mobilidade. Eu fui ao Google, lá em São Paulo, conhecer uma tecnologia. Me mostraram toda uma tecnologia gerida pelo Google Maps e pelo Waze. Essa tecnologia dá a possibilidade de fazer um gerenciamento no trânsito que permite o ônibus chegar mais rápido. Com ele eu vou fazer a mobilidade ser muito mais ligeira, vou poder mexer com os semáforos de trânsito a hora que eu quiser, com inteligência artificial. Isso não é bicho de sete cabeças, é a última ferramenta que existe hoje no Google e que mais de 70 cidades já usam. E Belo Horizonte não. Sabe por quê? Porque ninguém procurou. A tecnologia está lá à disposição. Perguntei se demora um mundo de tempo para colocar em Belo Horizonte e me disseram que em dois ou três meses fica pronto. Hoje nós temos semáforos que não se comunicam com nada e não estão articulados a uma central. Temos mais de 500 radares. Se nem conseguimos andar direito nesse trânsito, para que 500 radares? É um modo de arrecadar, só pode ser. Com um sistema inteligente eu gerencio o trânsito, sei o fluxo, os problemas de cada rua e posso fazer alterações. Mudar uma mão, abrir uma avenida. Se você não tiver o gerenciamento de trânsito, não adianta nada você fazer viadutos como está sendo feito, daqui a dois anos está tudo congestionado. Aqui, um semáforo abre, outro fecha, um abre, outro fecha, você fica parado. Também fui em São Paulo e conheci a famosa Faixa Azul, que aqui vamos chamar de Motofaixa. É uma faixa onde a moto anda, ela não pode mudar. Vamos colocar em várias avenidas largas. Isso diminuiu em cerca de 50%, 60% os acidentes de moto.
Ao longo dos últimos anos, Belo Horizonte perdeu uma série de investimentos e pessoas para cidades da região metropolitana, especialmente para Nova Lima. A reversão desse processo passa pela reformulação do plano diretor?
O nosso plano diretor vai ser reavaliado em 2027, mas tem que começar agora. Precisamos fazer um trabalho muito bem feito com a Câmara Municipal, que tem que aprovar as mudanças. O prefeito não pode mudar por decreto. Mas temos que modificar isso. Não podemos deixar essas empresas indo embora e levando empregos e impostos da cidade. Mas a culpa não é deles. A culpa é de uma amarração nas leis de edificações e no plano diretor. Estão indo embora não só para Nova Lima, que nós não temos nada contra, porque são cidades atrativas também, como Lagoa Santa. Eu falei com um candidato a prefeito de Lagoa Santa, que me disse que na última eleição, em 2020, mais de 3 mil pessoas transferiram seus títulos de Belo Horizonte para lá, porque foram construir e morar lá. Agora, já têm mais de 9 mil. Não que esteja errado mudar para lá, mas estamos perdendo atrativos, alguma coisa está acontecendo. Hoje, uma construção em Belo Horizonte tem o metro quadrado mais caro que Rio e São Paulo. Você demora um ano, um ano e meio para receber um alvará. No Rio de Janeiro, por exemplo, são dois meses. Por que emperrar isso? Aí você fala assim, mas é um, dois prédios, cada prédio dá, em média, serviço direto, indireto, 300 a 400 funcionários. Não podemos perder isso e Belo Horizonte está ficando atrasada no tempo. A gente chega no Centro da cidade e parece uma cidade fantasma depois das 10 horas da noite. Ninguém tem coragem de andar por lá. Temos que fazer, realmente, uma readequação nesse plano diretor urgentemente, porque as empresas estão indo embora. Enquanto a gente tem um empreendimento, Rio e São Paulo têm seis, sete.
Ao mesmo tempo, a gente precisa de uma maior integração com a região metropolitana e o prefeito de Belo Horizonte precisa ser o líder. Como fazer essa integração?
O prefeito sair e procurar as outras prefeituras. A prefeita de uma cidade vizinha aqui me falou o seguinte, que se fala muito em colocar na avenida Amazonas um corredor de ônibus, mas que até hoje o prefeito BH não foi falar com ela. Ela falou comigo: eu sou limite aqui. Quer outro exemplo? O Rodoanel. O Rodoanel vai passar em Betim e em Contagem e a prefeitura de Belo Horizonte não tem uma interlocução sobre isso com ninguém, nem com o governo. Ah, mas o Rodoanel não vai passar em Belo Horizonte. Mas o mais beneficiado vai ser Belo Horizonte, porque vai tirar todos os caminhões do Anel Rodoviário, que eu chamo de Anel Terrorviário. Sempre chamei. Tem que ter esse protagonismo. Falar ‘vamos’, bater no peito e dizer ‘eu sou o prefeito da Capital. Vem aqui, vamos conversar’. Ou ‘eu vou aí para conversar, não há problema nenhum’. Sair do gabinete, do ar-condicionado e ir conversar. Tem que tomar a frente para resolver os problemas. Belo Horizonte não tem mais como crescer e estamos cercados de cidades na região metropolitana. Temos que ter essa interlocução para fazermos projetos com essas cidades.
Você é a favor ou contra a mineração na Serra do Curral?
Mineração na Serra do Curral, na minha gestão, não vai ter. Sabe por quê? Porque eu também fui o autor do projeto de tombamento da Serra do Curral na Assembleia Legislativa. Então, eu que sou o autor da PEC para preservar a Serra do Curral, lógico que sou contra a mineração lá e vou ser sempre contra. Aquilo ali, muita gente fala, é um cartão postal lindo, maravilhoso. É mais do que um cartão postal. Lá tem vida, tem fauna, flora, tem muita coisa bonita, muita coisa boa, aquilo ali é da natureza, é meio ambiente, é preservação.
A economia de Belo Horizonte gira em torno, basicamente, de comércio, serviços, turismo, já que o setor industrial não é o nosso forte. Como incentivar esses setores e, ao mesmo tempo, diversificar essa economia?
A gente sabe que turismo, comércio e serviço são responsáveis por mais de 70% da arrecadação. Quando eu cheguei na Assembleia em 2019, Belo Horizonte e Minas Gerais não tinham uma comissão de turismo e gastronomia. Um absurdo. Eu falei, gente, pela gastronomia e turismo que temos em Minas Gerais, como não existe uma comissão? Eu propus uma comissão extraordinária. Na época, o Agostinho Patrus, que era o presidente, autorizou. E agora o Tadeu Martins Leite também autorizou de novo, porque ela continua. Eu sou o presidente da Comissão do Turismo e Gastronomia. Fiz inúmeras audiências públicas para queijo, doce, vinho, leite, café. E tenho uma parceria muito grande com a Secult. A secretaria faz inúmeros eventos e em quase sua totalidade tem que entrar em contato com a Prefeitura para vir junto. Olha as oportunidades que perdemos. Eu, com seis anos como presidente da Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia, nunca a prefeitura veio me procurar para nada, praticamente. Nada. Só para o Carnaval, pedindo para interferir, ajudar, senão não teria o Carnaval. Fui o elo da prefeitura com o Estado.
E como desburocratizar isso?
Não é desburocratizar, é fazer com que a prefeitura fique mais junto das oportunidades que o Estado está dando, de mês em mês. Hoje Belo Horizonte não é uma cidade turística, não é uma cidade de negócio, é uma cidade do quê? Capital Nacional dos Bares? Tem bar fechando. Uma boa porcentagem teve desempenho negativo. Que fomento estamos dando para o comércio? Porque nós precisamos fomentar o comércio em Belo Horizonte. Que incentivo estamos dando para o turismo? O que Belo Horizonte oferece para o turista? Como ele traz o turista? Como ele divulga Belo Horizonte? Que nós temos mais de 12 modalidades de turismo? Turismo de aventura, turismo de trilha, turismo religioso, turismo gastronômico. Cadê? Tem tudo na mão, nós estamos na capital. Nem parece que nós somos a capital de Minas Gerais, porque as pessoas vêm aqui, vêm do aeroporto de Confins, vêm da BR-040, da 262, 381, ficam em Belo Horizonte num hotel, vai conhecer Ouro Preto, nada contra. Vai conhecer Sabará, nada contra, e volta. Vai conhecer outra cidade e volta. Nós não conseguimos segurar esse pessoal aqui, porque não temos atrativo turístico, nós precisamos ter atrativos gastronômicos. Festas que aconteciam na cidade não acontecem mais. Estamos parados no tempo. A área central da cidade está abandonada. Como você quer trazer um turista e não tem nada a oferecer? Vai à Lagoa da Pampulha, um mau cheiro. Temos que melhorar. O prefeito tem que sair de trás de mesa, do ar-condicionado e fomentar o turismo, a gastronomia.
Esses setores são basicamente compostos por micro e pequenas empresas. Como incentivá-las?
No comércio, por exemplo, a prefeitura dificulta. Se eu tenho uma placa de um metro, eu pago X de imposto. Se eu vou iluminar essa placa, eu pago 2X, além da conta de luz. Aí hoje você vê uma cidade escura, porque as pessoas não podem mostrar seu estabelecimento, sua vitrine. Por quê? Porque tudo cobra. Você não tem um incentivo. Quem estuda e trabalha à noite tem que passar nas ruas centrais e tem medo, porque estamos nos transformando em uma cidade escura. Temos que fomentar e fazer com que essas empresas não vão embora. Temos que incentivar também o comércio nos bairros.
O hipercentro de Belo Horizonte está cada vez mais esvaziado, com lojas fechadas e uma sensação de abandono. Quais são as suas propostas para revitalizar essa área?
O Barro Preto é o polo da moda. Passa lá. Tudo fechado. As lojas estão fechadas. Tudo aluga, aluga, aluga, aluga. Sujeira danada. Infelizmente, muita gente morando na rua, aquele negócio todo, situação de rua. A gente fica triste com isso, porque o hipercentro está se transformando em abandono. Uma aventura: dá uma volta à noite ali, por volta de 9 horas da noite, perto do Shopping Oi, aquela região ali da Guaicurus. Dá uma olhada naquilo. São galpões e galpões que a gente nem sabe pra que é. Não tem nome, galpão sujo, abandonado, lixo para tudo quanto é canto, amontoado, vai quase até em cima do muro. É uma coisa de louco. As pessoas que estão aí, acho que elas querem que Belo Horizonte fique lá nos anos 50, achando tudo muito bonito. Temos que fazer o contrário. Estamos pegando as pessoas do Centro e mandando para os bairros. Aí as pessoas precisam trabalhar no Centro, o que elas fazem? Pegam seus carros, vem tudo para o centro da cidade, mas geralmente uma pessoa em cada carro. Temos que fazer o Centro viver, um Centro bonito para as pessoas quererem sair, passear. Que o lojista se sinta assim, ‘puxa vida, olha como está bonito isso aqui, deixa eu melhorar a minha loja, deixa eu melhorar a fachada da minha loja, que agora vai entrar mais dinheiro, que eu preciso disso daqui’.
A segurança pública é um dos desafios da revitalização do Centro. O que você planeja fazer para melhorar a segurança e trazer tranquilidade para lojistas e cidadãos?
Segurança. Hoje a segurança é uma obrigação do Estado, mas é um dever de todos. E nós vamos cobrar do Estado, mas a prefeitura tem a Guarda Municipal. Que vamos reforçar com 500 homens e mulheres em quatro anos. Vamos reforçar a Patrulha Escolar, que precisa ser reforçada. E um dado um pouquinho assustador: nós temos a Patrulha Maria da Penha na Guarda Municipal. A agressão às mulheres subiu demais em Belo Horizonte, como em todo o Brasil, infelizmente, mas subiu demais em Belo Horizonte. Hoje nós temos oito guardas municipais para cuidar de nove regionais. Tem regional que tem 300 mil habitantes, como o Barreiro, por exemplo. Vamos reforçar essa patrulha e criar a Patrulha de Proteção ao Comércio. O que vai ser? Naqueles locais em que a gente tem mais incidência de furtos e roubos no comércio, vamos colocar os guardas caminhando para conhecer os lojistas, os funcionários e tomar conta não só do comércio, mas das pessoas.
A questão dos moradores em situação de rua é outro problema crescente no hipercentro e em várias regiões da cidade. Como pretende enfrentar essa situação?
Realmente é um caso seríssimo. Boa parte é viciada em droga ou álcool e a outra parte tem algum problema mental. Só que é o seguinte, não existe da prefeitura a responsabilidade de chamar para ela isso e ela tem que ser a protagonista. A minha proposta é a prefeitura tomar conta, por meio da Secretaria de Assistência Social, da Secretaria de Saúde e da Guarda Municipal. Chamar os órgãos, a sociedade e o setor empresarial e se for preciso procurar o Estado e a União para resolver o problema. Temos que ter mais abrigos e condições. Porque abrigo com percevejo, as pessoas preferem continuar na rua. Essas pessoas têm que ser atendidas, porque está aumentando. E antes era só no Centro, agora está em todos os bairros. Nós temos que saber o que está acontecendo, fazer um levantamento. Conversei com moradores de rua que me disseram que a prefeitura nunca os procurou. Outro detalhe também que a gente tem que prestar muita atenção são os cães dos moradores de rua. Porque para eles, os cães são proteções, viram amigos. Eles amam os cães. É a família deles. Então, temos que dar assistência para esses animais. E quanto à distribuição de alimentação, não podemos deixar do jeito que está. A prefeitura tem que chamar os voluntários, conhecê-los e organizá-los. Não pode hoje você dar duas marmitas, daqui a pouco vem a noite, alguém dá mais cinco. Eles não aguentam comer, desperdiça e estraga. Ou joga no chão, atrai bicho e entope bueiro. Comigo vai ser diferente. Pode cobrar que eu vou fazer.
Qual sua proposta para a saúde?
Temos que conversar com as prefeituras também, com todas. A Prefeitura de BH tem que ser protagonista e chamar as prefeituras, porque não pode negar auxílio. Na Constituição está escrito, todo mundo tem direito à segurança, saúde, educação… Então, a prefeitura tem que organizar. Porque realmente gasta mais de R$ 6,5 bilhões do orçamento. Na nossa gestão, se precisar gastar mais, nós vamos gastar, vamos ver onde que a gente tem que cortar, com desperdício e vamos ajustar.
E para a educação? Belo Horizonte está caindo no ranking do Ideb.
Vamos entender porque está caindo. Não é só Belo Horizonte, o Brasil inteiro caiu, mas temos que saber o que está acontecendo. Podemos ofertar mais capacitação para os professores. Você sabia que grande número dos professores está doente? Precisamos curar esse povo, dar assistência para esse pessoal. Vamos fazer mais convênios com creches para que a mãe e o pai possam trabalhar e deixem as crianças nas escolas. Educação é tudo, mas precisamos ouvir as partes. O grande problema da prefeitura é que não ouve os segmentos da sociedade. Na minha gestão vamos deixar as portas abertas, ouvir todos os setores. Essa é a obrigação da prefeitura. Pergunto: ‘alguém ouviu esse pessoal da educação para saber o que eles estão passando? Quais são os problemas que eles têm’? Para mim, criança tem que sair da escola sabendo ler, escrever e fazer conta. Também temos uma proposta de fazer cursos para os jovens que vão prestar o Enem, gratuito. Seja presencial ou por vídeo, nós vamos fazer. Porque não é todo mundo que consegue pagar um cursinho. Um pai e uma mãe que ganha dois, três salários mínimos, não consegue pagar um cursinho e queremos que o jovem saia preparado para o Enem.
O que você pensa da valorização desses profissionais?
Precisamos conversar com esse povo e, talvez, fazer uma adequação nesses salários. Precisamos estudar. Sabemos que nós vamos ter um déficit, segundo informações, quase R$ 200 milhões. Precisamos ver onde pode cortar para poder ajudar. Então, o meu governo, o que nós vamos fazer? No primeiro dia, vamos pegar todos os secretários e ver onde podemos cortar, onde tem recursos sendo desperdiçados. Quando o Alexandre Kalil era prefeito, tinha 86 cargos no gabinete. Hoje são mais de 300. Isso é um corte. Outro corte: asfalto em cima de asfalto. Tudo isso você pode cortar e investir em outros setores. É isso que eu vou fazer. Cortar totalmente o desperdício que tem na prefeitura.
Então você acredita que não seja necessário um trabalho para aumento da arrecadação, mas para organização dos gastos?
Aumento da arrecadação a gente já pensa em aumentar imposto. Aumentar imposto em cima do cidadão, ninguém aguenta pagar mais nada. Por isso temos que ver primeiro os desperdícios. Qual gasto é desnecessário. Vamos começar dentro da prefeitura mesmo. O povo não aguenta mais pagar nada. Olha o que os setores de comércio e serviço já pagam! Não pode aumentar mais nada não. Deus me livre. Puxa vida, quem é empresário aí, pequeno empresário, amigo, sabe tanto que paga. Você pega um alvará, por exemplo, você demora quanto tempo para tirar um alvará? Olha o pessoal do show. O cara vai lá, monta o evento com 300, 400 funcionários. O negócio está todo montado. Você sabe que horas se recebe o alvará? Às vezes, 24, 12 horas antes do evento, quando podia ter saído uma semana antes. É um absurdo. Tem um grande empresário que me falou que quando ele traz shows para Belo Horizonte, ele tem que gastar, pelo menos, mais R$ 50 mil para os advogados correrem atrás de documentos para tirar o alvará na prefeitura. Aí ele vai aumentar onde? No ingresso. Temos que acabar com essa burocracia e fazer com que as coisas saiam rápido. Não ficar pondo empecilho, botando mais taxas. Outro exemplo, teve um evento com exposição de carro antigo e eles tiveram que pagar mais de R$ 30 mil de taxa para a prefeitura. Isso fomenta o turismo, a gastronomia, traz alegria para o povo e a prefeitura cobra taxa. Não dá.
Como você vê a vocação de Belo Horizonte para receber grandes eventos?
Hoje a prefeitura não tem nenhum local para receber eventos. Temos o Minascentro, o Expominas, Serraria Souza Pinto. Mas nada é da prefeitura. Não há um centro de exposições para receber eventos, como outras cidades e capitais têm. Dependemos do privado, pagamos uma nota violenta para levar evento. Se temos aqui alguma vocação, temos que descobrir se é turística, gastronômica, de negócios. Como pode a capital de Minas Gerais não ter um calendário de festas gastronômicas? A Belotur, presume-se, deveria procurar eventos para todo lado para trazer para cá. Eu não vejo ninguém fazendo isso. O máximo que vejo é um calendário de festa junina e de Carnaval. As festas acabaram. Um exemplo que eu pretendo fomentar é a Marcha para Jesus. Eu conheço 12 modalidades de turismo, tem que ter alguma coisa que a gente possa fazer e eu vou fazer. Vou fazer turismo gastronômico, talvez de aventura, porque temos locais maravilhosos para o turista conhecer aqui. Cada vez Belo Horizonte está perdendo habitantes, está perdendo protagonismo nacional e a oportunidade de dar vida melhor para quem mora aqui.
Qual a Belo Horizonte, o Mauro Tramonte, eleito ou não, quer para o futuro?
Eu quero uma Belo Horizonte que dê voz às pessoas mais humildes, que acabe o sofrimento das pessoas, que a gente possa investir mais em saúde, em transporte, em trânsito, no comércio, na gastronomia. Fazer essa cidade crescer novamente, trazer alegria, trazer Belo Horizonte viva. Uma BH Viva. Ela tem que viver de noite de novo. Eu quero uma cidade que à noite as pessoas saiam, vejam coisas bonitas, alegres. Eu quero dar entretenimento às pessoas. Tanto é que estamos propondo fazer tarifa zero para os ônibus aos domingos, porque tem gente que não conhece um parque do outro lado da cidade, tem gente que não vê um parente em outras regiões, porque não tem dinheiro para pegar ônibus, fica meses sem ver parente. Tem gente que quer ir num culto religioso, seja evangélico, católico ou outros, e não pode ir conhecer outros locais porque não tem dinheiro para ir. Então eu quero que essa Belo Horizonte viva. Eu quero dar vida a essas pessoas, eu quero dar voz a quem precisa. Eu quero que o Belo Horizonte seja o que eu tenho aqui na minha mente: muito trabalho, com uma equipe técnica, uma equipe política boa, mas que possa trabalhar única e exclusivamente para o povo de BH.
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