Gabriel Azevedo promete priorizar teto, trabalho e transporte em Belo Horizonte

Candidato do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo, se intitula um apaixonado pela capital mineira. Morador do centro da cidade, elenca o que enxerga como principais entraves para reocupação da região, que eliminados, segundo ele, resolveriam alguns dos problemas de BH. Por isso, os escolheu como mote de sua campanha: teto, trabalho e transporte.
Por falar em campanha, mesmo eleito vereador por dois mandatos consecutivos e tendo feito parte, no passado, do staff de figuras emblemáticas da política mineira como Aécio Neves, Antonio Anastasia e Alexandre Kalil, diz que seu maior desafio, neste momento, é tornar-se conhecido. De fato, a pesquisa mais recente, divulgada no último dia 28 pela Quaest, mostra Gabriel Azevedo na parte debaixo da tabela, com 2% dos votos.
Veja o vídeo:
Nesta entrevista, abordamos temas como mobilidade urbana, atração de investimentos privados, economia criativa, diversificação econômica, desburocratização, saúde, educação, segurança pública e arrecadação. Falamos de presente mas, principalmente, de futuro.
Futuro que, para o candidato, passa pelo desenvolvimento de um novo plano diretor para a cidade, por contratos de transporte público particionados, pelo incentivo à economia criativa, inclui a desburocratização de procedimentos municipais, telemedicina e escola integral.
“Quero ser prefeito para conseguir fazer o que eu não fiz como vereador. […] O prefeito que vai fazer todo mundo falar de Belo Horizonte de boca cheia. […] Somos uma capital erguida em quatro anos, transformada por Juscelino Kubitschek em quatro anos e que precisa de outra movimentação nos próximos quatro anos”.
Por que você quer ser prefeito de Belo Horizonte?
Quero ser prefeito de Belo Horizonte porque eu consigo perceber a oportunidade única que o próximo prefeito de Belo Horizonte vai ter ao longo de quatro anos. O próximo prefeito vai ser responsável por duas coisas que vão mudar completamente a vida da nossa cidade. O próximo prefeito vai ser responsável por liderar o processo de criação de outro plano diretor – a lei mais importante de uma cidade, que ordena a ocupação da Pampulha; como Venda Nova vai progredir; o que cuidar na Centro-Sul ou o que vamos fazer no Barreiro. Ou seja, é uma lei que determina todo o planejamento urbano, não para um, dois ou três anos, mas para uma década. E eu votei contra o último Plano Diretor, porque ele foi muito mal feito e gerou efeitos negativos de décadas para a nossa cidade. O segundo ponto é que o próximo prefeito de Belo Horizonte vai ter a oportunidade de colocar um ponto final na situação dos contratos dos ônibus da cidade. Um contrato feito em 2008 para durar 20 anos. E o próximo prefeito tem que fazer muito diferente do que o outro fez. Mas para fazer isso, tem que entender o que deu errado. E como o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara Municipal, que investigou esse contrato, abriu a caixa preta e mostrou tudo o que deu errado, eu estou há oito anos apontando caminhos e tomando medidas para que a cidade saia desse marasmo. Então, eu quero ser prefeito para conseguir fazer o que eu não fiz como vereador. Para isso, eu tenho um plano de governo baseado em três Ts: teto, trabalho e transporte.
Você falou sobre plano diretor e mobilidade. Esses são os principais desafios do futuro prefeito?
Teto, prioridade número um; trabalho, prioridade número dois; transporte, prioridade número três. Embora eu ache que o maior problema da cidade seja a mobilidade. Por que eu estou falando que a prioridade é o teto? Porque engarrafamento não tem a ver apenas com aumento de tamanho de via e de faixa, construção de ponte e viaduto. As pessoas ficam engarrafadas, sobretudo, em dois horários do dia, há um tanto de gente que sai de casa para ir trabalhar e há um tanto de gente que sai do trabalho para voltar para casa. Quando isso se dá, no mesmo momento, a cidade trava. Portanto, temos que pensar como se dá essa conexão entre teto e trabalho. E a verdade é que a nossa Capital foi criada em quatro anos, no final do século XIX, baseada em tudo que havia de mais moderno nas cidades do planeta. Foi crescendo de maneira bem ordenada até os anos 40, e aí vieram dois solavancos. Dos anos 40 para os anos 60, triplicamos de tamanho. E dos anos 60 para os anos 80, triplicamos de novo. Todas essas pessoas que passaram a viver na cidade não conseguiram, e é um problema natural, original de Belo Horizonte, viver na área mais central, ou seja, próximo à economia, ao trabalho, aos escritórios, aos postos de empregabilidade […] e foram se espalhando no território. Não de maneira ordenada, mais aproximada, em prédios, em verticalização, mas tudo muito na horizontal. E isso foi comendo o território. E quanto mais longe do trabalho, mais a pessoa gasta tempo. E aí você não tem uma estrutura para criar redes de mobilidade, de ônibus ou de metrô para atender todo mundo. É como se alguém que estivesse sofrendo de um problema cardíaco fosse no médico e, ao invés do cardiologista falar assim: “olha, você precisa se alimentar de uma maneira mais saudável, você precisa praticar exercício, você precisa tirar colesterol do seu sistema circulatório”. Falar: “continua comendo muita gordura, que eu vou fazer sete pontes de safena em você”. Isso não é resolução de trânsito. Por isso que eu falo que criar mais oportunidades de moradia resolve muitos problemas na cidade. Os preços do aluguel e dos imóveis, por exemplo, começam a cair, porque com oferta você tem uma precificação menor. E aí as pessoas não ficam indo para Santa Luzia, para Ibirité, para a região metropolitana. E você gera riqueza na cidade, porque as coisas que eu quero fazer nesse programa de governo custam e eu tenho que ampliar o caixa da prefeitura sem aumentar imposto. Para isso, tenho que fazer a economia girar. E se tem alguém que faz a economia de Belo Horizonte girar é a construção civil. Então, tijolo por tijolo, andaime por andaime, a gente começa a gerar uma produção de habitação. Você vai poder construir um prédio aqui nesse quarteirão de 60 andares. Vai ter moradia para muita gente em plena Santos Dumont, no Centro, em total abandono, do lado de BRT, metrô, ônibus. Só que você vai ter que pagar uma “compensaçãozinha” para a prefeitura. Ali naquele hotel abandonado, na Espírito Santo com Caetés, você vai ter que fazer uma casa de passagem para pessoas em situação de rua chegarem às seis da tarde, dormirem, pernoitarem, com jantar, café da manhã e saírem para trabalhar no dia seguinte. Aliás, elas vão poder trabalhar na própria obra que está sendo feita. Porque eu também preciso tratar das pessoas em situação de rua. A minha mãe chegou de Araguari para trabalhar em Belo Horizonte, meu pai também. Se eles não tivessem conseguido emprego, estariam na rua, talvez, como vários outros. Não é para você mandar embora da cidade, é para você inserir na economia. Aquecer a lógica do teto é mudar a mobilidade da cidade. Então, isso é prioridade um. E quando eu falo de trabalho, o código de posturas tem 20 anos, a edificação tem décadas. Plano Diretor, atrasado. Lei de liberdade econômica não implementada. É o famoso, quem é que está te atrapalhando na prefeitura a produzir? Quem é que está te atrapalhando a gerar riqueza? Vamos tirar isso do caminho. É, por exemplo, separar normas de alvará. É alvará na hora para as pessoas já começarem a progredir. É habite-se já. É diminuir radicalmente os tempos da prefeitura para a burocracia. É digitalizar tudo. E não está aqui falando alguém que promete. É o que eu faço o tempo inteiro. Quando me tornei vereador, criei um aplicativo para facilitar o contato das pessoas com o mandato, ver com transparência o que é votado, mandar os problemas e ter as soluções de maneira digital. A lógica de geração de trabalho é muito importante. E quando eu vou para a mobilidade, aí eu estou conectando os dois pontos, porque trânsito é a conexão entre teto e trabalho. E ela começa a ser resolvida por esses dois problemas. É isso que eu quero fazer com Belo Horizonte. Nós somos uma capital erguida em quatro anos, transformada por Juscelino Kubitschek em quatro anos e que precisa de outra movimentação em quatro anos.
Você tem falado que seu maior desafio, neste momento, é se tornar conhecido. Como pretende fazer isso?
É importante ler os dados dessas pesquisas e perceber o seguinte. O que mais chama atenção é o desconhecimento. A cada dez belo-horizontinos, oito não me conhecem. O que acontece é que muitos prestaram atenção nas brigas de Brasília, focaram muito nos assuntos nacionais e estão muito interessados na briga entre o Lula e o Bolsonaro. Eu não estou. O que me encanta, o que me faz trabalhar, é um ônibus melhor, um hospital mais moderno, uma escola mais eficiente. E esses assuntos não são discutidos na mesa de bar. Há uma sensação na cidade de que as coisas estão ruins, alguém bate a mão na mesa e fala, tem que mudar tudo. Mas acompanhar as discussões da Câmara Municipal não é exatamente um esporte local. Há uma dificuldade de perceber papel de vereador, papel de prefeito, papel de Câmara Municipal. Então, esse é um tema mais difícil de chegar às pessoas. Hoje, estou com o quarto maior tempo de televisão e vou utilizar esse espaço para contar quem eu sou e quais são as minhas propostas e ainda vamos ter debates. O eleitor de Belo Horizonte, num primeiro momento, vai pensar numa pessoa ideal, mas não somos governados por anjos. Somos pessoas normais, com defeitos, com problemas. Senão nem precisava de governo, se todo mundo fosse assim, um conjunto de anjinhos na sociedade. Todos temos nossos problemas, nossos defeitos. Eu vou escancarar os meus, inclusive. Mas, agora, o eleitor tem uma prateleira: dois apresentadores de televisão que estão tentando se apresentar como novidade. Mas um é senador há seis anos e o outro deputado estadual há seis anos. Carlos Vianna, seu maior feito foi colocar o próprio filho de deputado federal. Mauro Tramonte, primeira eleição, 500 mil votos. Segunda eleição, 100 mil votos, ou seja, 80% das pessoas que votaram nele no primeiro momento, disseram não no segundo momento. Bruno Engler é apoiado por um líder que é muito popular. A primeira eleição do Bruno foi em 2016, quando eu me elegi vereador sem padrinho, com 10.185 votos. Eu, minhas propostas para a cidade, todas retiradas do papel no período de quatro anos. Ele (Bruno) teve cerca de mil votos, porque ainda não existia o Bolsonaro. Depois, com o Bolsonaro, ele foi eleito deputado estadual e reeleito. Se você tira do Bruno Engler o Bolsonaro, não fica nada. Fuad Noman não seria prefeito de Belo Horizonte nunca. Virou vice do Kalil, que abandonou a cidade e ele chegou lá. O grande feito do Fuad foi ter sido secretário de obras do Aécio Neves, que criou um contrato de ônibus metropolitano, que o Ministério Público de Contas compreende ser o laboratório corrupto, que criou o contrato fraudulento de 2008. Em relação ao Rogério Correia, a solução dele para a saúde é o Lula, a solução da educação é o Lula, para a segurança é o Lula, para os passarinhos que batem no vidro é o Lula e para qualquer outra coisa é o Lula, porque é a única coisa que ele sabe repetir. E a Duda, bom… a dúvida que eu tenho com ela é uma questão que todo eleitor deveria se perguntar: palavra. É uma pessoa que se elegeu vereadora dizendo que ia ficar quatro anos no mandato. Ficou dois e pulou para deputada federal. Em resumo, temos deputado federal, deputado estadual, senador e prefeito, todos com cargos maiores do que o meu. E eu desafio qual deles nos últimos oito anos fez mais por Belo Horizonte do que o vereador aqui.
Mobilidade é um dos maiores gargalos da cidade. E existe um leque de projetos que o belo-horizontino sonha em ver sair do papel. Metrô, Rodoanel, modernização do Anel, BRT…. Você sendo eleito, o que vai priorizar?
Hoje tem quase 800 ônibus novos rodando na cidade. E foi o presidente da Câmara, ao lado dos colegas, que economizou mais de R$ 120 milhões para garantir a compra que dê ao povo melhor ar-condicionado, melhor suspensão, ao invés de ficar andando de lata velha. Tem muito a substituir, mas como vereador eu fiz o máximo. Povo da favela e das vilas, com dificuldade de acesso ao Centro, esse vereador aqui criou um tarifa zero, passe livre e integral estudantil. Temos conquistas. Mudança do sistema de bilhetagem única para quilometragem e por aí vai. Tudo que eu podia como vereador, está feito. Agora como prefeito, eu quero fazer muito mais. Vamos começar do principal. O próximo contrato de ônibus não pode repetir os erros do último. E eu sei os erros tintim por tintim. Primeiro, se você faz uma contratação que engloba todos os serviços, já era. Se a mesma pessoa vai cuidar da garagem, da bilhetagem, do motorista, do veículo, do combustível, da manutenção, o nome é cartel. Fuad Noman criou isso no governo estadual, o que repetiram na prefeitura. Comigo vai ser particionamento do serviço. Garagem para um, veículos para outro, motorista para outro, bilhetagem para outro, com grande fiscalização da prefeitura. Sem um centavo de dinheiro na transação comercial. Tudo digital. Porque se você tem pagamento em dinheiro, você tem mala. Tem que acabar. Então, isso é uma mudança radical. Segundo ponto. Integração metropolitana. Belo Horizonte não é uma ilha. É uma cidade cercada por Contagem, Betim, Ibirité, Santa Luzia, Vespasiano, Nova Lima, Sabará. E isso tem que ser um tecido urbano só e o prefeito tem que ser o líder dessa integração, junto com o governo do Estado, para criar um bilhete único e uma lógica metropolitana de mobilidade. Terceiro ponto, há que se ter coragem para iniciar o que essa cidade já teve no passado. O serviço de veículos sob trilhos de Belo Horizonte foi inaugurado em 7 de setembro de 1902. Em 1947, esse serviço bateu seu apogeu, fazendo 73 milhões de pessoas transferidas num ano. As pessoas não tinham carro porque elas usavam o transporte coletivo. A partir dos anos 50, esse serviço foi sucateado, abandonado e começa um processo de tomada da cidade por empresas de ônibus. Precisamos substituir diesel, poluição e barulho por veículos leves sob trilhos e eu quero ser o prefeito que vai inaugurar na Afonso Pena as linhas de VLT. Porque eu cansei, como outras pessoas já cansaram, de sentir orgulho da minha cidade vendo cartão postal antigo. Precisamos retomar o orgulho da cidade com tudo aquilo que está sendo feito no planeta. Substituição de poluição por sustentabilidade. Ideias como essa eu aprendi no mestrado em cidades que fiz nos últimos anos pela London School of Economics, uma das instituições mais renomadas do planeta, com professores que estão antenados a tudo que está acontecendo de mais moderno. Não é um discursinho da boca para fora. É a experiência de quem fez, como é que fez. E minha conclusão de curso foi um projeto apresentado para Belo Horizonte, de modo a recuperar a participação das pessoas no transporte coletivo. Nos últimos anos, 40% dos usuários de ônibus foram embora. Se a gente não reverter isso e se todo mundo passar a precisar do carro, aí não terá mais o que ser feito.
Nos últimos anos, Belo Horizonte perdeu moradores, trabalhadores e investimentos para as cidades do entorno, especialmente para Nova Lima. O que fazer para reverter esse movimento?
Comigo na prefeitura, meu amigo João Marcelo vai ter um pouquinho mais de trabalho. Eu torço por sua reeleição, um jovem político brilhante e que está fazendo o papel dele como prefeito de Nova Lima, aproveitando que Belo Horizonte está expulsando as pessoas e está falando, vem para cá, gente. Um exemplo: a 200 metros do limite entre Nova Lima e Belo Horizonte havia uma rotatória. Antigamente lá tinha o Chalezinho e em questão de pouco tempo surgiu o edifício Concórdia, que é o maior prédio de Minas Gerais, todo ocupado. Você olha a dimensão do prédio e percebe que ele caberia com facilidade dentro de um quarteirão típico do espaço mais central de Belo Horizonte, com 120 por 120 metros. Se alguém tentar construir o Concórdia no Barro Preto, onde você tem proximidade de estação de metrô, ônibus, tudo, não consegue. Não consegue porque a dimensão do lote vai ter que sofrer um recuo. A altura, depois de determinada metragem, você tem que pagar muito para a prefeitura. E quem teve essa ideia de girico, gritava comigo no plenário da Câmara, falando que o que fosse arrecadado seria usado para construção de habitação social. Burros! Não são mal intencionados, mas são burros. Porque não percebem que a nossa cidade não é uma ilha cercada por oceano. Se um empreendedor não consegue construir com facilidade aqui, ele vai para Nova Lima. E é por isso que Nova Lima, depois de tanta gente dificultando a vida da construção aqui em Belo Horizonte, explodiu. Porque qual é a razão de você ter tantos edifícios residenciais na borda da cidade para que essas pessoas todos os dias peguem um carro, se engarrafem nos seis pistas, na Oscar Niemeyer, passem raiva na Nossa Senhora do Carmo para ir trabalhar na Savassi ou na área central, sendo que elas poderiam todos morarem numa requalificação do Barro Preto? Com os mesmos edifícios ou talvez mais altos, e elas poderiam ir caminhando, pegando uma bicicleta, pegando carona. Gente, é por isso que eu estou dizendo, e estou repetindo isso o tempo inteiro. Se a gente não mudar a lógica de facilitar a vida de quem constrói aqui na cidade, teremos aluguel nas alturas, preço do metro quadrado nas alturas e trânsito completamente engarrafado. E é possível reverter, sim. Porque outras cidades já fizeram. Nos Estados Unidos, você tem um caso muito típico de Detroit. É uma cidade que errou ao não perceber que a indústria automobilística estava sofrendo um revés por conta da Ásia. Grandes montadoras asiáticas estavam sugando dos Estados Unidos a capacidade produtiva automobilística. Com o escape dessas empresas do entorno de Detroit, acabou o emprego. Sem emprego, as casas foram ficando todas vazias. A cidade morreu. E agora, o que o Detroit está fazendo? Está se requalificando. Um dos temas de trabalho do meu mestrado foi entender muito o caso de Detroit. Impulsionamento na economia, política tributária inteligente para áreas da cidade, proporcionando a criação de novos espaços de moradia, atração de moradores, de investimento. Aqui em Belo Horizonte não estamos mortos, mas estamos entrando num quadro clínico complicado.
O que move a economia de Belo Horizonte são os setores de comércio e serviços. Como incentivá-las e até mesmo diversificar essa economia?
Eu olho com desespero. Quando eu entro numa farmácia do lado da minha casa, penso que os funcionários, caixas e atendentes todos estão com os dias de emprego contados. Porque se você percebe o que aparece em outros lugares do mundo, você vai chegar na mesma farmácia, vai pegar o seu produto, levar no caixa sozinho, pagar e sair. E aí? E aí que tem uma coisa que as pessoas não vão deixar de fazer. Um excelente restaurante com uma ótima gastronomia, como é o caso de Lima, no Peru, vai sempre atrair gente do mundo inteiro, de preferência muitos turistas da China, da Europa, porque eles não estão só servindo alimento, eles estão servindo uma experiência. O garçom é muito treinado, o serviço tem muita qualidade, você está tendo ali algo único e isso mantém a porta aberta. E aqui quem está falando é um empreendedor. Um empreendedor que entrou num salão vazio na Afonso Pena com Álvares Cabral, no edifício do Automóvel Clube, e viu as paredes todas pintadas de branco, viu móveis abandonados e falou: opa, aqui eu vou fazer um estabelecimento. Juntei com o meu sócio e fizemos a reforma das cadeiras, um ambiente legal. Eu emprego dois garçons, uma bartender, um ajudante bartender, um gerente, duas pessoas da cozinha e duas pessoas de limpeza. Eu assino a carteira dessa turma toda e sou responsável, junto com eles, para dar sustento para suas famílias. Mas o meu negócio não vende só a comida ou não vende só a música que está tocando, porque eu também emprego os artistas que estão lá se apresentando, vende a experiência. E os nossos profissionais de gastronomia, de economia criativa, estudantes, empresários, precisam aprender esse conceito. A prefeitura tem que ser indutora de mostrar que um comércio aberto na Afonso Pena não vende só sapato. E vou destacar dois estabelecimentos tradicionais da cidade: Café Palhares e Nice. Palhares tinha só o balcão. Família lá, toda amiga, toda eleitora, conversou comigo e falei gente, vocês têm só o balcão com um tanto de gente querendo vir pra cá. E a rua em frente ao comércio vazia por causa de uma mudança na mobilidade com faixas estacionamento. Vamos batalhar pra ter aqui um parklet. O Kaol tradicional passou a vender muito mais. Tiveram que ampliar a contratação das pessoas e o estabelecimento tradicional, que é a cara de Belo Horizonte, está vivo para sempre. Mas ainda pode melhorar. A calçada ali pode ser mais ampla, você pode ter mais mesas, você pode permitir eles colocarem um toldo, fazer uma publicidade responsável, ter um curso de qualificação de atendimento, inserir a publicidade digital. Tem muita coisa que você pode fazer com o Kaol. Tornar marca, camisa, não sei o quê, porque quando você viaja, você vai nos estabelecimentos, tem isso tudo. Outra situação mais complicada, todos os candidatos a prefeito foram tomar café no Café Nice. Mas eles não conhecem a realidade do Tadeu e do Renato, meus amigos, que estão passando um perrengue financeiro, porque os bancos fecharam na região, porque o comércio da região está sofrendo com a poluição e com o barulho. E aí eu apresentei para eles o Rafael Quick, um cara brilhante dessa cidade que estudou na Escola de Negócios do Sebrae e inventou o Juramento 202, inventou a cervejaria Vilela, que requalificou o espaço vazio do Mercado Novo, que hoje é um centro de geração de emprego e produtividade, economia criativa e que transformou Belo Horizonte num excelente produto e numa excelente experiência. Para que o Café Nice não feche as portas. O Café Nice, ele não vende só uma xicrinha de café, ele vende a história da nossa cidade. Ele vende a tradição da conversa na beirada da rua, da troca de experiência, de uma portinha aberta na nossa principal avenida. E a prefeitura tem que reconhecer esses espaços, investir na qualificação e proteger. O Rio fez um trabalho incrível disso pós-pandemia, porque vários estabelecimentos tradicionais estavam fechando. E eu não sou candidato de tomar café no início da eleição. É lá que eu como semanalmente o meu creme de maisena, é o Kaol que eu como sempre; é no Bolão que eu vou comer, sabe? É o filé ao molho de jabuticaba no meu querido lugar, o Maleta, onde tem a Cantina do Lucas. Por que esses lugares não são só restaurantes? Porque eles vendem uma experiência. Porque eles entendem que um negócio, um serviço, tem que ter qualificação. E eu entendo isso. Acho que mais, acho não, tenho certeza, Belo Horizonte pode ser a cozinha do Brasil. O lugar de eventos do Brasil. A cidade com maior hospitalidade do Brasil. Quando o artista chegar para se apresentar no território brasileiro, ele não tem como cogitar não vir a Belo Horizonte. E comigo na prefeitura, esta cidade vai virar um evento. Com respeito ao silêncio, à organização, às moradias, mas com muita circulação de recursos para não deixar ninguém desempregado.
Para isso tudo, é preciso também desburocratizar o sistema?
Muito. E eu tenho uma meta simbólica. Quando o JK assumiu a prefeitura, todos os serviços da prefeitura, de guichê, de taxa, de imposto, ficavam ali naquele saguão principal. A pessoa entrava pela Afonso Pena, naquela escadaria maravilhosa, tinha o serviço e subia na Goiás com tudo resolvido. Porque era papel, né? Hoje tem o BH Resolve. Mas eu me inspiro muito no modelo da Estônia, da Letônia. Os países daquela região em que para você ter que protocolar um papel em algum guichê são dois casos, salvo engano, casamento e óbito, o resto você faz tudo pela internet. Então, essa questão de acabar com o papel e digitalizar tudo é fundamental. Mas também você precisa acabar com essa história de que a decisão que vai ser tomada na prefeitura depende da cabecinha de alguém. Não gostei, não achei válido, estou pensando, vamos ver como é que é. A norma tem que ser claríssima, se a pessoa cumpriu os requisitos, prazo mínimo para o resultado do empreendedor começar, ou então liberação de imediato. Porque o empreendedor não pode ficar dependendo da preguiça de alguém que está com papel na mesa. E isso acontece o tempo inteiro em Belo Horizonte. Quer ver um exemplo? Othon Palace. O hotel está completamente vazio, os empreendedores compraram e querem fazer retrofit. Em Belo Horizonte, ao contrário de São Paulo e do Rio de Janeiro, se você quer fazer um apartamento, quer colocar banheiro com ventilação mecânica, sem janela, aqui não pode. Só que se você for fazer uma reforma no apartamento, que antes era um quarto de hotel, e tiver que colocar o banheiro com fresta para Afonso Pena, o empreendimento já fica quase inviável. Você tira a área, você impede. Eu passo, obviamente, aflições, tendo tantos amigos que vão empreender, gerar emprego, e eu próprio empreendedor, vendo a burocracia da prefeitura. A fiscalização da prefeitura foi no meu estabelecimento. Olharam tudo. Sanitário, funcionário… mas não tinha nada errado, claro. Aluno de Colégio Militar, ninguém acha nada errado na gente, porque seguimos as regras. Ah, mas você está vendendo as mesas pelo Sympla. Sympla, startup criada em Belo Horizonte. Eles queriam o quê? Que eu fizesse reserva com alguém num telefone? Não, lá tem mesa de dois lugares, de quatro lugares, cinco lugares, a pessoa compra a mesa. Esse dinheiro da mesa remunera os músicos. De imediato, nem vem para mim, porque eu pago as pessoas que estão se apresentando lá. É um lugar de alimentação, com música. Não é uma boate, não é uma balada. Quantas pessoas nessa cidade passam por esse tipo de sofrimento? Porque alguém na prefeitura de Belo Horizonte acha que o Sympla, que foi inventado aqui e que é usado no Brasil inteiro, não pode ser usado. Cara, em que mundo essas pessoas vivem? Que conexão elas têm com a realidade?
O que priorizar na saúde e na educação?
A Saúde de Belo Horizonte sofre de um problema principal que eu quero acabar. Fila. É preciso ter um sistema que permita que a pessoa que começar a sentir uma dor na garganta, não precise sair de casa e ir para a fila de uma UPA. E hoje ela vai por duas razões: não tem outra coisa para fazer e se ela não está dando conta de trabalhar, ela precisa de um atestado. Porque senão o salário dela vai ser cortado ou pode ser demitida. Então ela vai para esse sofrimento. Curitiba, uma cidade exemplo de inteligência, faz assim. Tira o seu celular do bolso, manda uma mensagem pelo WhatsApp. Oi, eu sou a Mara. Estou com dor na garganta, febre e gostaria do atendimento. Seu atendimento começa ali, pela telemedicina. Em Belo Horizonte, o Mater Dei já faz. Outros lugares já fazem. Aí você começa a diminuir a fila e deixar o espaço para as urgências, para os casos mais graves, para quem está precisando com mais celeridade. E na hora que essa pessoa também precisa ir para o hospital, ela não deve ir diretamente. Ela deve avisar, vai ser gerado um código no celular dela, para que ela possa pegar uma condução gratuitamente e ir para esse local na hora certa. Para não ficar esperando. Chegando lá, os dados dela já estão colhidos. A situação já está pronta para ser atendida e aí você tem dinamismo e inteligência. Da mesma forma, tem 30 mil pessoas esperando cirurgia eletiva na cidade. São Paulo resolveu com mutirão noturno, de madrugada, com parcerias com hospitais privados. Tudo isso pode acontecer para a gente zerar a fila e não deixar isso acumular de novo. Outro problema que a tecnologia resolve: dengue. Para cobrar imposto do povo de Belo Horizonte, a Secretaria de Fazenda conta com drones e todo um equipamento tecnológico que mapeia a cidade toda. O IPTU chega lá bonitinho na casa de todo mundo. O fiscal que está querendo saber se tem foco de dengue num lote vazio tem que, em dupla, subir no muro e ver se tem foco de dengue. O drone serve para arrancar o dinheiro do povo para o IPTU, mas não serve para ver se tem foco de dengue? A fiscalização em Belo Horizonte está terrível. Tem 300 pessoas que fizeram o concurso e não são contratadas. O custo disso para a cidade é uma força de trabalho que sai da economia nos períodos endêmicos de dengue anualmente. Isso é um absurdo. E isso é saúde também. Da mesma maneira, você permitir que as pessoas morem na beirada de esgoto. Belo Horizonte tem regiões em que as casas são construídas com o esgoto passando embaixo da sala. As crianças brincam no esgoto como se fosse piscina. É óbvio que isso vai impactar no custo da saúde. Então, saúde também tem que ser vista da lógica preventiva e não deixar as coisas acontecerem. Outro exemplo para você. Eu estou com meus 38 anos. Saudades de quando eu parecia uma tripinha e comia de tudo e meu colesterol era baixíssimo. Hoje, se eu comer aos 38 anos em exagero, eu tenho problemas sérios. E por isso eu tenho que cuidar da minha alimentação e praticar exercícios físicos, de preferência corridas. Os bairros da cidade de Belo Horizonte, as regiões, precisam ter uma política de esporte profunda para tirar nós, os marmanjos, dessa vida sedentária. Porque senão é infarto. Isso é política de prefeito. E do mesmo jeito que eu estou falando de saúde, eu vou para a segurança. Na segurança, sabe o que eu quero fazer como prefeito? Você tem mãe, vários de nós temos idosos na família, quantos aqui já se desesperaram porque alguém pediu um Pix em seu nome e foram lá e fizeram? A Prefeitura de Belo Horizonte não fez nada a respeito. Eu fiz reunião com a Polícia Civil, eu quero parceria para campanhas educativas que ensinem essas pessoas a utilizarem o celular. E o zap zap é papel de prefeitura. Barcelona fez isso. Barcelona foi a primeira cidade 2.0, incluindo a digitalização, e depois ela virou uma cidade 3.0, fazendo com que as pessoas se digitalizassem. Esse tipo de educação digital é papel de prefeitura, é papel de campanha educativa. E aí eu desafogo a delegacia de crimes cibernéticos ali na Andradas, com um tanto de velhinho que faz o Pix achando que é o filho. A gente tem que parar de passar esse aperto. Na Educação, nós vamos inovar também e de um jeito simples. Hoje, a família que precisa ir trabalhar passou a ter um problemão que o ex-prefeito Alexandre Kalil criou. A secretária dele diminuiu o tempo da escola de tempo integral. A família que deixava a criança de manhã e buscava no final do dia, passou a não conseguir. Precisamos ampliar o tempo de ensino integral e eu sou o autor da lei que coloca no ensino integral a educação financeira para ninguém ficar endividado, que é outro problemão. Educação de noção jurídica e de cidadania é empreendedorismo. Ou seja, pegar a criançada e fazer essa conexão com o mundo real, escola para a vida. E escola integral que tem uma flexibilidade no início do dia e no fim do dia para dar tempo do pai conseguir deixar a criança lá, a mãe deixar a criança lá, ficar o dia todo no trabalho e buscar. Inclusive com a previsão de criação de algumas escolas noturnas para os papais e para as mamães que precisam trabalhar à noite e deixar as crianças lá. Educação, Mara, é uma marca pessoal, porque eu nunca parei de estudar. E sou filho da escola pública, estudei no Instituto de Educação de Minas Gerais, estudei no Colégio Militar de Belo Horizonte e sou professor de carteira assinada. Estou fazendo campanha para prefeito, sou presidente da Câmara Municipal, sou vereador. Sou dono do estabelecimento na avenida Afonso Pena, tenho muitas coisas para fazer, mas toda semana eu entro pontualmente no meu horário em sala de aula, com a minha lista de alunos, numa turma que tem quase 70 pessoas e leciono Direito, Estado e Política, com muita alegria. E eu sou um professor com o coração cheio, porque eu sei que a educação transforma e quero ser um prefeito que valoriza professor, escola e educação.
O que você pretende fazer para aumentar a arrecadação da cidade?
Destravar o que atrapalha a vida do empreendedor e ter uma agência, isso está no meu plano econômico, uma agência de atração de investimentos. Minas Gerais tem isso, com resultados. O coordenador do meu plano de governo foi o Thiago Toscano, um dos responsáveis por superávit nessa cidade, um dos responsáveis por atrair muito dinheiro para o governo de Minas e empregos. E Minas tem que ter um departamento comercial. Belo Horizonte tem que ter um departamento comercial, que atraia as pessoas. Eu penso, por exemplo, numa zona específica ali no Vale do Jatobá, de uma reconfiguração da política de ISS para não entrar numa guerra local nos municípios da região metropolitana e atrair.
Qual é o Belo Horizonte do futuro que você quer, sendo eleito ou não?
Eu fecho os olhos e não vejo nenhum prédio vazio no centro da cidade. Não vejo abandono. Vejo o complexo da Lagoinha demolido, com túneis passando por baixo, um grande parque no local, com construções se erguendo. Vejo as nossas praças e os nossos parques bem cuidados, sem lixo no chão, sem sujeira, porque vou conceder esses serviços públicos por regional. Vejo prefeituras regionais que não levam para a mesa do prefeito buraco, quebra-molas, poste. Isso é coisa para ser resolvida em outro patamar. O prefeito, na minha mesa, vai ter projeto para espichar a conexão do que hoje é a rodoviária, a rodoviária vai lá para o São Gabriel e fazer ligação com Confins, para a gente ter um acesso rápido ao aeroporto e trazer seiva econômica para a cidade. Vejo a Serra do Curral protegida num parque metropolitano que une Sabará, Nova Lima e Belo Horizonte num outro anel que cria uma zona de impacto e sustentabilidade. Vejo a Orla da Pampulha com um grande calçadão, com a Casa do Baile viva, permanentemente aberta, o Cassino com festa. E a obra que não foi feita do Oscar Niemeyer, um hotel construído como espaço cultural na primeira piscina pública da cidade com aquela lagoa limpa. Eu vejo o Barreiro se desenvolvendo com o Vale do Jatobá, com personalidade industrial tecnológica. Eu vejo o Vale do São Francisco com as bordas do UFMG atraindo estudantes, professores, investimentos. Eu vejo uma cidade que se ergueu em quatro anos para ser a capital de Minas e depois em quatro anos com o JK fez o nascimento da arquitetura modernista brasileira. Abrir os olhos e falar: esse é o melhor lugar do planeta, eu sinto orgulho de viver aqui. Eu quero ser o prefeito que vai fazer todo mundo falar Belo Horizonte de boca cheia, que vai receber as pessoas aqui, que são de fora, e falar: olha aqui onde é que eu vivo. Eu vivo em Belo Horizonte, a melhor cidade do mundo, onde o belo-horizontino tem orgulho. É isso que eu quero ser como prefeito, é isso que eu vou fazer na prefeitura, porque o meu compromisso é de vida e com essa seriedade. Eu quero acordar diariamente na rua dos Tupis com Rio de Janeiro, no meu apartamento, e descer caminhando até a Afonso Pena, entrar no portão do número 1212 e trabalhar de sol a sol. Porque a minha prioridade é cuidar desse lugar que eu amo e amo muito. Não amo porque é eleição, não. Amo porque eu devo muito a essa cidade e quero retribuir. Com teto, trabalho e transporte.
Ouça a rádio de Minas