Política

Governo cita gravidade e abre apuração sobre acusação de assédio contra Silvio Almeida

Organização que recebeu acusações de assédio sexual contra o ministro mantém o anonimato das supostas vítimas, mas uma delas seria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco
Atualizado em 6 de setembro de 2024 • 11:46
Governo cita gravidade e abre apuração sobre acusação de assédio contra Silvio Almeida
Crédito: Ueslei Marcelino/ Reuters

Brasília – O governo Lula (PT) informou na noite desta quinta-feira (5) que reconhece a gravidade das denúncias de assédio sexual contra o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que foi chamado a prestar esclarecimentos para a Advocacia-Geral da União (AGU) e para a Controladoria-Geral da União (CGU).

A Comissão de Ética da Presidência da República também decidiu abrir um procedimento para apurar as acusações contra Almeida. Uma reunião de emergência foi feita na manhã desta sexta-feira (6).

Mais cedo na quinta-feira, a organização Me Too Brasil confirmou que recebeu acusações de assédio sexual contra o ministro. A entidade mantém o anonimato das supostas vítimas, mas uma delas seria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

O caso foi divulgado primeiro pelo portal Metrópoles. A reportagem confirmou as informações.

“O ministro Silvio Almeida foi chamado esta noite a prestar esclarecimentos ao controlador-geral da União, Vinícius Carvalho, e ao advogado-geral da União, Jorge Messias, por conta das denúncias publicadas pela imprensa contra ele”, informou o Palácio do Planalto, em nota.

O texto ainda acrescenta que o próprio Silvio Almeida vai encaminhar ofício à CGU, ao Ministério da Justiça e à Procuradoria Geral da República para que investiguem o caso. A nota também afirma que a Comissão de Ética da Presidência da República decidiu abrir de ofício um procedimento de apuração.

“O Governo Federal reconhece a gravidade das denúncias. O caso está sendo tratado com o rigor e a celeridade que situações que envolvem possíveis violências contra as mulheres exigem”, completa o texto.

Ministério das Mulheres diz que acusações contra Silvio Almeida são graves

O Ministério das Mulheres, comandado por Cida Gonçalves, classificou como graves as denúncias de assédio sexual atribuídas ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e manifestou solidariedade “a todas as mulheres que diariamente quebram silêncios e denunciam situações de assédio e violência”.

“As denúncias de assédio envolvendo o ministro Silvio Almeida que vieram à tona nesta semana são graves e serão apuradas pela Comissão de Ética da Presidência da República, conforme informou o Palácio do Planalto”, afirma o Ministério das Mulheres.

“O Ministério das Mulheres manifesta solidariedade a todas as mulheres que diariamente quebram silêncios e denunciam situações de assédio e violência. A palavra de vocês terá sempre o nosso crédito e respeito e nossos canais do Ligue 180 e da Ouvidoria estarão sempre à disposição”, diz ainda.

A pasta pontua que a prática de violência e de assédio é inadmissível e não está de acordo com os princípios democráticos e da administração pública federal.

Ministro Silvio Almeida nega acusações e entra na Justiça contra ONG

Silvio Almeida publicou uma nota mais cedo para negar as acusações de que teria cometido assédio sexual e depois um vídeo, no qual lê o mesmo conteúdo.

“Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim.

Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país”, afirmou.

“Toda e qualquer denúncia deve ter materialidade. Entretanto, o que percebo são ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro”.

O ministro disse que “há um grupo querendo apagar e diminuir as nossas existências” e que, com isso, “perde o Brasil, perde a pauta de direitos humanos, perde a igualdade racial e perde o povo brasileiro”.

Afirmou que falsas acusações configuram denunciação caluniosa e que “tais difamações não encontrarão par com a realidade”. “Fica evidente que há uma campanha para afetar a minha imagem enquanto homem negro em posição de destaque no Poder Público, mas estas não terão sucesso.”

Ainda na noite desta quinta-feira (5), a defesa do ministro dos Direitos Humanos entrou no Tribunal de Justiça do Distrito Federal para pedir explicações à Me Too sobre sua forma de atuar.

Os advogados do ministro pedem que a Me Too explique, por exemplo, como recebe denúncias, quais protocolos de apuração dela, quais são as informações que ela tem sobre o caso de Silvio Almeida e quais as evidências corroboram a acusação de abuso sexual.

O que diz a organização Me Too Brasil

A organização Me Too Brasil divulgou uma nota nesta quinta-feira (5), confirmando que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida.

“A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico”, diz a nota.

A nota ainda afirma que as vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional para validar as suas denúncias e por isso autorizaram a confirmação do caso para a imprensa.

“Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional pra a validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”, afirma o texto.

Veja repercussão do caso envolvendo Silvio Almeida e Anielle Franco

A página no Instagram do Instituto Luiz Gama, fundado por Almeida, postou stories afirmando que as acusações são “mentiras para derrubar” o ministro. Em outra postagem, diz que “Infelizmente, há pessoas negras que também não querem [um ministro negro], gente que há muito tempo trama contra ele e reclama que está sendo ofuscada por ele”.

A organização Mulheres Negras Decidem, que organizou uma campanha por uma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF) após a aposentadoria de Rosa Weber, postou no Instagram uma mensagem de apoio a Anielle e repúdio a Almeida.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), também ex-ministro de Bolsonaro, ironizou: “Se o ministro dos Direitos Humanos continuar no cargo, Lula vai decretar que em seu governo assédio é direito humano?”.

Flávio Bolsonaro (PL), senador pelo Rio de Janeiro, postou no Instagram: “O cara achou que poderia se esconder atrás da cadeira de ministro dos Direitos Humanos, que tinha poderes para abusar até mesmo de uma ministra colega. Mas agora a casa caiu. Nojento demais!”

Reportagem distribuída pela Folhapress

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