Política

Lira devolve mandato para deputado bolsonarista

Lira devolve mandato para deputado bolsonarista
Crédito: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

São Paulo – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afastou na sexta-feira (3) o petista Márcio Macêdo (PT-SE) do cargo de parlamentar e determinou a volta de José Valdevan de Jesus, o Valdevan Noventa (PL-SE), que havia sido cassado em março deste ano por abuso do poder econômico durante a campanha eleitoral de 2018.

A decisão foi tomada um dia depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques suspender a cassação de Valdevan.

A decisão de Nunes Marques, no entanto, ainda será analisada pela segunda turma do STF. Ela causou polêmica e pode ser derrubada.

Nesta sexta (3), o magistrado enviou um ofício carimbado como “urgente” a Lira comunicando que a cassação já não está valendo.

A velocidade de Nunes Marques e de Lira neste caso se contrapõe ao tempo que a Câmara levou quando Valdevan foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A decisão do tribunal foi proferida no dia 17 de março. A posse de Macêdo ocorreu apenas no dia 27 de abril -ou seja, mais de um mês depois da sentença do TSE.

Na mesma quinta, Nunes Marques suspendeu também cassação do mandato do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR), que havia sido igualmente cassado pelo TSE.

“Recebo com surpresa essa decisão casuística, mas acredito na Justiça e tenho certeza de que o STF vai reverter essa decisão intempestiva e que não cabia nesse processo. O voto popular e a democracia representativa serão respeitados”, afirma Márcio Macêdo, deputado que tinha tomado posse no lugar do Valdevan.

O petista é tesoureiro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.

As duas liminares do ministro Kassio Nunes Marques nas quais derrubou decisões do TSE em favor de deputados aliados do presidente devem abrir um novo embate entre o STF e Jair Bolsonaro (PL).

Ambos os casos, agora, terão de ser analisados pelo plenário do STF, alvo de uma série de ataques do presidente da República, que em outubro próximo disputará a reeleição ao Palácio do Planalto.

Aliado de Bolsonaro, Francischini foi cassado em outubro passado devido à publicação de vídeo, no dia das eleições de 2018, no qual afirmou que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas para impedir a votação no então candidato a presidente da República.

A decisão liminar (provisória) de Kassio tem um efeito simbólico que mexe não só com as eleições como também com a crise permanente de tensão de Bolsonaro com o Poder Judiciário.

Isso porque o magistrado foi indicado ao STF por Bolsonaro, tem votado a favor de causas do presidente em diferentes julgamentos, mesmo que de forma isolada, e agora derruba uma decisão do plenário do TSE usada como exemplo contra a propagação de fake news nas eleições. (Mônica Bergamo)

Decisão de Nunes Marques tem desfecho incerto

Brasília – As decisões do ministro Nunes Marques que derrubaram cassações de deputados bolsonaristas determinadas pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem desfecho incerto no Supremo Tribunal Federal (STF), segundo fontes dos dois tribunais ouvidas pela Reuters na sexta-feira (3).

Na quinta (2), Nunes Marques –indicado ao Supremo pelo presidente Jair Bolsonaro– reverteu cassações do TSE do deputado estadual pelo Paraná Fernando Francischini, por ter divulgado fake news sobre as urnas eletrônicas, e do deputado federal por Sergipe José Valdevan (PL) por compra de votos e abuso de poder econômico nas eleições, ambos os casos em condutas de 2018.

No TSE, segundo duas fontes, as liminares de Marques foram vistas como surpreendentes por desconstituírem decisões colegiadas do tribunal, mas consideram que caberá ao Supremo definir o futuro dos dois casos.

Oficialmente, conforme a assessoria de imprensa do Supremo, as duas decisões não preveem referendo. Se houver recurso, a competência para julgar será a Segunda Turma do STF, que tem Marques como presidente.

Além da necessidade de recurso, o caso precisa ser liberado para julgamento do colegiado, também atribuição de Marques, que poderá ditar o ritmo para o caso ser apreciado. Em tese, ele pode não pautar os casos até as eleições, o que, na prática, pode permitir aos parlamentares concorrerem em outubro.

Por ora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou, por meio da assessoria, que o caso está sob análise da vice-procuradora-geral Lindôra Araújo para avaliar se haverá recurso ou não. Há ainda a possibilidade de outros tipos de recursos que podem vir a ser movidos por partidos políticos, por exemplo. Já nesta sexta, o PT apresentou recurso contra a decisão de Marques sobre Valdevan.

Se os casos forem analisados futuramente pela Segunda Turma com a atual composição, a expectativa é de um julgamento apertado, segundo uma das fontes do STF. A perspectiva é que Nunes Marques e André Mendonça, outro ministro indicado por Bolsonaro, possam votar para manter as liminares e Edson Fachin e Ricardo Lewandowski, que também atuam no TSE, para derrubá-las.

O fiel da balança, segundo essa fonte, seria o ministro Gilmar Mendes, cujo posicionamento é tido como uma incógnita.

Uma outra possibilidade, mais remota, seria o caso ser apreciado pelo plenário do Supremo. Nesse aspecto, segundo as fontes ouvidas, haveria possibilidade maior de uma vitória e derrubada das liminares de Nunes Marques.

Avestruz

Na manhã de sexta (3), sem falar nominalmente de Marques, o ministro do STF Alexandre de Moraes –que vai presidir o TSE durante as eleições– rebateu os fundamentos usados pelo colega de corte para reverter a cassação pelo TSE de Fernando Francischini.

Sem citar a decisão de Marques, Moraes disse, durante participação no VIII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, que o obstáculo “logo será superado” e que não se pode fazer “política judiciária do avestruz”.

“Este ano, nas eleições, independentemente de um obstáculo que logo será superado, logo mesmo, é isso que este ano nas eleições será aplicado no Tribunal Superior Eleitoral. Foram duas decisões em três processos. Para fins eleitorais, as plataformas, todos os meios das redes serão considerados meios de comunicação para fins de abuso de poder econômico e abuso de poder político”, disse.

“Quem abusar por meio s plataformas, sua responsabilidade será analisada pela Justiça Eleitoral, da mesma forma que o abuso de poder político, de poder econômico pela mídia tradicional. Não podemos fazer a política judiciária do avestruz, fingir que nada acontece: que bonito, é uma empresa de tecnologia.” (Reuters)

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