Política

Lula defende a formação de alianças políticas

Em meio à formulação da reforma ministerial, presidente do Executivo disse que nenhum deputado é obrigado a votar com o Governo
Lula defende a formação de alianças políticas
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou a atenção na sexta-feira (25) para a importância de o Executivo entender que os parlamentares não são obrigados a votar com o governo, o que exige capacidade de diálogo e convencimento, avaliou, em um momento em que estuda alterações ministeriais para acomodar partidos do chamado centrão.

Em discurso na Assembleia Nacional de Angola, Lula afirmou que o exercício da democracia envolve conversar com pessoas com quem não há afinidade para firmar “alianças políticas”.

“É importante que quem esteja no Executivo compreenda que nenhum deputado é obrigado a votar numa coisa que o governo fez porque foi o governo que fez. É importante que a gente tenha a humildade de compreender que ninguém é obrigado a concordar conosco se nós não tivermos capacidade de convencer as pessoas de que aquilo é importante para o povo do país”, disse o presidente.

“Toda hora, a todo momento, de domingo a domingo, você tem que conversar com pessoas que você não gosta, com pessoas que não gostam de você, mas que a gente aprende a dialogar, porque essa superação da relação entre seres humanos é que permite que a democracia seja uma coisa tão extraordinária que permitiu que, no meu país, um torneiro mecânico chegasse à Presidência da República.”

Partidos do centrão pressionam por mais espaço no Executivo em troca de votos no Congresso Nacional.

O Palácio do Planalto já tem os nomes escolhidos pelo grupo, mas não há definição sobre quais pastas irão ocupar.

A expectativa é que Lula defina as mudanças em seu ministério quando retornar da viagem à África.

Golpe

O presidente aproveitou a homenagem recebida pela assembleia do país africano para agradecer as manifestações de apoio do presidente angolano por ocasião dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em que as sedes dos Três Poderes do Brasil foram invadidas e depredadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Lula responsabilizou seu antecessor pelas ações. Bolsonaro não reconheceu o resultado das eleições vencidas pelo petista e atacava a credibilidade do sistema de votação eletrônica do País.

“Registro aqui nossa gratidão aos nossos amigos angolanos pelo apoio estendido ao Brasil pelo presidente João Lourenço e seu governo quando vivemos em 8 de janeiro deste ano a tentativa de um golpe às sedes dos Três Poderes dado pelo ex-presidente da República”, declarou o presidente brasileiro.

Investimentos

Lula cobrou, durante evento de encerramento de fórum econômico em Angola, que empresários façam investimentos e exaltou o continente africano como uma das fronteiras possíveis para a expansão das empresas.

“Eu queria fazer uma convocação para os empresários, e aqui queria falar para os empresários brasileiros”, instou.

“Acho que é importante Jorge (Viana, da Apex), você, o Sebrae, a Fiesp com o companheiro Josué (Gomes), a CNI que agora vai ter um presidente que é preocupado com a indústria de verdade, o (Ricardo) Alban da Bahia, na hora que a gente tiver empresários preocupados com a indústria de verdade, de fazer investimento”, afirmou.

Em sua fala, de improviso, Lula disse que, se houvesse mesmo preocupação do setor, não se tinha permitido uma “quebradeira” das empresas de engenharia brasileira. Foi uma referência a investigações da Operação Lava Jato, que levaram à prisão de executivos de empreiteiras, multas bilionárias e grandes perdas de empregos e de competitividade.

“Faça uma licitação hoje para ver quantas empresas brasileiras aparecem e quantas estrangeiras? Um país que construiu uma das mais extraordinárias empresas de engenharia do planeta, ganhava concorrência no Oriente Médio, Miami, continente africano, latino-americano. Destruíram”, afirmou ele, em outro momento, numa referência indireta à Odebrecht, que foi alvo da operação policial.

O petista chegou a ser preso por 580 dias por condenação na Justiça decorrente da Lava Jato — posteriormente todas as suas condenações foram anuladas por decisão do Supremo Tribunal Federal, permitindo-o a concorrer novamente ao Palácio do Planalto e vencer pela terceira vez a disputa presidencial.

“Pé de igualdade”

O presidente afirmou que este é o momento de a região sul do planeta se colocar “em pé de igualdade” com o norte.

O chefe do Executivo disse que não quer “tirar nada de ninguém”, mas buscar uma posição de “pé de igualdade”.

Lula aproveitou ainda para dizer que a intenção do governo brasileiro é que os empresários sejam a alavanca para a criação de empregos.

Reforma ministerial ainda será definida

Rio – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não fechou o desenho da reforma ministerial que fará para aumentar o apoio ao governo no Congresso Nacional, mas deve finalizar as mudanças quando retornar da viagem que faz ao continente africano, afirmou na sexta-feira (25) o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

O ministro confirmou que os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) serão nomeados para a Esplanada, após indicação das lideranças de seus partidos, mas ainda não se sabe para quais pastas.

“Esse desenho não está definido. Na viagem à África, o presidente Lula pediu informações e deve construir esse desenho. O que já está absolutamente decidido é acolher as duas indicações“, disse Padilha em entrevista a jornalistas após participar do velório do ex-senador Francisco Dornelles.

O ministro enfatizou que Lula não poderia tomar qualquer decisão sobre a reforma ministerial fora de Brasília, pois prefere realizar as reuniões com lideranças partidárías e potenciais indicados de forma presencial.

“O presidente Lula gosta de conversar olho no olho com lideranças políticas e pessoas indicadas pelas duas bancadas para compor o governo. Certamente na volta da África podemos retomar o diálogo”, afirmou.

Padilha acrescentou que a expectativa do Planalto é de que a entrada dos dois deputados confirmados na Esplanada reforce a atuação de suas respectivas legendas no Congresso em pautas prioritária.

Na semana passada, Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tiveram um encontro reservado na residência oficial do parlamentar para tentar avançar na questão da reforma, disseram três fontes à Reuters.

De acordo com uma fonte do governo, a discussão elevou a um acordo inicial de que o PP poderia assumir o Ministério do Desenvolvimento Social, uma das pastas que estavam na lista do partido, e o Republicanos receberia o Ministério de Portos e Aeroportos.

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