Lula descarta uma reforma ministerial

Brasília – O presidente Lula (PT) rejeitou realizar uma reforma ministerial por causa de problemas enfrentados no Congresso Nacional e também afirmou que nunca ouviu pedidos de ministérios por parte do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A declaração foi dada após cobranças do próprio Lira e mesmo de parlamentares da base aliada sobre problemas da articulação política do governo com o Congresso, além de queixas de que o Planalto está segurando nomeações para cargos e liberação de emendas. Além disso, outro movimento pede mais espaço para o bloco político do centrão no governo.
“Não está na minha cabeça fazer a reforma ministerial, a não ser que aconteça uma catástrofe que eu tenha que mudar. Mas, por enquanto, o time está jogando melhor que o Corinthians”, disse Lula, após encontro com o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö.
O mandatário também afirmou que não recebeu pedido de Lira por ministério, mas não descartou negociar a entrada do PP no governo.
“Não pediram e não poderia pedir porque o PP é um partido de oposição e tem gente que vota com a gente. O PT já teve ministro do PP, o PP teve dois ministérios do governo da Dilma Rousseff. Não é problema, se ele pedisse a gente vai avaliar, mas até agora nunca ouvi Lira pedir ministro”, disse.
Mais cedo, Lula já havia comentado a vitória na votação da MP que estrutura o governo. “Era razoável que a Câmara votasse do jeito que votou”, disse.
Na quarta-feira (31), a Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória que reestrutura a Esplanada dos Ministérios, mantendo a base do formato desenhado pelo governo Lula.
Os momentos que antecederam à votação, no entanto, foram marcados por muita pressão de parlamentares, que escancararam a divergência com o governo e disseram que seria o “último voto de confiança” ao governo federal.
Lira, em particular, havia lançado uma série de críticas à articulação do governo.
Pouco antes da fala de Lula, Arthur Lira também havia concedido entrevista, na qual afirmou ter feito alertas ao governo da insatisfação dos parlamentares com a relação do Executivo com a Casa e defendeu que o petista dê espaço em seu ministério para mais partidos para aumentar sua base de apoio no Congresso.
Em entrevista à GloboNews ontem, o parlamentar afirmou que o governo federal se predispôs a montar a sua base parlamentar dando ministérios para partidos que o apoiaram na campanha, além de MDB, PSD e União Brasil — e defendeu que é lógico que essa alternativa possa ser usada a outras legendas no intuito de aumentar a base.
“E é lógico que, em uma conversa entre líderes, parte da articulação política ou com o presidente da República ou com o presidente da Câmara, que essa mesma solução seja dada para outros partidos que ele queira [para] aumentar a base. O que há de errado nisso? O que há de diferente nisso? O que há de estranho nisso?”, afirmou Lira. (Matheus Teixeira e Renato Machado)
Arthur Lira volta a criticar o Planalto
Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse ontem esperar que a aprovação pela Câmara dos Deputados da medida provisória (MP) da reestruturação dos Ministérios tenha servido de “ensinamento” para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentar seus esforços na construção de uma base de apoio no Congresso.
“O que aconteceu nesta semana, eu espero que o dia de ontem tenha servido de ensinamento, foi um grande esforço dos partidos independentes, dos partidos até de oposição, em ajudar na votação, por um apelo, que foi feito do presidente Lula a mim pessoalmente, um apelo meu aos líderes”, disse Lira em entrevista à GloboNews, ressaltando que o clima inicial era de rejeição da MP, mas destacando também o trabalho do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Lira reforçou que um governo sem maioria no Parlamento não pode achar que partidos independentes têm obrigação de votar de acordo com os interesses do Palácio do Planalto.
Para Lira, o governo precisa se aproximar dos chamados partidos de centro para reforçar sua base. O presidente da Câmara lembrou que Lula deu Ministérios a alguns partidos como forma de ter o apoio no Congresso e que isso pode ser feito com outras siglas, mas voltou a negar que tenha feito pedidos específicos, segundo uma fonte do Planalto, ele estaria buscando espaço nos ministérios para seu próprio partido, o PP, e o Republicanos.
“Eu sempre defendo os partidos de centro, porque ai do Brasil se eles não existissem, né, sempre dão equilíbrio entre a radicalização de um lado, a radicalização de outro… Eu torço para que o governo acerte, espero um posicionamento do presidente Lula para que ele, pessoalmente, dê esse ‘start’, parta dele a formação dessa base”, disse Lira.
“Espero que todos os alertas que foram feitos tenham servido do bom e do melhor empenho, da melhor boa vontade, para dar um alerta para o governo, uma chacoalhada, para que ele realmente se posicione”, acrescentou o deputado.
Questionado se tem sido menos aliado do Palácio do Planalto do que durante o governo Jair Bolsonaro, de quem foi mais próximo, o presidente da Câmara disse que em todas as matérias importantes votadas na Casa se comportou do mesmo modo como fazia na gestão anterior, citando, entre outros projetos, o do novo arcabouço fiscal.
“Eu não gero problemas, eu os resolvo e os alerto”, disse. (Reuters)
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