Política

Lula deve encontrar cenário favorável na China

Viagem do presidente da República para o principal parceiro comercial do Brasil está agendada para o dia 26 de março
Lula deve encontrar cenário favorável na China
Entre os fatores que são considerados favoráveis ao Brasil está o aumento da tensão entre os chineses e os norte-americanos | Crédito: Oleksil/Adobe Stock

Brasília e São Paulo – A viagem do presidente Luiz Inácio de Lula da Silva à China, entre 26 e 31 de março, encontrará uma situação geopolítica global favorável ao estreitamento de relações comerciais com o Brasil, em meio a tensões entre chineses e norte-americanos sendo acentuadas por uma aproximação de Pequim com a Rússia.

Se situação rememora como as exportações do Brasil foram beneficiadas pela guerra comercial China-EUA no passado, coincide também com um ano de safra recorde de soja brasileira, principal produto da pauta de exportação nacional que pode atender os chineses — maiores importadores mundiais — com certa folga, se houver alguma rusga mais grave entre eles e norte-americanos.

“Na soja, há expectativa de produção recorde de 150 milhões de toneladas… por conta do aumento da quantidade, isso deve evitar que os preços subam”, disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

A expectativa de grande colheita brasileira de milho, cujo mercado foi recém-aberto pelos chineses, sempre ávidos por matérias-primas, e uma temporada mais açucareira no Brasil em 2023, que garantirá oferta adicional necessária à China (maior importador do produto brasileiro), também ajudam a adoçar as relações comerciais após desgastes deixados por posições anti-Pequim do governo Jair Bolsonaro.

“A deteriorarão da relação EUA-China pode criar espaço para uma aproximação comercial entre os dois países (Brasil e China), em algum cenário probabilístico… Vimos o que aconteceu durante a guerra comercial, abriu espaço para o Brasil como origem de commodities, em especial a soja”, disse o coordenador de Inteligência de Mercado da consultoria e corretora StoneX, Vitor Andreoli.

Entre 2018 e 2019, Pequim adotou contramedidas a tarifas de Washington e taxou produtos dos EUA como soja e carnes, o que desviou boa parte da demanda para o Brasil, que também teve naqueles anos boas safras.

No longo prazo há preocupação com a extrema dependência do Brasil em relação à China, lembra um analista que prefere falar sob anonimato, citando que a população do país asiático não cresce mais no mesmo ritmo como no passado.

No momento, porém, há algumas discussões que podem render frutos comerciais imediatos ao Brasil, como novas habilitações de frigoríficos de carnes e a abertura do mercado ao farelo de soja brasileiro, além da importância do caráter institucional da viagem, conforme também destacou André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), associação que reúne as tradings e processadoras de soja.

“O negócio se desgastou muito no governo anterior. O mais importante é sinalizar essas relações estáveis (…), a possibilidade de ter agenda aberta de produtos, investimentos. Essa é a grande relevância dessa viagem”, segue Nassar, informando que fará parte da comitiva avançada que acompanhará o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, prevista para chegar ao país asiático dias antes de Lula.

Na última semana de março, o presidente levará à China empresários, parlamentares e outros ministros além de Fávaro, respondendo a convite do líder chinês Xi Jinping.

Nas agendas da missão em Pequim e Xangai, contudo, não há sinal de grande anúncio ou investimento até o momento, de acordo com uma fonte da equipe econômica. O mercado espera, pelo menos, a retomada das exportações de carne bovina após uma suspensão em fevereiro, por um caso atípico de “mal da vaca louca”.

Mas há expectativa de plenárias empresariais envolvendo empresas chinesas com investimentos no Brasil, como Sinopec (energia e química), China Three Gorges Corporation (energia), Cofco (agronegócios), Citic (financeiro), China General Nuclear Power Corporation (energia), China National Offshore Oil Corporation (petróleo). Do lado brasileiro, devem estar gigantes como Vale, JBS, Embraer, Suzano e outras.

Liderança

Ainda, há expectativa de uma relação institucional mais “saudável” entre Brasil e China após o governo de Jair Bolsonaro, marcado por comentários “inadequados” do ex-presidente em redes sociais sobre os chineses, lembrou Andreoli, da StoneX.

Olhando para frente, como fornecedor confiável de outros importantes produtos importados pela China, que vão de carnes a minério de ferro e petróleo, a missão brasileira buscará que uma consolidação do Brasil como parceiro comercial mude o status geopolítico da nação sul-americana para os chineses, segundo a fonte da equipe econômica.

Sendo reconhecido como efetivo líder regional, o Brasil quer barrar também ofensivas bilaterais chinesas na região, como conversas para um acordo comercial com o Uruguai que seriam “fatais” ao Mercosul.

Alckmin discute parceria com a União Europeia

Brasília – O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, se reuniu na sexta-feira (17) com a vice-presidente executiva da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, para tratar das relações entre o Brasil e o bloco europeu, além do acordo multilateral com o Mercosul. Na ocasião, as duas lideranças reafirmaram a intenção de acelerar o acordo entre os blocos econômicos. O encontro ocorreu durante o lançamento do Mapa Bilateral de Investimentos Brasil-União Europeia, estudo publicado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em Brasília.

Alckmin destacou que a União Europeia (UE) é o maior investidor do mundo no Brasil e que pretende fortalecer essa parceria por entender que os europeus compartilham valores e princípios, como o do desenvolvimento sustentável, inclusivo e com estabilidade. A negociação entre os países do Mercosul e da União Europeia começou em 1999, mas só avançou em 2019, após a conclusão das questões comerciais e de aspectos políticos e de cooperação.

Atualmente, o tratado comercial está em fase de revisão. Segundo Margrethe Vestager, a conclusão do acordo é uma prioridade para a Comissão Europeia. “Para nós, finalizar as negociações do acordo Mercosul União Europeia é absolutamente prioritário. É um momento muito importante para acelerar a finalização e este é o momento para fazer as coisas acontecerem”, afirmou a enviada da Comissão Europeia.

A vice-presidente executiva disse ainda que 50% do investimento estrangeiro direto no Brasil é de origem europeia e que se orgulha em ver a quantidade de empresas do continente atuando no País. “Esperamos desenvolver parcerias estratégicas, entre elas a de mineração sustentável. Vamos deixar pra trás a mineração antiga, em que ocorria a exploração franca e clara da natureza e das pessoas, em particular deslocando e retirando as matérias-primas dos locais explorados, agora em busca de um equilíbrio muito mais adequado, no qual o compartilhamento do valor agregado obtido seja feito de modo mais adequado e justo”, disse.

Nesse contexto, Alckmin destacou os esforços do governo brasileiro para recolocar o país “no combate às mudanças climáticas, desmatamento ilegal zero, transição energética, descarbonização e hidrogênio verde”. Nas próximas semanas deve ser agendada uma visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, as negociações deverão ser “intensificadas” a partir de agora.

Mapa

O Mapa de Investimentos Bilaterais Brasil – União Europeia, publicado durante o encontro entre o vice-presidente e a representante da UE, consiste no levantamento e na análise de dados oficiais e de anúncios de novos projetos que traçam um panorama da relação de investimentos entre as duas regiões. O estudo mostra a distribuição desses investimentos entre os Estados-Membros do bloco e, também, nos estados brasileiros, provendo informações de nível setorial.

Esta é a segunda versão do levantamento que, a partir de uma análise de cenário realizada pelo setor de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, mapeia as oportunidades de negócios mais promissoras entre o bloco e o País. Nessas análises, são encontradas informações relativas a projetos, valores e empregos decorrentes de operações de investimento de empresas estrangeiras no Brasil e brasileiras no exterior. O objetivo é traçar um panorama da relação de investimentos entre as duas regiões. (ABr)

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