Política

Cumprir meta fiscal será desafiador para governo Lula, aponta especialista do Ibmec

Para economista Ari Araujo Jr, decisão de controlar contas públicas com aumento de arrecadação é equivocada
Cumprir meta fiscal será desafiador para governo Lula, aponta especialista do Ibmec
Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

A decisão do governo Lula de controlar as contas públicas através do aumento da arredação é considerada equivocada pelo coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec BH, Ari Araujo Jr. Com isso, o especialista vê dificuldades para a equipe econômica cumpri a meta fiscal.

Na manhã de ontem, o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve na mesa de discussões no Ibmec BH. Especialistas da instituição, os professores de economia Márcio Salvato e Ari Araújo Jr, e de ciência política Adriano Gianturco, debateram a gestão petista no evento “Um ano de governo: conquistas, desafios, situação fiscal e perspectivas”.

Ari Araujo Jr, coordenador do curso de Ciências Econômicas da instituição, vê dúvidas na capacidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cumprir as promessas de ajuste fiscal. Para ele, o governo se equivoca quando decide realizar o ajuste não pela redefinição do gasto público, mas pelo aumento da arrecadação. Além disso, o economista destaca pontos de atenção em 2024: eleições municipais e indicação do próximo presidente e três diretores do Banco Central (BC).

“Temos um contexto que pode ser inflacionário do lado fiscal. Por isso, o gestor de política monetária passa a ter importância fundamental e vai ser alterado no próximo ano. A gente pode ter um banco central menos avesso à inflação do que o atual. Se for, tem um contexto muito ruim, porque, por um lado, a situação fiscal aponta para inflação mais alta. E, se tem um lado monetário – o Banco Central – também apontando para uma situação de inflação mais alta, caminha para um contexto bem complexo”, afirma o economista.

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Aumentar a produtividade é desafio

Márcio Salvato, professor e diretor-geral do Ibmec BH, chama atenção para o fim do bônus demográfico brasileiro, um dos principais fatores para o bom desempenho econômico do País no começo do Século XXI. O economista afirma que, sem o bônus, o aumento da produtividade torna-se cada vez mais importante para o crescimento da renda per capita.

A chave dessa nova realidade, segundo ele, está na educação básica. Se não for por esse caminho, que aumenta a produtividade, o País arrisca ter uma taxa de crescimento médio da renda per capita menor.

“É política de longo prazo. A gente tomou uma decisão no passado que a educação básica seria pública. Ensino superior, uma parte pública e mais espaço para privada. Hoje, um grande problema é que o custo do ensino superior público é muito caro. O investido por aluno, no ensino fundamental público, é baixo em relação a países que estão bem à frente da gente. Isso que tem que ser revisto, permitir o ensino privado, que no Pisa mostra que é bem melhor. Fazer com que permita mais investimento por aluno no ensino público, e o ensino privado avance mais forte no ensino fundamental”, explica Salvato.

Governo Lula é mais voltado ao multilateralismo, aponta especialista do Ibmec

Para Adriano Gianturco, coordenador do curso de Relações Internacionais e professor de Ciência Política do Ibmec BH, há facilidade em traçar uma perspectiva da política externa do governo Lula III, exatamente pelo histórico de dois mandatos. O atual governo acredita mais no multilateralismo do que o anterior. Além disso, é mais bem recebido pelos organismos internacionais, pela rede de contatos, articulação e prestígio internacional do presidente.

O professor espera mais protecionismo com a atual gestão e indica, inclusive, uma rejeição no acordo Mercosul-União Europeia, também por protecionismo europeu. E a mudança de uma posição pró-Ocidente, alinhada com países ricos do Norte Global, para relações Sul-Sul mais profundas, sobretudo com a China, pode afetar de forma negativa investimentos diretos no País, que começam a diminuir.

“Pelo posicionamento na geopolítica internacional, esse alinhamento vai gerar mais ambiguidade, arbitrariedade, coloca mais risco. Por questões domésticas internas, o que pesa mais é a situação micro e macroeconômica. Quando empresas estrangeiras avaliam se e quanto investir, avaliam a situação. Segurança jurídica, risco político, econômico, mas, também, por exemplo, a questão do Banco Central. Se tiver um investimento estrangeiro direto, vai ser mais de cunho especulativo, não realmente investimento para ficar apostando no País”, considera Gianturco.

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