Em BH, Henrique Meirelles diz que próximo presidente precisa estar comprometido com as contas públicas

O ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta sexta-feira (4) em Belo Horizonte, que o próximo presidente do Brasil precisa estar comprometido com as contas públicas. Em evento que tratou sobre as perspectivas econômicas do Brasil e do mundo, o ex-ministro disse que o Brasil vive um cenário econômico surpreendente, fruto de mudanças que começaram em 2016, na gestão do ex-presidente Michel Temer, que contou com a participação dele. Porém, ressaltou que há pontos que ainda precisam ser ajustados, como a questão fiscal.
Ao fazer um panorama do que está por trás do crescimento acima do esperado (1,4% no primeiro trimestre) mesmo com cenário econômico instável, altas taxas de juros e questões fiscais que ele considerou “preocupantes”, o ex-ministro atribuiu a boa performance da economia brasileira a reformas trabalhistas e tributárias iniciadas no governo de Michel Temer que aumentaram a produtividade do País. “Várias reformas importantes foram feitas e estão impactando o resultado agora”, disse Meirelles.
Segundo o ex-ministro, o Brasil possuía um sistema trabalhista complicado do ponto de vista de legislação, com muitos conflitos judiciais em que qualquer problema, acabava sendo resolvido em instâncias jurídicas. “De fato o Brasil conseguiu simplificar muito o mercado de trabalho fazendo a reforma trabalhista. O nível de conflitos judiciais caiu enormemente e em função disso, a economia aumentou em termos de produtividade e nós estamos sentindo isso nos números”, alegou.
Outro ponto que Meirelles fez questão de pontuar foi a reforma tributária. De acordo com ele, o Brasil vivia “um pesadelo tributário” em que havia taxas diferentes para produtos diferentes, para estados diferentes e até o mesmo produtos com valores diferenciados dependendo da unidade da federação. “Fizemos um plano de aumento de produtividade no Brasil e foi detectado essa complexidade tributária como um dos procipais problemas. Mas a questão está bem endereçada. Poderia ser melhor, eu sei, mas está avançando, já é uma melhora substancial. Qualquer passo à frente é positivo”, afirmou.
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Ao citar as reformas estruturais que ele considera importantes para os resultados que o Brasil colhe agora, Meirelles também citou a questão do empreendedorismo. “O número de horas e dias para abrir uma empresa no Brasil era um dos mais demorados do mundo. Nessa questão, também foram feitos avanços significativos naquela época e hoje, há cidades que em questão de horas você abre uma empresa como São Paulo”, comentou.
Por último, Meirelles citou a digitalização das transações financeiras e ressaltou o avanço proporcionado pelo Pix, como exemplo de sucesso. “O Pix hoje é usado por um número enorme de brasileiros. No ano de 2024, 148 milhões de pessoas usaram o sistema de pagamento. É um número extraordinário para um País em que o número de bancarização sempre foi muito baixo”, comemorou.
Questionado sobre as questões fiscais do País e a suspensão dos decretos que alteraram a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) determinados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, Meirelles alegou que o IOF é um imposto regulatório e, portanto, não arrecadatório. “Da maneira como estava sendo colocado, colocando no crédito e portanto, encarecendo esse serviço essencial para toda a população e para o meio empresarial, entidades públicas, não estava certo. É uma atitude importante e compreensível”, comentou.
Sobre a taxa da Selic, hoje a 15%, ele comentou que o Banco Central está no caminho certo e cumprindo sua função. “A projeção da inflação para este ano e para o ano que vem é de 5%, bem acima da meta, e a função básica do Banco Central é controlar a inflação. E controlar a inflação é a melhor forma de maximizar o emprego”, afirmou.
Meirelles também comentou sobre a polarização que toma conta do atual cenário político do Brasil. “A polarização distorce as eleições, ela faz com que as pessoas comecem a votar mais com o fígado do que com a cabeça. Então, isso faz com que propostas nacionais fiquem sendo olhadas de um lado ou de outro, o que não é positivo para o País. Esperamos que em 2026 haja alternativas que evitem essa polarização excessiva”, disse.
Quanto à questão das contas fiscais, o ministro mencionou ser uma situação preocupante já que a taxa de expansão da dívida pública está elevada, com previsão ruim para 2027. “Nós vamos ter que acertar a conta cedo ou tarde, como fizemos em 2016. Já passamos por isso e, de fato, é uma situação que vai ter que ser acertada”, comentou.
Nesse sentido, Meirelles comentou que mais importante do que nomes, se referindo a possíveis candidatos ao executivo nacional, é preciso que o próximo presidente já entre comprometido com o controle das contas públicas.
Na situação de uma possível reeleição do atual governo, ele ressaltou que é preciso aguardar e observar se haverá alguma mudança. “O presidente Lula já teve uma abordagem fiscal muito diferente no seu primeiro mandato, o segundo um pouco menos, mas também. Então, tudo pode acontecer e será uma necessidade, senão teremos um problema fiscal à frente”, alertou.
O ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi um dos convidados do seminário com lideranças do setor público e privado que o Grupo de Líderes Empresariais – Lide Minas Gerais promoveu nesta sexta-feira (4), na sede da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH).
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