Política

Integração da Região Metropolitana de BH foi ‘esquecida’ nas últimas décadas, afirmam especialistas

Especialistas apontam que problema passa despercebido pelos candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte
Integração da Região Metropolitana de BH foi ‘esquecida’ nas últimas décadas, afirmam especialistas
Medidas para a mobilidade urbana devem ser mais abrangentes do que a criação de um Sistema de Transporte Metropolitano | Crédito: Diário do Comércio / Arquivo / Alessandro Carvalho

A integração com a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RBMH) foi “esquecida” pelo contexto político nas últimas décadas e é uma das chaves para a mobilidade urbana de Belo Horizonte, afirma o coordenador dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil do Ibmec BH, André Prado.

Além disso, as necessidades para uma cidade com uma população cada vez mais envelhecida são apartadas da discussão sobre mobilidade urbana entre os candidatos, aponta o demógrafo e professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec, Pedro Cordeiro.

André Prado explica que Belo Horizonte tem várias deficiências históricas na mobilidade, com influência dos fluxos da RMBH, crescimento urbano desarticulado e uma estrutura “radio-concêntrica”, onde tudo converge para o centro da cidade, o que causa trânsito excessivo, principalmente de veículos de carga.

O professor lamenta que a única vez em que a mobilidade urbana metropolitana foi pensada de maneira integrada, foi na época da criação da própria RMBH, durante a ditadura militar, nos anos 1970. Depois disso, a metropolização perdeu força no pensamento político brasileiro com o passar dos anos.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Há tentativas de uma gestão integrada como o Sistema de Transportes Metropolitano assinado pelo governo estadual e as prefeituras de Belo Horizonte (PBH) e Contagem, mas Prado aponta que a medida deve ser mais abrangente.

“Ao invés de pensar nesse protocolo que trata de questões específicas, ter um órgão estadual que faça a gestão metropolitana integrada, permanentemente, com todos os municípios, não só da região metropolitana, mas também do colar metropolitano, com aqueles em volta da RMBH”.

Outra questão que desafia a mobilidade urbana da capital mineira passa despercebida do debate entre os candidatos à PBH: a acessibilidade das pessoas com mais de 65 anos, hoje, um quinto do eleitorado belo-horizontino.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a cidade tem um Índice de Envelhecimento (IE) de 91,12, acima do Estado (68,59) e do País (55,24). Um IE alto indica uma população envelhecida.

“Essa questão demográfica é pouco falada, tanto que, veja bem, temos aí com essa questão da 66/2023, que estende as reformas previdenciárias para municípios e entes, mas muitas vezes não vem acompanhado do debate sobre o próprio envelhecimento da população”, pontua Pedro Cordeiro.

“Fica na previdência, questão econômica, fiscal, mas acho que a população ainda não percebeu o grande número de aspectos de variáveis que o envelhecimento envolve e já é uma realidade”, completa.

Os professores ressaltam que Belo Horizonte tem pela frente um grande desafio de mobilidade urbana com uma população cada vez mais velha, com necessidade de garantir segurança e acessibilidade no transporte como um todo, para preservar o direito dos idosos, que contam com mais limitações de deslocamento, de participarem da vida na cidade.

Cidade em 15 minutos para mobilidade urbana

Outra questão abordada pelos professores do Ibmec para a mobilidade urbana de Belo Horizonte é o conceito de “cidade em 15 minutos”, em que o indivíduo, numa cidade descentralizada, conseguiria resolver suas necessidades com deslocamentos curtos.

André Prado diz que a ideia ainda é uma utopia para Belo Horizonte, até pela dificuldade de implementar o conceito em uma cidade já construída. Mesmo assim, ele explica que é possível construir outra realidade para a capital, uma cidade com estrutura econômica extremamente concentrada na região central, em um processo de longo prazo.

“Demanda ação de política pública para poder forçar isso um pouco e vai demorar algumas gerações. Mas a gente consegue fazer isso e é caminho para evitar deslocamentos excessivos na área metropolitana”, declarou. Quanto mais descentralizado, evita deslocamentos que geram todos os problemas urbanos relacionados à mobilidade”, finaliza Prado.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas