Momento é sombrio, admite Barroso

São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso avaliou na sexta-feira (21) que a democracia brasileira vive um momento sombrio, pediu que – independentemente das preferências políticas e do resultado das eleições – o País reafirme compromissos democráticos e disse ver na polarização do quadro eleitoral um desdobramento do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Ao identificar, durante participação em evento promovido pela XP, fatores que influenciam a eleição ao Planalto, o magistrado considerou que, embora tenha observado ritos constitucionais, o impeachment de Dilma despertou, nas pessoas que não aceitaram o processo, um ressentimento que se aprofundou a partir das denúncias contra seu sucessor, o presidente Michel Temer, e aliados. “O quadro de polarização decorre do processo de impeachment”.
Em paralelo, observou Barroso, os escândalos de corrupção que alcançaram praticamente todos quadros da política tradicional provocou desconfiança na classe política, levando a sociedade a aspirar por um “outsider”.
Por fim, emendou o ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve grande influência política por causa da memória positiva sobre os sucessos nas áreas econômica e social de seus dois mandatos, bem como a dissociação da crise mais recente aos erros cometidos por seu governo. “Isso não foi abalado pelas condenações penais”, assinalou.
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Por causa da independência exigida pelo cargo, Barroso ressalvou que os comentários não representam um julgamento político ou uma revelação de preferência partidária – disse que nem a esposa dele sabe em quem ele votou nas últimas eleições presidenciais. Evitou, assim, citar nomes de candidatos à sucessão presidencial.
Porém, após argumentar que, como juiz, é seu dever zelar pelas instituições, defendeu a reafirmação dos compromissos democráticos colocando duas proposições: quem perder as eleições deve respeitar a vontade de maioria; e quem vencer deve governar sempre com respeito às regras constitucionais e direitos fundamentais de todos.
“Quem ganhar as eleições, leva. Deve-se respeitar o direito das maiorias de governar”, afirmou Barroso, acrescentando que a democracia é o regime no qual as divergências são absorvidas civilizadamente.
Legitimidade – Por outro lado, cobrou que o próximo presidente, para que seu governo tenha legitimidade, terá que se pautar pelas regras do jogo democrático e respeito aos direitos de todos.
Ainda que tenha abordado “complexidades” do momento político, Barroso, durante a maior parte de sua apresentação, fez uma avaliação positiva do futuro democrático, bem como das conquistas acumuladas em três décadas de democracia no País.
“Apesar das angústias e incertezas dessa hora, a onda de negatividade não me pegou. Estamos às vésperas de um novo começo, de refundação do Brasil, que envolve a destruição de velha ordem. A fotografia do momento é sombria, mas o filme de 30 anos da democracia é um filme bom”, sustentou o magistrado.
Na avaliação positiva sobre o passado democrático, a referência de Barroso são três grandes conquistas dos últimos 30 anos: a estabilidade institucional; a estabilidade monetária; e, por fim, a inclusão social, com a retirada de 30 milhões a 40 milhões de pessoas da miséria.
“Em uma geração, fomos capazes de derrotar a ditadura, a hiperinflação e a pobreza extrema”, assinalou o ministro.
Já ao tratar do futuro, Barroso expressou uma visão otimista ao destacar que a sociedade brasileira deixou de aceitar “o inaceitável”, em referência à corrupção. “Essa é a energia que muda paradigmas e muda a história”, avaliou o ministro do Supremo. (AE)
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