Política

Com aporte de R$ 5 bi, Uberaba vai ganhar planta de fertilizante verde

Investimento em fábrica de insumo agrícola é o maior já anunciado na história do município do Triângulo Mineiro
Com aporte de R$ 5 bi, Uberaba vai ganhar planta de fertilizante verde
A Atlas Agro Brasil Fertilizantes vai construir fábrica no terreno que abrigaria a unidade de amônia | Crédito: Divulgação

Sexto maior Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais, Uberaba, no Triângulo, tem se destacado na atração de investimentos privados e na geração de emprego e renda. Nos últimos dois anos, a cidade já recebeu cerca de R$ 900 milhões em novos empreendimentos e criou cerca de 4.500 novos postos de trabalho.

Tudo isso, conforme a prefeita Elisa Araújo (SD), tem sido possível graças à adequação da infraestrutura local somada a atributos já existentes, como a localização privilegiada e diferenciais da administração pública que desburocratizam os processos. A lei de incentivo municipal e o licenciamento ambiental até classe 6 são alguns deles.

Elisa Araújo é a primeira mulher a comandar o Executivo municipal de Uberaba em 200 anos. Natural de Brasília (DF), ela é formada em Arquitetura e Urbanismo e especialista em gestão de negócios. Até então atuava no setor industrial e foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) – Regional Vale do Rio Grande.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, a prefeita, que ocupa seu primeiro cargo público, disse que chega à metade do mandato com grande maturidade, inclusive, no campo pessoal. Falou sobre a pujança econômica do município, projetos há muito aguardados pela população como a planta de amônia, o gasoduto e a Zona de Processamento de Exportação (ZPE).

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Ao detalhar os investimentos atraídos nos últimos meses, ela falou da importância da infraestrutura para viabilizá-los e destacou o maior aporte da história do município, que acaba de ser anunciado: a instalação de uma fábrica de fertilizante verde pela Atlas Agro Brasil Fertilizantes, de origem norueguesa.

Sob cifras de R$ 5 bilhões, a expectativa é que a construção da unidade gere 2 mil postos de trabalho e na fase operacional, outros 560 empregos diretos e indiretos sejam criados na fábrica. O protocolo de intenções já foi assinado e as obras estão previstas para 2024.

Qual o balanço dos primeiros dois anos de sua gestão?

Eu destacaria que atingimos uma grande maturidade, até pessoalmente. Passei por momentos muito difíceis no início, até em função da pandemia e por assumir uma nova gestão. É natural que um governo com propostas disruptivas traga algumas dificuldades. Mas neste processo também tivemos que romper um ciclo cultural, dada a experiência que trago da iniciativa privada e que me permite buscar uma gestão mais eficiente e tecnológica e simples. Encontramos um sistema muito atrasado, mas não nos intimidamos e traçamos um plano por meio de um planejamento estratégico que vem sendo aprimorado dentro da realidade que temos. Encontramos contratos mal feitos, prédios públicos precisando de manutenção e muitos desafios de fluxos de processos. O que fizemos foi organizar e, ao final dos dois primeiros anos, minha percepção é que conseguimos fazer esse mapeamento. E isso acontece na maioria das gestões. Nesta metade do tempo há uma virada de chave e agora com uma percepção maior do todo e com uma maturidade maior conseguiremos avançar. Já temos uma noção de onde queremos ir e o que podemos deixar de legado.

Quanto somam os investimentos atraídos até agora? O que é preciso ser feito para ampliá-los ainda mais?

Uberaba tem um polo industrial consolidado e isso também garante a atração de investimentos, considerando que existe uma infraestrutura adequada. Mas quando assumimos a Prefeitura, identificamos alguns projetos que estavam iniciados, mas sem projeto. No Distrito Industrial IV, por exemplo, havia empresas incentivadas e contempladas, mas faltava infraestrutura para a instalação. É premissa de qualquer empresa ter via, iluminação e passagem de abastecimento para que ela se instale. Buscamos os recursos e viabilizamos essa infraestrutura. Porque anunciar um investimento só por anunciar pode até ser bom num primeiro momento, mas depois você acaba perdendo a credibilidade. Recebemos documentos e informações estratégicas e confidenciais da gestão anterior para darmos prosseguimento. Entramos em contato com todas as empresas, algumas prosperaram, outras não e algumas só tinham dado um primeiro passo. E desde então, já somamos R$ 900 milhões, com destaque para a Crown Embalagens, que representa o maior volume, totalizando R$ 680 milhões. A empresa já tinha a intenção de vir para a cidade em função do Grupo Petrópolis, mas não tinha feito nada de concreto. Iniciamos o processo com os trâmites burocráticos e o licenciamento ambiental e em incríveis 77 dias após o contato, eles tiveram a aprovação e iniciaram as obras. Estão operando desde abril. Foi uma obra rápida porque o município deu um suporte rápido. Uberaba tem uma lei de incentivo que dá celeridade a esse processo, advinda da gestão anterior, e que se tornou modelo para outros municípios. A partir dessa lei de incentivo, temos conseguido muitos investimentos. Fruto disso é que estamos conseguindo uma geração de emprego significativa e ocupamos o segundo lugar em geração de emprego e renda por meses consecutivos em Minas Gerais. Perdemos apenas para a Capital, devido ao volume. Temos quase 4.500 empregos gerados nesses um ano e dez meses de governo.

Como está a situação de Uberaba em relação a áreas disponíveis para implantação de indústrias? Há um projeto de um mini distrito?

É o mini Distrito Industrial Alfredo Freire, que conta com lotes menores. A ideia já existia, mas não o projeto nem o dinheiro para executá-la. Agora já temos o dinheiro e o projeto está sendo licitado. Por se tratar de lotes menores não estipulamos segmentos e estamos atendendo a quem já estava esperando por áreas na cidade. Também criamos um Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico, que está sendo abastecido com recursos que as empresas pagam em contrapartida a doações de áreas e hoje temos mais de R$ 4 milhões. Esses recursos vão nos permitir implantar o Distrito Industrial V. No Distrito Industrial III temos uma grande área da Codemge que está sendo destravada e em breve também será disponibilizada. E, por fim, temos um condomínio logístico que será anunciado em breve juntamente com a iniciativa privada.

Sobre a planta de amônia. Foi assinado protocolo de investimentos de R$ 5 bilhões para a instalação de uma empresa de fertilizantes nitrogenados no terreno que abrigaria a unidade da Petrobras?

Trata-se do maior investimento da história em Uberaba. São R$ 5 bilhões que a empresa norueguesa Atlas Agro Fertilizantes vai produzir nitrogênio na cidade, ou seja, um fertilizante verde. A empresa é formada por funcionários que participavam da Yara Fertilizantes e conta com um viés interessante, ecologicamente correto e que não vai utilizar o gás ou qualquer outra fonte de energia poluente. Vai usar basicamente água e ar para a composição química do fertilizante. Eles têm um pool de produtos, mas a ideia principal do negócio na cidade será o nitrogênio. A Atlas buscava no Brasil um lugar interessante do ponto de vista logístico e que tivesse o agronegócio como DNA, como Uberaba tem o agronegócio entre suas principais atividades, deu certo. Quando recebemos do governador a cessão por 20 anos da área que abrigaria a planta de amônia, que quase foi a leilão por duas vezes, e anunciou, o investidor nos procurou. Já estamos em contato há alguns meses e temos ressaltado as facilidades de Uberaba, que hoje é um dos poucos municípios que conta com a liberação do licenciamento ambiental até classe 6. Isso também foi um facilitador.

O novo investimento dispensa a construção do gasoduto, que foi o grande entrave para a planta de amônia sair do papel. A cidade descarta de vez o projeto? 

De fato, a planta de amônia só funcionaria se viesse um gasoduto. Mas temos que pensar nele independentemente dela. O gasoduto traz desenvolvimento. Existe um projeto que traz o gasoduto do interior de São Paulo para o eixo Brasil Central que passa por Uberaba e dentro dessa perspectiva a gente tem que lutar para que ele ocorra, porque o desenvolvimento ocorrerá junto. Por isso, eu nunca parei de trabalhar por sua atração, mas em paralelo fui conversando com investidores de outros setores com o objetivo de trazer emprego e renda para a cidade. E agora o gasoduto é uma realidade muito próxima. Não posso garantir, mas ela existe. Tenho discutido o projeto com todos os atores, estive no ano passado com o governador de São Paulo e ele também tem interesse que prospere, assim como Minas Gerais. Temos duas vertentes: o gasoduto de Paulínia e o gasoduto de São Carlos, ambos com estudos que os indicam como a melhor opção. Mas o investidor que for trabalhar o projeto é que vai saber qual será. A passagem do duto já está garantida pelo governo federal e eu espero que o novo governo também entenda o projeto como prioridade. Já tive notícias que há o interesse e estarei junto com o governador na viabilização do mesmo para que possamos atrair uma planta de amônia e tantos outros tantos investimentos que serão atraídos em sequência.

Quais são as perspectivas com a entrada de um novo governo federal?

Espero que a gente consiga dar sequência aos projetos. Uberaba é uma cidade muito importante para Minas Gerais e eu tenho uma responsabilidade muito grande por vir da iniciativa privada e por ser a primeira mulher a assumir a gestão da cidade em 200 anos. Espero que possamos dar continuidade a tudo o que foi construído com o atual governo. Acredito que com bastante diálogo vamos avançar e espero que sejam boas as execuções.

A Prefeitura registrou queda na arrecadação com a desoneração do ICMS para combustíveis, energia e telecomunicações? Como equalizou as contas?

Tivemos queda, mas também uma reposição por parte do governo do Estado, que já repassou valores em duas parcelas. Ainda não temos o balanço do impacto, pois o mesmo será finalizado em dezembro, quando saberemos a perda real. Quando temos cortes, temos que administrar o custo e tivemos que fazer contenções.

Quais são as atualizações sobre o projeto da ZPE?

Nossa ZPE já tem acesso, portaria, fachada e isso é muito importante, porque gera credibilidade ao investidor, que agora já sabe que vai sair do papel. Fizemos o projeto, buscamos os recursos e estamos executando. Recentemente assinamos a ordem de serviço para a segunda etapa das obras de infraestrutura, o que é mais uma garantia de que, após esses oito meses previstos, a ZPE vai sair e, consequentemente, as empresas vão chegar. No DI IV tivemos um empresário que iniciou as obras de construção paralelamente às de infraestrutura, porque confiou que sairia do papel. Isso é credibilidade. Um governo sério e que fala e executa, faz toda a diferença. As obras serão entregues em oito meses e já temos algumas empresas no gatilho.

Podemos esperar alguma se instalando na área alfandegada em 2023?

Espero que sim. Mas é importante ressaltar que estamos resgatando a credibilidade de um projeto que já tinha perdido, porque se arrastava desde 2012. E quando você precisa resgatar a credibilidade o trabalho é triplicado, porque precisam ter confiança de que vai acontecer. Nós avançamos primeiramente na parte burocrática, que seria a mais demorada. E como somos um governo com vontade de botar as coisas em prática, não importa de quem seja o projeto, o negócio é executar porque ele vai ser bom para Uberaba e vai deixar um legado importante para o nosso desenvolvimento econômico. Os empresários já estão confiantes, principalmente com a assinatura dessa segunda etapa. Agora vamos avançar ainda mais rápido na instalação das empresas.

O aeroporto de Uberaba foi recentemente concedido à iniciativa privada no último leilão do governo federal e vai receber investimentos de R$ 267,5 milhões em investimentos. Quais são as expectativas e qual o potencial do terminal? O projeto batizado pela antiga gestão de Intervales será contemplado?

A concessão dos aeroportos não tem a ver com o projeto Intervales, mas tem a ver, digamos assim. O Intervales se viabiliza, de verdade, se desativarmos os aeroportos de Uberaba e Uberlândia, porque um aeroporto internacional de cargas e passagens é um novo hub no Brasil. É importantíssimo, um grande projeto, mas precisamos entender sua viabilidade e a real aplicação disso. E não depende só da prefeita Elisa, mas também do prefeito Odelmo (Leão) e de um investidor que esteja disposto a avançar e investir para ter retorno. Temos um exemplo clássico em Belo Horizonte com os aeroportos da Pampulha e Confins. Pampulha foi basicamente desativado e opera apenas voos privados para que Confins se viabilizasse e se consolidasse como um hub. O mesmo ocorreu em Campinas. O Intervales seria como Viracopos, ou seja, precisaria que os outros dois aeroportos da região fossem desativados por causa do volume de passageiros. E para isso seria preciso uma ação política. Recebi da gestão anterior um estudo de viabilidade que não contempla com tanta propriedade essa viabilidade, por isso, não discordo do projeto, mas acredito que ele poderia se viabilizar em longo prazo e a partir de uma discussão política que passa pela empresa que ganhou a concessão. O projeto também precisaria contemplar os modais ferroviário e rodoviário para garantir uma robustez de volume de produção.

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