Prefeito de Capitólio assume presidência da Alago

A Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago) já conta com um novo presidente para o biênio 2025/2026. A nova diretoria, formada por oito membros, entre eles o prefeito da cidade de Capitólio, Cristiano Silva, que assume como novo gestor da associação, tomou posse, na semana passada. Silva substitui Iza Menezes, ex-prefeita de Nepomuceno, no comando da entidade que representa 34 municípios da região do Lago de Furnas, com sede em Alfenas, no Sul do Estado. Já empossado, Silva conversou com o Diário do Comércio sobre os desafios e as novas propostas, sobretudo de investimentos e melhorias para a região.
Vice-presidente na gestão anterior, o prefeito de Capitólio já se considera familiarizado com as questões e demandas da região e conta que vai trabalhar em cinco pautas principais ao longo de sua gestão.
Com 3,4 mil quilômetros de extensão, o lago, além de contribuir com a geração de energia da hidrelétrica de Furnas, é um importante ponto turístico mineiro e tem papel relevante na economia das cidades próximas. Além do turismo, pequenos municípios do entorno vivem da agricultura e da pecuária que dependem das águas do lago. Mais recentemente, a piscicultura também se tornou um destaque. “A criação de tilápia tem crescido muito na nossa região”, pontuou.
Para esta questão, uma das principais pautas da nova gestão da Alago é a manutenção da ‘Cota 762’, que trata da cota mínima do nível de água acima do mar para garantir o múltiplo uso das águas. “A gente luta para que ela seja mantida mesmo na época da seca em que há uma baixa no nível do lago. Sabemos que a liberação (das águas) é necessária, para a geração de energia, mas quando o nível fica abaixo de 762 metros, várias cidades sofrem”, afirmou Silva.
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Segundo ele, trechos ficam intransitáveis e a redução do nível das águas chega a prejudicar o setor agropecuário. “Nossa luta é que o governo federal altere definitivamente a cota de 750 para 762 metros acima do nível do mar”, explicou.
Atualmente, a cota mínima de 762 metros, considerada ideal para garantir a operação da usina e ao mesmo tempo o uso econômico do lago, está definida apenas na constituição do Estado. “Queremos que o governo altere este valor de forma defintiva”, sustentou o prefeito.
Outra dependência que a região possui com a represa é o papel que ela cumpre no transporte público e de carga, ligando as cidades vizinhas. São 11 balsas que fazem o transporte de 600 veículos entre utilitários e de passeio por dia e interligam as cidades.
A troca destas balsas é, inclusive, outro ponto que ele cita como prioridade da nova gestão. “A gente vai continuar cobrando a Eletrobras para assumir esta responsabilidade, de trocar as balsas ou de construir pontes. Hoje, é Furnas que faz manutenção ou pequenos reparos, mas já não são suficientes”, explicou o presidente da Alago.
Atualmente, a maioria delas é administrada pelos municípios e algumas já foram até terceirizadas, mas Silva defende que o ideal seria a Eletrobras assumir, até para padronizar o serviço e a manutenção.
Outra pauta levantada pelo atual presidente é que a região faça maior uso da verba destinada à revitalização das bacias hidrográficas da Eletrobras. O decreto editado em 2021 pelo então presidente Jair Bolsonaro, regulamentou a obrigação de revitalização das bacias hidrográficas do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba e daquelas localizadas na área de influência dos reservatórios das usinas hidrelétricas de Furnas, as quais o lago se insere.
De acordo com a lei, que previu uma série de obrigações após a desestatização, as empresas que vencerem o leilão deveriam aportar, entre outras obrigações e recursos, R$ 230 milhões anuais em projetos de revitalização dos recursos hídricos das bacias hidrográficas na área de influência dos reservatórios das usinas hidrelétricas de Furnas.
Segundo o prefeito de Capitólio, nenhum município da região ainda conseguiu usar este recurso. A falta de representatividade das cidades no comitê gestor impede, conforme o prefeito, que elas tenham melhor conhecimento sobre como aproveitar o recurso. “O comitê gestor desse fundo não possui nenhuma participação dos municípios. Então, a gente fica sem saber a forma correta de elaborar os projetos. Vamos cobrar um pouco mais sobre isso”, afirmou.
O presidente pretende com estas verbas apresentar não só projetos de saneamento básico, em que muitas cidades ainda não possuem, como a possibilidade de usá-los para outros fins como culturais e turísticos.
Entretanto, no relatório de prestações de contas do ano de 2024, do comitê gestor do programa de revitalização dos recursos hídricos das áreas de influência das usinas hidrelétricas de Furnas (CPR Furnas), o comitê apresenta que “Minas Gerais é o estado com maior número de municípios beneficiados naquele ano, principalmente pela Expansão da Rede Telemétrica do Instituto Nacional de Meteorologia, o Inmet”.
Ainda conforme o relatório da Secretaria Nacional de Segurança Hídrica, vinculado ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o Estado tem muitos municípios e grande extensão territorial, daí receber os maiores investimentos.
A terceira pauta principal da nova diretoria da Alago é a luta pela criação do Fórum Náutico Mineiro e pelo desenvolvimento da carta náutica do Lago de Furnas. Com estas formalizações, segundo o prefeito, seria possível internacionalizar a navegação do Lago de Furnas. “Hoje temos uma navegação interna, pontual em poucas cidades. Não tendo o Fórum Náutico, não há uma área específica que trate sobre a navegação do lago. E sem a carta, é como se não tivéssemos um Google Maps do lago. É preciso que o navegador saiba para onde ele pode navegar, onde ele pode entrar, onde há areia”, explicou Silva.
Outra pauta que o novo presidente considera importante é a implementação de projetos de saneamento básico para as cidades do entorno do Lago. “Várias não possuem tratamento de esgoto”, revelou. A ideia da Alago é pleitear o tratamento junto ao Ministério Público ou via recurso do programa de revitalização dos recursos hídricos.
Por fim, ele cita a preocupação com as demolições de construções irregulares no entorno do lago, sobretudo, na cidade que administra, Capitólio. Cristiano Silva conta que quando a hidrelétrica de Furnas foi construída e formou-se o lago, foi estipulado que não poderia haver construções abaixo da cota de 769 metros a nível do mar.
Porém, segundo o prefeito, por falta de fiscalizações no passado, há construções irregulares no entorno do lago. “Só em Capitólio, são 100 residências e a Eletrobras já conseguiu na justiça o direito de demoli-las ”, questionou. Para este caso, ele defende que seja criado um protocolo de intenções em que a propriedade particular pagaria uma compensação para regularizar a situação.
Além do problema pessoal de cada proprietário, o prefeito pondera a questão do resíduo gerado pela demolição e os problemas com o trânsito. “Muitas cidades não têm onde alocar este entulho além da questão do trânsito que acaba prejudicando as vias da região, impactando negativamente a economia local”, defendeu.
Lago de Furnas alimenta cinco hidrelétricas da região
Criada no início dos anos 1960, durante o governo de Juscelino Kubitscheck, o lago, o maior artificial do Brasil, atendia a construção da hidrelétrica de Furnas. Na época, a represa criada inundou uma área de 1,4 quilômetros quadrados (km²) e hoje armazena 22,95 trilhões de litros de água, com volume útil de 17,2 trilhões. As águas do lago alimentam ainda as turbinas de cinco hidrelétricas, ao longo do Rio Grande.
Já a Alago, há mais de 30 anos trabalha com foco no desenvolvimento sustentável e na preservação dos interesses regionais.
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