Presidente da Pfizer no Brasil é convocado pelo Senado para CPI da Covid

Brasília – A CPI da Covid do Senado aprovou ontem requerimentos de convocação da atual presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, e do ex-presidente do laboratório Carlos Murillo para explicar as tratativas com o governo federal para a venda de vacinas ao Brasil.
Os representantes do laboratório norte-americano devem ser questionados a respeito de documentos enviados apara oferecer o imunizante ao governo ainda em meados do ano passado e sobre a demora para a formalização do acordo, que só ocorreu neste ano. Na semana passada o País recebeu o primeiro lote com 1 milhão de doses.
Outra provável questão a ser abordada com os executivos será entrevista do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten à revista Veja, na qual ele disse ter sido procurado por representantes do laboratório ante a falta de andamento das tratativas da equipe do Ministério da Saúde comandada à época por Eduardo Pazuello.
Wanjgarten também foi convocado a depor. Tanto ele quanto os representantes da Pfizer devem comparecer à CPI na terça-feira (11).
Além deles, também foram convocados o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e dirigentes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan, assim como representante da União Química, laboratório no País que representa a vacina russa Sputnik V.
Guedes – Apesar de declarações nos últimos dias, os integrantes da CPI não colocaram em votação um requerimento de convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para comparecer ao colegiado.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse ser preciso preservar a imagem da economia brasileira no exterior como justificativa para o fato de o colegiado não ter votado a convocação.
Em entrevista coletiva, Aziz afirmou que não quer defender Guedes, mas citou que o ex-ministro da
“Estamos seguindo uma cronologia, não estou defendendo o Paulo Guedes, tenho minhas divergências em relação a ele e se aprofundam cada vez mais”, disse o presidente da CPI.
“Mas eu acho que agora, neste momento, nós temos que preservar a imagem brasileira economicamente fora do País”.
Aziz acrescentou, sem dar detalhes, que “num momento certo, acho sim, vamos ter que chamar todo mundo”.
Ao lado de Aziz, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que o problema de Guedes “não é efetivamente esta coisa do recurso, o problema do ministro Paulo Guedes é que ele tem feito declarações estapafúrdias”.
“Essas declarações soam para a gente uma autoconvocação dele, eu não sei se o estado de espírito dele é esse”, destacou.
Na véspera, Renan e o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), defenderam a convocação de Guedes após o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ter relatado que havia um distanciamento da equipe econômica no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
A expectativa inicial, segundo Randolfe, era que o pedido de convocação de Guedes fosse votado ontem, logo após o depoimento de Nelson Teich. Contudo, isso não ocorreu. (Reuters)
Cloroquina motivou a demissão de Teich
Brasília e São Paulo – O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse ontem à CPI da Covid no Senado que deixou a pasta ao perceber que não teria autonomia, e citou discussões dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina como um dos motivos para seu pedido de demissão.
Teich confirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) o desejo de Bolsonaro de adotar a cloroquina como protocolo no tratamento da Covid-19, mas negou que tenha recebido uma ordem direta do chefe do Executivo para o uso do medicamento, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e pode provocar efeitos colaterais.
“As razões da minha saída do ministério são públicas. Elas se devem, basicamente, à constatação de que eu não teria a autonomia e a liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19”, disse o ex-ministro à CPI.
“Enquanto a minha convicção pessoal, baseada em estudos, era de que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberar…. Existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina (CFM), que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. Isso aí foi o que motivou a minha saída”, completou.
Ao responder comentário do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que considerou um erro o presidente Jair Bolsonaro fazer apologia à cloroquina, inclusive mostrando a caixa do remédio em lives, Teich reforçou a necessidade de cuidado sobre o tema.
“Eu acho que são duas situações distintas: uma é o presidente mostrar a caixa, por exemplo. E a outra é o remédio funcionar ou não”, afirmou.
Já em resposta ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), que atuava na desconstrução, segundo ele, da narrativa que tentava criminalizar a prescrição do tratamento precoce, Teich negou ter recebido ordens de Bolsonaro ou de algum de seus ministros para instituir o uso de cloroquina.
Em outra ocasião, ao considerar “inadequada” a prescrição de medicação sem eficácia comprovada a esta altura, com as informações já obtidas sobre a doença, Teich reforçou a necessidade de se ater aos princípios científicos e à metodologia e a qualidade dos estudos.
Rebanho – Senadores oposicionistas apostaram em perguntas sobre a cloroquina e também sobre a tese da chamada “imunidade de rebanho”, para apurar se Bolsonaro e seu governo apostaram nessa premissa.
O senador Humberto Costa (PT-PE) citou pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo segundo a qual, a partir de falas do presidente, decretos e atos normativos, o governo teria adotado a tese de enfrentar a pandemia permitindo a “transmissibilidade mais ampla possível para que fosse gerada a chamada imunidade coletiva, natural ou de rebanho”.
Embora tenha sustentado que, na época em que esteve à frente do ministério, a tese não tenha sido discutida ou colocada como estratégia, Teich evitou comentar o estudo, mas criticou a ideia da imunização por infeccções.
“Essa tese de imunidade de rebanho, em que você adquire a imunidade através do contato, e não da vacina, isso é um erro. Então, a imunidade você vai ter através da vacina, não através de pessoas sendo infectadas. Então, isso aí não é um conceito correto.”
Teich não chegou a completar um mês à frente da pasta e neste período, relatou, também não teve “muito contato” com o ministro da Economia Paulo Guedes. Afirmou, por outro lado, que também não teve qualquer discussão sobre dificuldades de orçamento para o ministério. (Reuters)
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