Privatização da Petrobras já está “no radar”, diz Jair Bolsonaro

Brasília – O governo federal estuda enviar um projeto de lei ao Congresso que visa à venda de ações e a privatização da Petrobras, afirmou ontem à Reuters o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE). O assunto foi revelado inicialmente pela CNN Brasil e mexeu ontem com o mercado. A intenção, citada pela emissora, era que o governo vendesse ações por projeto que passaria por maioria simples no Legislativo, o que poderia mudar a estrutura societária da estatal.
Entretanto, segundo Bezerra, ainda não está certo que a proposta seguirá para o Congresso ainda neste ano. “Não tem decisão tomada. Existem estudos a respeito”, disse ele à Reuters. “Primeiro precisamos avançar com os Correios (privatização). Se lograrmos êxito como espero, aí acho que ótima para entrar na pauta de prioridades (a venda de ações da Petrobras)”, acrescentou.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro havia confirmado, em entrevista para uma rádio de Mato Grosso do Sul, que a privatização da Petrobras “entrou no radar” do governo, mas disse que não é um processo imediato.
“Isso entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é como alguns pensam, que é pegar a empresa botar na prateleira e amanhã quem der mais leva embora. É uma complicação enorme. Ainda mais quando se fala em combustível. Se você tirar do monopólio do Estado, que existe, e botar no monopólio de uma pessoa particular, fica a mesma coisa ou talvez até pior”, disse Bolsonaro à rádio Caçula, de Três Lagoas (MS).
Essa é pelo menos a segunda vez que o presidente levanta a possibilidade de privatização da petroleira, um tema que estava nos planos do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas não tinha sido analisado por Bolsonaro até agora. O aumento dos combustíveis, no entanto, levou Bolsonaro a falar nesse assunto.
Bolsonaro já disse neste mês que «tem vontade» de privatizar a Petrobras e acrescentou que avaliará com a equipe econômica o que pode fazer a este respeito.
A Petrobras tem sido alvo de discussão política à medida que os custos de energia ajudaram a levar a inflação ao consumidor no País a dois dígitos, prejudicando a popularidade do Bolsonaro antes da eleição presidencial do próximo ano.
Bolsonaro já se opôs anteriormente à privatização da Petrobras, por considerar a empresa «estratégica» para os interesses nacionais do Brasil. No entanto, mesmo com seu apoio, alguns participantes do mercado acreditam que um processo de privatização seria difícil, já que precisa haver mudança na legislação a ser aprovada pelo Congresso Nacional.
O presidente reclamou ainda na entrevista das críticas que tem recebido por conta da inflação em alta no País, mas reafirmou que não vai interferir em preços. “Eu não sou malvado, eu não quero aumento de combustível, mas é uma realidade. O mundo todo está sofrendo com a economia neste pós-pandemia”, disse. “Eu não quero aumentar o preço de nada, mas eu não posso interferir em nada”, avisou.
Ações – O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que bastou frase do presidente Jair Bolsonaro sobre privatização da Petrobras mais cedo para as ações da estatal subirem, defendendo nesse contexto a destinação de R$ 30 bilhões aos mais pobres via Auxílio Brasil.
“Não adianta ficar uma placa dizendo que é estatal e o petróleo não sai do chão e quando sai, sai com corrupção”, disse Guedes em evento no Planalto, pontuando que essa extração tem que ser mais rápida.
“Bastou o presidente dizer ‘olha, vamos estudar isso aí, isso é um problema’ que o negócio sobe 6%. De repente são mais duas, três semanas, se isso acontecesse, são R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões) criados, isso não existia”, afirmou ele. “Não dá para dar R$ 30 bilhões para os mais frágeis num momento terrível como esse se basta uma frase do presidente para aparecer R$ 100 bilhões, brotar do chão de repente? Por que nós não podemos pensar ousadamente a respeito disso?”, complementou.
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