Saída de Custódio Mattos da secretaria de governo é criticada na ALMG

Logo que foi anunciada na última segunda-feira (19) sua demissão pelo governador Romeu Zema, o secretário de Estado de Governo, Custódio Mattos (PSDB), disse que não tinha mágoas e que a sua saída ajudaria na articulação para aprovar o projeto de recuperação fiscal na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A nota oficial do governo só o agradecia pelos serviços prestados. Mas os discursos no plenário da Assembleia, no dia seguinte, mostraram que a saída não foi tão indolor ou articulada como parecia.
Deputados estaduais do PSDB, que compõem a base do governo Zema, criticaram a forma como Custódio foi dispensado e falaram em traição. Um deputado do Novo, Bartô, colocou mais lenha na fogueira ao dizer que “não conseguia esconder a alegria” pela decisão.
Zema chamou o secretário no fim da tarde de segunda-feira para comunicá-lo. A informação vazou durante o dia e teria apressado o anúncio, segundo fontes. Custódio havia acabado de sair de uma reunião de horas com forças estaduais de segurança.
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Depois da primeira nota de duas linhas, o governo divulgou outra, seguindo a repercussão no Legislativo, em que diz que a participação de Custódio fora “essencial para tocar projetos importantes”, entre eles, a aprovação da reforma administrativa. Nenhuma explica o motivo da decisão.
À reportagem Custódio disse que não quer falar sobre o assunto e que o importante é ver o governo assinar o plano de recuperação fiscal com a União. «Qualquer coisa, independente de sentimentos ou condutas pessoais, que vem atrapalhar isso vem no mau sentido. O que eu quero é dar minha contribuição, como procurei dar, não atrapalhando.»
Com 77 deputados, a ALMG tem quatro blocos: um de base do governo (21), um de oposição (16) e dois independentes (20 deputados cada). O governo Zema é apoiado por nove legendas: Novo, PSDB, PSC, Avante, Cidadania, Solidariedade, PHS, PP e PSB.
Privatizações – A previsão do governo é apresentar ainda neste semestre a proposta de recuperação fiscal, que, além de ajustes, abrange privatizações de estatais como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).
Principal pauta do governo, a avaliação é a de que a desestatização tenha dificuldades para avançar na Assembleia.
Líderes de diferentes partidos da Casa avaliam que a relação ruim com o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), foi o que mais pesou na queda de Custódio. Agostinho nega.
Pesaram ainda reclamações de outros parlamentares levadas ao Executivo e o eco da insatisfação de grupos do Novo. No plenário, o deputado Bartô disse que nunca sentou com o secretário «em respeito a todos os apoiadores do Novo de Juiz de Fora» e à revolta deles.
“Pelo fato de eu já estar trabalhando desde que ele entrou para poder tirar ele do governo, isso enfraquece ele e, de fato, o trabalho dele deixou a desejar. A gente vê o pessoal colocando uma posição como se o Novo estivesse contra o PSDB, ou fazendo alguma retaliação, sendo que o trabalho dele era questionado por todos os lados”, afirmou Bartô a jornalistas.
Ex-prefeito de Juiz de Fora, ex-deputado estadual e federal, e secretário na gestão Aécio Neves, Custódio Mattos sempre foi defendido como um nome técnico e não partidário no governo Zema.
O presidente estadual do PSDB, o deputado federal, Paulo Abi Ackel, afirmou que o partido é independente e não faz parte da gestão Zema. Custódio foi o segundo secretário a deixar o governo, mas o primeiro por decisão política. Em fevereiro, o então secretário da Saúde, Wagner Eduardo Ferreira, saiu por assuntos pessoais.
Para João Leite (PSDB), a queda de Custódio foi um acerto de bastidores. Ele criticou o fato de que nem o líder do governo na Assembleia, o tucano Luiz Humberto, nem a base foram comunicados.
“Depois de sete mandatos de deputado, estou vendo um partido que se chama Novo fazer uma coisa tão antiga da política traiçoeira”, disse Leite. “Nesse momento vai ser difícil o governo reconstruir essa ponte que ele acaba de destruir na Assembleia Legislativa.”
Há um consenso entre deputados de que Zema ainda não conseguiu construir um diálogo eficiente com a Casa. Dois dias depois da queda de Custódio, a Assembleia aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do orçamento impositivo – os únicos votos contra foram dos três deputados do Novo.
“É um governo tensionado pelo discurso eleitoral e o partido Novo, e na prática tendo que construir uma base de apoio, para aprovar projetos que serão muito impopulares no segundo semestre. A tensão que o governo vive é essa”, avalia o líder da oposição, André Quintão (PT).
Substituto – Apesar de ainda não confirmado oficialmente, o substituto de Custódio será o deputado federal Bilac Pinto (DEM). Zema e o vice-governador Paulo Brant levaram o nome para o vereador de Belo Horizonte Mateus Simões, um dos principais nomes do Novo em Minas Gerais, dizendo que sua visão poderia ser importante para o Estado.
Simões foi o responsável pela aproximação com Bilac, secretário nos governos dos tucanos Aécio Neves e Antônio Anastasia. A visão que agradou a Zema foi seu alinhamento com pautas econômicas mais liberais, como ser favorável à redução da estrutura estatal. Bilac votou a favor da PEC da liberdade econômica.
Segundo a assessoria, o deputado ficou lisonjeado, mas ainda está avaliando o convite. Caso aceite, ele pode ser substituído por Marcus Pestana (PSDB). (Folhapress)
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